Como é um ano eleitoral para o tráfico: ouvimos o Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro

Líderes do Comando Vermelho e do Terceiro Comando Puro explicam como funcionam as eleições em suas áreas e por que – como parte da população – desconfiam da política

Como é um ano eleitoral para o tráfico: ouvimos o Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro

Eleições 2018

Parte 5



Esta reportagem foi financiada por nossos leitores


Meu irmão, se liga
No que eu vou lhe dizer
Hoje ele pede seu voto
Amanhã manda a polícia lhe bater

“Você acredita no governo?”. A pergunta foi feita a nós por um traficante da facção Terceiro Comando Puro no mês passado, enquanto caminhávamos pelas vielas de uma favela do Rio de Janeiro até o local onde ele nos levaria para conceder uma entrevista. Por motivos de segurança, não podemos revelar o nome da comunidade.

A frase bem que poderia ser um verso da música “Candidato caô caô”, de Bezerra da Silva, lançada pouco depois da redemocratização do Brasil, em 1988. “Ele subiu o morro sem gravata, dizendo que gostava da raça”, alertava o cantor que era também uma espécie de consciência popular do morro.

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Morto em 2005, Bezerra sabia o que cantava: os caras de terno e sorriso muito branco aparecem nas periferias de quatro em quatro anos, pedem votos, e somem. Nós pedimos autorização para filmar nas favelas, mas obviamente não foi para a prefeitura e nem para o governo do estado. Se o tráfico domina áreas inteiras do Rio e do Brasil, ele é um agente importante e precisa ser ouvido nesse momento tenso da vida nacional, em que a pobreza – simbolizada pela falta de emprego – e a segurança estão na ponta da língua dos candidatos. Os dois temas são os mais visíveis nas periferias do país.

O que é um ano eleitoral na visão das duas maiores facções do Rio de Janeiro? Fomos ouvir o Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro. Como frisou José Cláudio Souza Alves, autor do livro “Dos barões ao extermínio: a história da violência na Baixada Fluminense”, “não existe poder paralelo”: essa estrutura é “parte do poder legalmente constituído.”

🚨 O QUE ENFRENTAMOS AGORA 🚨

O Intercept está vigiando manobras eleitorais inéditas da extrema direita brasileira. 

Os golpistas estão de cara nova, com seus ternos e sapatênis. Eles aprenderam estratégias sofisticadas de marketing digital para dominar a internet, que estão testando agora nas eleições municipais.

O objetivo final? Dominar bases de poder locais para tomar a presidência e o congresso em 2026. 

Não se deixe enganar: Bolsonaro era fichinha perto dos fascistas de sapatênis…

O Intercept não pode poupar esforços para investigar e expor os esquemas que colocam em risco nossos direitos e nossa democracia.

Já revelamos as mensagens secretas de Moro na Lava Jato. Mostramos como certas empresas e outros jornais obrigavam seus trabalhadores a apoiarem Bolsonaro. E expusemos como Pablo Marçal estava violando a lei eleitoral. 

Mas temos pouco tempo, e muito mais a revelar. Agora precisamos de recursos para colocar mais repórteres nas ruas. Para isso, precisamos de sua ajuda. Somos financiados por nossos leitores, não pelas empresas ricas que mandam em Brasília.

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