PPRT: ‘Não tem fábrica da Taurus no Complexo da Penha ou em outra favela’, diz DJ Rennan da Penha

No último episódio do PPRT, Rennan da Penha fala sobre a criminalização do funk e como a periferia faz a cultura girar.

PPRT: ‘Não tem fábrica da Taurus no Complexo da Penha ou em outra favela’, diz DJ Rennan da Penha

Rennan da Penha é o funk. É assim que ele se define, mas é também como nós o definiríamos. Jovem, preto e cria do Complexo da Penha, agrupamento de favelas da zona norte do Rio de Janeiro, Rennan é DJ desde 2008. Levou dez anos para suas músicas ganharem o Brasil. Foi quando fundou o Baile da Gaiola, que chegou a reunir 25 mil pessoas e foi o primeiro baile a ter uma edição LGBT+, que Rennan despontou como o maior DJ de funk do país. Então, ele foi preso.

Em um processo que buscava criminalizar o funk e o Baile da Gaiola mais do que a Rennan, o Ministério Público do Rio de Janeiro argumentou que o DJ – que fazia até cinco shows por noite e tinha cachê de R$ 15 mil por apresentação – dividia a carreira com a função de olheiro do tráfico, recebendo R$ 300 por semana. As evidências eram uma foto de Rennan segurando uma arma de madeira durante o carnaval de 2014, postada por ele próprio nas redes sociais, e imagens dele cumprimentando com um aperto de mão um traficante da região – que, o DJ destaca, está lá até hoje. “E quem apertou a mão do Sérgio Cabral, é o quê? Quem é mais bandido?”, Rennan perguntou no dia em que nos encontramos para essa entrevista.

Para o estado, pelos políticos ou pela polícia, o funk está longe de ser cultura. Em uma conversa sobre a criminalização do ritmo, Rennan explica o papel de sustento familiar que os bailes funk representam na favela e como o estado age para associar a cultura periférica ao crime. O problema chega de fora, Rennan garante – e só está na favela porque é lá que o estado quer que esteja. “Até onde eu sei, não tem uma fábrica da Taurus nem de nenhuma outra arma no Complexo da Penha ou em alguma outra favela. Não tem plantação de cocaína, não tem plantação de maconha. Não tá na favela o problema”, afirma o DJ.

A favela, pelo contrário, é uma fábrica de cultura. Nas palavras de Rennan, é a favela que faz “girar a cultura legal” do Brasil. Isso quer dizer que se a periferia parar de criar música, moda e dança, os não-marginalizados ficam sem referência. “Qual ritmo saiu da playboyzada e tá aí até hoje? Me fala um!”, provoca. Mesmo sem nunca ter tido aula de música, Rennan criou batidas que receberam prêmios como melhor canção e melhor produtor no Multishow. Preso, foi indicado ao Grammy Latino, maior prêmio do continente. Após deixar o sistema carcerário, pensou em projetos musicais para reduzir a pena. Quando perguntado sobre qual Brasil quer, Rennan disse querer decência, não churrasco. Disse querer projetos musicais e de esporte na sua quebrada: “quantos Adriano Imperador têm na Penha? Quantos Rennan da Penha não tem lá?”.

Rennan da Penha é o último entrevistado do PPRT, série de conversas sobre política, arte e cidadania do Intercept.

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