Depois de quatro dias de operações policiais superficialmente cobertas pela mídia, na terça (15), fomos ao Jacarezinho para ver, com nossos próprios olhos, o que acontecia. Horas antes, Sebastião Sabino da Silva, de 46 anos, havia sido morto pela manhã, perto da banca de verduras da família, durante uma investida da Polícia Civil contra a favela.
O Jacarezinho, na Zona Norte do Rio de Janeiro, é uma das maiores da cidade e tem um dos menores índices de desenvolvimento humano. A poucos metros da entrada principal, está instalada a Cidade da Polícia, complexo que abriga diversas divisões da polícia Civil do Rio de Janeiro, inclusive o CORE. Na última sexta (11), um policial dessa divisão foi morto durante uma operação na comunidade, dando início à série de investidas contra a favela.
Quando chegamos, por volta das 21h, os moradores, cansados de noites de muito tiro e pouco sono, se organizavam para protestar contra as operações.
As pessoas tentam se esconder como podem – os tiroteios não têm hora ou lugar marcados.
A manifestação se concentrava em frente à Cidade da Polícia, quando bombas de gás foram lançadas de dentro do complexo. Os moradores resolveram então caminhar, pedindo a paz, pelas ruas da comunidade. Tivemos a honra de acompanhar a caminhada, que pode ser vista acima, no vídeo que produzimos.
A vida no Jacarezinho não é fácil. Ali vivem pessoas que saem de casa para trabalhar antes do sol nascer e voltam, cansadas, em ônibus e trens lotados. A coleta de lixo é insuficiente. Não há oferta de atividades sociais e de entretenimento – o Centro de Referência da Juventude, único serviço social que o Estado oferecia, foi ocupado pela UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).
Quando a polícia realiza operações, escolas e clínicas fecham as portas. As pessoas tentam se esconder como podem – os tiroteios não têm hora ou lugar marcados.
Apesar dos problemas, o povo do Jacarezinho resiste. Há esperança, afinal. Quando uma manifestação exigindo paz percorre uma favela sitiada e ocupada pela polícia e termina sem nenhuma ocorrência de violência, há motivo para muita comemoração.
Depois de cinco noites sem poder dormir, a favela finalmente teve um breve período de trégua. No dia seguinte, porém, os tiroteios voltaram a ocorrer, e mais dois moradores foram mortos.
O seu futuro está sendo decidido longe dos palanques.
Enquanto Nikolas, Gayers, Michelles e Damares ensaiam seus discursos, quem realmente move o jogo político atua nas sombras: bilionários, ruralistas e líderes religiosos que usam a fé como moeda de troca para retomar ao poder em 2026.
Essas articulações não ganham manchete na grande mídia. Mas o Intercept está lá, expondo as alianças entre religião, dinheiro e autoritarismo — com coragem, independência e provas.
É por isso que sofremos processos da Universal e ataques da extrema direita.
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Se o Intercept não abrir as cortinas, quem irá? É hora de #ApoiarEAgir para frear o avanço da extrema direita.