Com um cachimbo em uma mão e um isqueiro na outra, Renato Oliveira, aos 32 anos, reflete sobre sua atual condição de vida, sendo 11 deles frequentando a cracolândia, em São Paulo.“Ter pessoas que gostam da gente é um luxo. E eu tenho esse luxo”, afirmou o dançarino.
Oliveira passou por 24 internações para reabilitação. Depois da última, há quatro anos, desistiu de tentar abandonar o vício. Hoje foca em buscar suporte artístico e esportivo para manter uma vida funcional. Um esforço que, segundo ele, é favorecido pelo futebol, praticado uma vez por semana.
“Quinta-feira para mim é um dia excelente, porque ao meio dia eu tenho o TTT, que é Teto, Trampo e Tratamento. Esse é um programa em que eu danço e eles pagam minha moradia. Depois ainda tem arte com o Birico e o futebol com as meninas à noite”, diz, mencionando algumas das organizações e coletivos que atuam na região promovendo atividades de inclusão com a população de rua.
Um deles é a ONG Craco Resiste, que organiza o futebol que tanto engaja Renato Oliveira e tantos outros frequentadores da cracolândia. Criado em 2016, após a eleição de João Doria para a prefeitura, o coletivo já foi alvo de um inquérito policial aberto a pedido do vereador bolsonarista Rubinho Nunes, co-fundador do MBL e atualmente no União Brasil. A investigação foi arquivada pelo TJ-SP por recomendação do Ministério Público estadual, que não viu indícios de crime na ocasião.
Apesar da derrota, Rubinho Nunes não desistiu. Em novembro do ano passado, pouco antes do recesso parlamentar, o vereador apresentou o requerimento de uma CPI contra o que chama de “Máfia da Miséria”.
Segundo o documento, a comissão teria “a finalidade de investigar as ONGs que fornecem alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento dos dependentes químicos que frequentam a região da Cracolândia.”
Para quem é beneficiário da iniciativa, o futebol ajuda a recuperar a autoestima e cria um espaço de interação. “Eles são minha família. Eles podem me encontrar na rua, dentro da cracolândia, eu posso estar onde for, do jeito que eu for, que eles param, me abraçam, perguntam se eu estou bem. São minha família”, contou Oliveira.
Nem todo mundo pode se dar ao luxo de pagar por notícias neste momento.
E isso está tornando cada vez mais difícil financiar investigações que mudam vidas.
A maioria dos jornais lida com isso limitando o acesso a seus trabalhos mais importantes por meio de assinaturas.
Mas no Intercept Brasil, acreditamos que todos devem ter acesso igual à informação.
Se você puder, há muitos bons motivos para nos apoiar:
1) Nosso objetivo é o impacto: forçamos os ricos e poderosos a respeitar pessoas como você e a respeitar a lei
2) Somos financiados pelos leitores, não por corporações, e somos sem fins lucrativos: cada real vai para nossa missão de jornalismo sem rabo preso, não para pagar dividendos
3) É barato, fácil e seguro e você pode cancelar quando quiser
Escolha fortalecer o jornalismo independente e mantê-lo disponível para todos com uma doação mensal. Obrigado.
FAÇA PARTE
Faça Parte do Intercept