Enquanto parte da imprensa está à procura de bolsonaristas moderados, Eduardo Bolsonaro foi à Alemanha se encontrar com uma liderança de um partido neonazista, o Alternativa para a Alemanha, AfD na sigla em alemão, que é neta de um ministro de Hitler.
Quantos candidatos a ‘bolsonaristas moderados’ repreenderam o encontro do filho do ex-presidente com a deputada neonazista? Nenhum, claro, porque eles simplesmente não existem. É triste ter que falar uma obviedade dessas, mas vivemos tempos em que o óbvio precisa ser dito.
O bolsonarismo é antidemocrático, golpista e fascistoide por essência. Para fazer parte dessa gangue ideológica é necessário que se esteja de acordo com essas características fundamentais. Para fazer parte da extrema direita bolsonarista deve-se necessariamente abraçar o combo completo.
Nunca se viu um bolsonarista se colocar contra as ameaças golpistas do mito, até porque ele nem existiria se não fosse o golpismo. Bolsonaro é filho do golpe de 64 e ganhou fama atacando a democracia e defendendo o regime militar.
Jamais se viu uma fala contrária de Tarcísio às movimentações golpistas do presidente
Como alguém que cultua sua figura e se alinha politicamente a ele poderia apresentar algum traço democrático? É ingênuo, para não dizer ridículo, que alguém nutra essa esperança.
Pelo o que se vê na imprensa, Tarcísio é o principal candidato ao cargo fictício de bolsonarista moderado. Ele seria um homem de perfil técnico, pragmático e não ideológico. Sim, essa figura obscura que integrou um governo que passou os quatro anos ameaçando de forma permanente a democracia.
Jamais se viu uma fala contrária de Tarcísio às movimentações golpistas do presidente. Tarcísio assistiu, caladinho, aos ataques contra as urnas eletrônicas, ao negacionismo assassino durante a pandemia, às Forças Armadas protegendo golpistas nos quartéis e a uma infinidade de atrocidades cometidas contra a democracia.
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Apesar de não ter atuado na linha de frente do golpismo, este bolsonarista moderado sempre esteve junto e dando apoio moral para todos os absurdos. Depois de eleito governador do estado mais rico do país, continuou sendo um dos bolsonaristas mais fiéis a Bolsonaro e faz questão de deixar isso claro a todo momento.
Na última manifestação convocada por Bolsonaro em São Paulo para intimidar o Supremo Tribunal Federal, o governador fez questão de discursar e animar os golpistas: ‘Eu tenho certeza que vocês estavam com saudades de vestir verde e amarelo. Quem estava com saudades aí?’.
Não sejamos ingênuos: não há a menor possibilidade do bolsonarismo parir políticos moderados e democráticos
Este bolsonarista moderado não é apenas um animador de festa da manada golpista, mas um governador que aplaude a carnificina criminosa liderada pela Polícia Militar nas periferias do estado. Eis o homem de perfil técnico e moderado. Para ser um bolsonarista é preciso cultuar a figura de Bolsonaro. E isso Tarcísio faz com louvor, já que é ele quem o sustenta eleitoralmente.
É verdade que o bolsonarismo hoje é uma das principais forças políticas e populares do país e está legitimada dentro da democracia brasileira, por mais que isso soe contraditório. Não se discute com as urnas.
Não há nada o que os democratas possam fazer além de esperar que o golpismo dos bolsonaristas legitimamente eleitos seja enquadrado pela lei. Os democratas temos de aceitar essa nova configuração da democracia brasileira. Mas não sejamos ingênuos: não há a menor possibilidade do bolsonarismo parir políticos moderados e democráticos.
A força eleitoral da chamada direita moderada foi quase que completamente herdada pelo bolsonarismo. Hoje, os principais políticos de direita que não foram cooptados pelo bolsonarismo fazem parte do governo Lula.
Goste-se ou não, o atual governo é fruto de uma frente ampla composta por gente de esquerda, centro-esquerda, direita e centro-direita. Essa coalizão foi formada para barrar a continuidade do bolsonarismo no poder. A direita democrática e antibolsonarista é composta por políticos como Geraldo Alckmin e Simone Tebet.
Se o que se busca são novos nomes que representem uma direita civilizada e democrática, é dentro desse grupo que deve-se procurar. Acreditar na possibilidade de um bolsonarismo light, zero açúcar ou glúten free revela uma incompreensão de conceitos políticos básicos ou, na melhor das hipóteses, uma ingenuidade que beira o ridículo depois de tudo o que passamos nos últimos anos.
Mas deixemos um pouco o delírio do bolsonarismo moderado e voltemos à realidade: o intercâmbio entre bolsonaristas e os neonazistas da Alemanha. Sim, a AfD, liderada pela amiga da família Bolsonaro, é um partido neonazista.
Não se trata de opinião, mas de mera constatação dos fatos. O partido não se classifica como neonazista porque isso é crime na Alemanha, mas eles são os legítimos herdeiros do regime de Hitler. Apesar de estarem escamoteados, não há qualquer dúvida sobre isso entre os alemães.
A AfD está sendo investigada por associação ao nazismo depois que uma reportagem revelou uma reunião secreta entre suas lideranças e grupos neonazistas na Alemanha. No encontro, o líder neonazista Martin Sellner apresentou um plano de deportação de milhões de refugiados políticos, cidadãos estrangeiros com visto de residência e cidadãos alemães descendentes de imigrantes.
Entenderam o tamanho do buraco? Os aliados políticos do bolsonarismo planejaram expulsar do país cidadãos alemães que não são arianos. O plano era enviar essas pessoas para a África, remontando à ideia do regime nazista de enviar judeus para Madagascar. É com esse tipo de gente que o bosonarismo mantém relações políticas.
Assim como o bolsonarismo, a AfD cresceu vertiginosamente nos últimos anos e se consolidou como força política da Alemanha. Hoje, o partido conta com 13% dos assentos no parlamento e lidera as pesquisas de intenção de voto para as eleições estaduais deste ano.
Mas, diferente do Brasil, lá não se discute a necessidade de se encontrar ‘neonazistas moderados’. Não, o que tem se debatido por lá é a extinção do partido para a preservação da democracia.
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