Quase metade da população mundial passa ao menos cinco dias por mês menstruada.
Essa informação, tão banal para mulheres cis, não costuma ser levada em conta pelos governos e torna o menstruar mais uma questão na vida de pessoas com baixa renda, moradores de rua e mesmo presidiárias, que obrigatoriamente deveriam ser assistidas pelo poder público.
O custo de aproximadamente 50 centavos por um único absorvente – que deveria fazer parte da lista de compras de todas que menstruam –, é suficiente para que o direito à higiene vire luxo. E é aí que entra o debate sobre a pobreza menstrual – ou precariedade menstrual.
O termo, criado na França, mapeia todos os efeitos que a falta de dinheiro e infraestrutura provocam nos cuidados com o ciclo menstrual – mas o problema não tem CEP e atinge tanto europeias pobres quanto asiáticas e sul-americanas.
Pelo menos uma vez na vida, pessoas faltam ao trabalho por não ter dinheiro para absorventes.
É assim que, pelo menos uma vez na vida, pessoas faltam ao trabalho, contraem doenças ou até abandonam os estudos por falta de dinheiro para comprar absorventes. A estimativa da Câmara de Vereadores do Rio, que aprovou um projeto de distribuição de absorventes em escolas, é de que as estudantes perdem até 45 dias de aula devido ao sangue menstrual.
No Brasil, o acesso ao saneamento básico é decisivo para o período menstrual. Segundo levantamento da ONG Trata Brasil, em 2016, 1,6 milhão de brasileiras não tinham banheiro em casa, 15 milhões não recebiam água tratada e 26,9 milhões moravam em locais sem coleta de esgoto. É rara a disponibilidade de absorventes para quem vive na rua ou está na cadeia. Já contamos como, no Pará, as detentas mal recebem materiais de higiene pessoal. Controlar o sangramento exige improvisos como o uso de papel, papelão, jornal e até mesmo miolo de pão, que aumentam as chances de infecções vaginais.
É por isso que precisamos falar sobre pobreza menstrual. Vem comigo que neste neste vídeo eu explico melhor essa questão –e uma estratégia econômica já implementada em outros países que pode ajudar a tornar menstruar apenas mais uma rotina no mês de uma pessoa, independente da conta bancária.
Correção – 3 de fevereiro, 11h30
Diferentemente do publicado originalmente, as estudantes perdem até 45 dias de aula durante o ano letivo devido a falta de acesso a formas de conter o fluxo menstrual.
O Intercept é sustentado por quem mais se beneficia do nosso jornalismo: o público.
É por isso que temos liberdade para investigar o que interessa à sociedade — e não aos anunciantes, empresas ou políticos. Não exibimos publicidade, não temos vínculos com partidos, não respondemos a acionistas. A nossa única responsabilidade é com quem nos financia: você.
Essa independência nos permite ir além do que costuma aparecer na imprensa tradicional. Apuramos o que opera nas sombras — os acordos entre grupos empresariais e operadores do poder que moldam o futuro do país longe dos palanques e das câmeras.
Nosso foco hoje é o impacto. Investigamos não apenas para informar, mas para gerar consequência. É isso que tem feito nossas reportagens provocarem reações institucionais, travarem retrocessos, pressionarem autoridades e colocarem temas fundamentais no centro do debate público.
Fazer esse jornalismo custa tempo, equipe, proteção jurídica e segurança digital. E ele só acontece porque milhares de pessoas escolhem financiar esse trabalho — mês após mês — com doações livres.
Se você acredita que a informação pode mudar o jogo, financie o jornalismo que investiga para gerar impacto.