Uma árvore atraiu mais gente do que o MBL no protesto anti-Lula no Rio

Entorno do carro de som do movimento ficou praticamente vazio enquanto apoiadores de Bolsonaro foram os que mais fizeram barulho.

Carro de som do MBL atrai poucas pessoas em protesto anti-Lula.

Não sei se foi culpa de São Pedro, de São Lula, ou simplesmente um fenômeno meteorológico, mas o fato é que a chuva forte fez de uma árvore e da marquise de um hotel os pontos mais concorridos da orla de Copacabana, na noite desta terça-feira, quando aconteceu a manifestação pela prisão do ex-presidente.  Ali embaixo, as pessoas se apertavam para não se molhar, enquanto gritavam que tinham vindo de graça. Mas havia um outro lugar, bem próximo, onde sobrou espaço: o entorno do carro de som do MBL.

Se causa barulho virtual, turbinado por robôs e até um aplicativo irregular banido do Facebook após a publicação de uma reportagem do jornal O Globo, ao menos no Rio de Janeiro, o movimento de Kim Kataguri e seus amigos parece não ressoar tanto assim no mundo real. Bastante esvaziada na comparação com as passeatas anti-Dilma, a manifestação desta terça ainda contou com alguns adeptos empolgados, mas que definitivamente não tinham o MBL como referência.

Manifestantes anti-Lula se abrigam embaixo de uma árvore em Copacabana

Manifestantes anti-Lula se abrigam embaixo de uma árvore em Copacabana.

Os que não se esconderam da chuva ficaram aglomerados em torno do carro de som do Movimento Vem Pra Rua. Se, num passado recente, o juiz Sérgio Moro reinava praticamente sozinho como o ídolo dos verde-e-amarelos, no protesto pela prisão de Lula, ele já pareceu perder o posto para o pré-candidato a presidente Jair Bolsonaro. Eram os apoiadores do deputado os que faziam mais barulho. A palavra intervenção – que, tempos atrás, era coisa de meia dúzia de exaltados – nessas manifestações, se espalhou.

“É um protesto que não tem um significado, assim, muito concreto. Revela insatisfação”, disse o aposentado Mário Machado, explicando sua camiseta com a expressão “intervenção no STF” nas costas.

Só uma camiseta

Em quase duas horas acompanhando a manifestação, foi difícil encontrar algum simpatizante declarado do MBL no público. Ao lado do carro de som, um único homem que vestia a camiseta do movimento não quis dar entrevista, alegando que não sabia muita coisa sobre aquela sigla estampada em seu peito. Indicou para falar um amigo, que estava enrolado numa bandeira do Brasil. E filmou a entrevista com um celular.

“Acho que o Vem Pra Rua manteve uma participação mais intensa nas manifestações que tiveram aqui. O MBL deu uma saída, não sei exatamente a motivação disso, mas eles não estiveram em alguns protestos. Isso fez com que o pessoal grudasse mais no Vem Pra Rua. Mas não vejo nenhuma diferença significativa de conteúdo entre eles”, comentou o professor Eduardo Vieira, filiado ao Partido Novo, eleitor declarado de João Amoedo, pré-candidato da legenda à presidência.

“Eu me identifico com todos esses movimentos de centro-direita porque acho que vieram de baixo para cima, foram uma reação espontânea da sociedade”, completou, ao ser perguntado sobre a ideologia do MBL.

Com um cartaz com os dizeres “STF corrupto + urnas fraudadas = Venezuela”, o funcionário público José Roberto Chermont de Teixeira circulou por todos os cantos da manifestação. Frequentador assíduo dos protestos no Rio, ele disse perceber o pouco engajamento do MBL nas ruas cariocas:

“Eu acompanho os dois (MBL e Vem Pra Rua). Não sei por que o MBL atrai tão pouca gente. Sei que há muita gente falando que eles têm ligação com alguns partidos… Mas isso tem que vir à tona então, né? Enfim, acho que as causas deles são boas, isso é o que importa”.

“É bom porque vai dar tempo de ainda ver os protestos de São Paulo na Globonews.”

As manifestações dos dois grupos no Rio foram marcadas para o mesmo local: o Posto 5 de Copacabana. O Vem Pra Rua, porém, marcou a concentração para 18h, enquanto o MBL programou para 19h, horário em que algumas pessoas já começaram a voltar para a casa.

“É bom porque vai dar tempo de ainda ver os protestos de São Paulo na Globonews. Lá, é que a coisa vai estar animada mesmo”, disse uma senhora ao ir embora de mãos dadas com o marido por uma das ruas internas do bairro.

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