Armeiros do tráfico do RJ revelam segredos sobre seu arsenal

Armeiros do tráfico mostram que o crime no Rio passou a usar pistolas automáticas mais modernas e de maior potencial ofensivo

O perfil das armas usadas pelo tráfico no Rio mudou: elas estão mais modernas e com maior potencial ofensivo.

Armas mais potentes, mais fáceis de manusear e dar manutenção – e mais baratas. Entrevistamos armeiros do tráfico no Rio de Janeiro e podemos afirmar: o perfil da arma do crime mudou. Se antes as polícias apreendiam mais revólveres, com calibres de menor potencial ofensivo, e em sua maioria produzidos no Brasil, hoje apreendem mais armas automáticas e pistolas. 

É o caso da pistola Glock, especialmente a 9 milímetros, sonho de consumo de muita gente, inclusive traficantes.

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“Para desmontar é muito fácil, ó. Muito fácil. Rajada um lado, remetente pro outro. Muito fácil de montar e muito fácil de manusear. Muito leve, muito boa”, afirma um armeiro do tráfico de drogas no Rio.

Há ao menos outras duas vantagens para aqueles que vivem à margem da lei: as pistolas são mais baratas que um fuzil e mais fáceis de esconder ou se desfazer, em caso de operação policial. 

“Aqui temos uma Glock 9, pente de latão. Pistola boa. Ela dá muitos tiros. Esse pente é de 50. É boa para caralho”, diz outro armeiro.

A adaptação da pistola para o kit rajada é também uma vantagem econômica. A alteração permite que uma pistola que sai de fábrica apta para dar 15 tiros seja adaptada para funcionar como uma metralhadora, dando dezenas de disparos.

No mercado legal, uma Glock 9 milímetros custa por volta de 10 mil reais e tendo registro, você compra online ou em uma loja próxima de casa. No ilegal, você o preço pode variar entre 15 e 18 mil. Antes de 2019 era preciso importar armas da marca, que não eram vendidas no Brasil. 

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Em 2019, a Agência Pública mostrou que a Glock recebeu mais de R$ 43 milhões em pagamentos do governo e assinou muitos contratos sem licitação.

A empresa é comandada no Brasil por Fernanda Pereira Leite, irmã do ex ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Joaquim Alvaro Pereira Leite. 

E como isso funciona nas ruas, do ponto de vista de um policial que era responsável pelo setor de fiscalização da Polícia Federal?

“Foi vendido fuzil com uma facilidade pro cidadão que a gente nunca viu no país. E agora, a gente não sabe nem quantos fuzis há em circulação 9mm, centenas de milhares entraram em circulação. Isso é um desafio que a gente vai ter, porque a munição 9mm também é muito mais fácil de comprar no mercado interno”, afirma o policial federal Roberto Uchoa.

Exército desconhece o arsenal dos CACs no Brasil

Uchoa está certo. Em setembro de 2022 o Exército admitiu que não sabe o tamanho do arsenal de CACs em cada cidade brasileira. Estas armas estão nas mãos de cidadãos de bem ou não? Quais? Quantas? Não sabemos.

Sabemos, porém, que o Exército falha muito em sua missão de fiscalizar este setor. Em maio de 2023, mostramos que um major esquentava armas apreendidas e revendia. Também já vimos casos de traficantes e assassinos com ficha corrida conseguirem comprar armas legalmente. Muitos casos…

As alterações nas políticas sobre armas, sem fortalecer os mecanismos de controle e fiscalização na mesma medida, foram ótimas – para o crime. 

Recentemente o governo federal editou um decreto que restringe o acesso de civis a armas e munições, mas ainda é possível que o cidadão comum compre armas que antes eram de uso restrito, mas em menor quantidade. 

Já os problemas relacionados à marcação de munições, integração dos bancos de dados da PF e Exército, rastreabilidade, capacidade de investigação das polícias, ausência de um plano nacional de enfrentamento a homicídios persistem.

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