“Eles mataram minha esposa, assassinaram mesmo. Nem me deixaram parar o carro. O protocolo da Federal é atirar? Então, não sei mais o que fazer”.
A frase acima foi dita por Alexandre Mattos, marido de Anne Caroline Nascimento Silva, morta por um tiro disparado por Thiago da Silva Sá, agente da Polícia Rodoviária Federal. Em 17 de junho, o carro em que estavam foi abordado pelos agentes na Rodovia Washington Luís, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Anne foi alvejada no abdômen e morreu em um hospital. Ela tinha 23 anos.
O agente Thiago da Silva Sá foi preso em flagrante, mas vai responder em liberdade. O agente admitiu, em seu depoimento, ter disparado oito vezes contra o carro do casal. Disse ainda que o motorista recebeu sinal para parar, mas acelerou tentando fugir. Ele alega ter ouvido disparos e teria avisado que iria atirar.
O marido de Anne conta uma história diferente. “O giroflex acionou. Quando acionou, justamente, eu liguei o pisca alerta. Assim que liguei, já começaram a atirar. Era muito tiro mesmo”, afirmou Mattos. “Ele matou, assassinou. Ele executou. Ele foi solto na custódia. Entendeu? Acho que matou. Pô, tem que pagar. Acho que tem que ficar preso, independente de quem seja, irmão”.
De 2019 a 2022, 74 pessoas foram mortas em ações conjuntas que envolviam a PRF no estado do Rio, informa um levantamento feito pelo Instituto Fogo Cruzado.
“Deram tiro para matar, assassinar mesmo, executar, descarregou o fuzil todo no carro. Na verdade, é a falta de preparo deles que atingiu uma outra pessoa. E eu ia levar meus dois filhos para jantar com a gente. O que aconteceu? Deixei eles em casa”.
Procurada, a PRF informou em nota que os agentes envolvidos estão “apenas realizando atividades administrativas” e que, segundo a Portaria 42/2021, a corporação pode “atuar em operações conjuntas que contem com a participação de órgãos integrantes do Sistema Único de Segurança Pública”. Questionada sobre um possível desvio de função apontado por especialistas, a PRF acrescentou que “suas ações fora das rodovias sempre amparadas em aspectos legais” e são “fruto de prévio alinhamento com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, com os demais órgãos envolvidos”.
Atualização: 3 de julho, 14h07
Esse texto foi atualizado para incluir a resposta da Polícia Rodoviária Federal, enviada após a publicação da reportagem.
Sem anúncios. Sem patrões. Com você.
Reportagens como a que você acabou de ler só existem porque temos liberdade para ir até onde a verdade nos levar.
É isso que diferencia o Intercept Brasil de outras redações: aqui, os anúncios não têm vez, não aceitamos dinheiro de políticos nem de empresas privadas, e não restringimos nossas notícias a quem pode pagar.
Acreditamos que o jornalismo de verdade é livre para fiscalizar os poderosos e defender o interesse público. E quem nos dá essa liberdade são pessoas comuns, como você.
Nossos apoiadores contribuem, em média, com R$ 35 por mês, pois sabem que o Intercept revela segredos que a grande mídia prefere ignorar. Essa é a fórmula para um jornalismo que muda leis, reverte decisões judiciais absurdas e impacta o mundo real.
A arma dos poderosos é a mentira. A nossa arma é a investigação.
Podemos contar com o seu apoio para manter de pé o jornalismo em que você acredita?