Ilustração: Intercept Brasil

Caso Marielle: Élcio de Queiroz acusou policial civil de extorquir Ronnie Lessa para atrapalhar investigação

Ex-PM acusou um dos coordenadores da investigação do caso Marielle Franco de pedir dinheiro para impedir que o caso fosse resolvido.

Ilustração: Intercept Brasil

O caso Marielle

Parte 28

Marielle Franco virou um símbolo internacional após seu assassinato no dia 14 de março de 2018. Com os olhos do mundo no Rio de Janeiro, todos estão perguntando: #QuemMandouMatarMarielle? E por quê?


Reportagem atualizada em 10 de outubroàs 18h09, após entrevista com o policial Marco Antonio e o delegado Giniton Lages.

Nesta terça-feira, em audiência de instrução e julgamento de Maxwell Simões Corrêa, o Suel, acusado de envolvimento com os assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes, Élcio de Queiroz acusou o policial civil Marco Antonio de Barros Pinto de extorquir Ronnie Lessa para atrapalhar as investigações do caso. Élcio é ex-policial militar e foi convocado como testemunha nessa audiência, após citar Maxwell como cúmplice no crime em delação premiada homologada pela justiça.

Durante a audiência, Élcio não citou o nome completo do policial, referindo-se a ele pelo apelido de Marquinhos. O Intercept apurou que ele se referia a Barros Pinto, que já foi acusado de proteger Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha, que testemunhou no caso Marielle, e é também suspeito de atrapalhar as investigações do caso. Barros Pinto sempre negou essas acusações.

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Durante o depoimento, Élcio disse que “na Divisão de Homicídios, o Ronnie me falou que o Marquinhos cobrou dinheiro dele para não investigar. Não sei se você sabe, doutor, mas só 3% dos homicídios são esclarecidos. Como vou confiar numa polícia dessas?”. Ele também afirmou que Marquinhos também extorquiu o ex-PM Adriano da Nóbrega, chefe do Escritório do Crime, morto em fevereiro de 2020

Um dos advogados de Suel questionou Élcio sobre as razões de aceitar colaborar com as investigações somente quatro anos após sua prisão. Ele respondeu que a principal motivação foi a entrada da Polícia Federal no caso, por temer algum tipo de extorsão da polícia civil. 

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O Intercept localizou Barros Pinto, que disse estar indignado com a acusação de Élcio. “Sou um policial com 37 anos de carreira, já investiguei inúmeros milicianos.  Eles buscam jogar contra o servidor público, que reprime isso, jogar a sociedade contra nós. E você pode ver, no interrogatório com a promotora Simone Sibillio, o amor que o Élcio tem por mim. Ele diz que foi maltratado, ficou horas esperando pela oitiva. Ele foi tratado com muito profissionalismo, com todo o respeito que um acusado ou investigado merece. Eu nunca estive com ele antes da oitiva”, declarou. 

Questionado sobre o motivo de Élcio chamá-lo pelo apelido de Marquinhos, o comissário disse não saber a razão. “Eu tenho 1,88m e muita gente me chamam de Marquinho, alguns me chama de Marco, outros de Marco Antonio. Na DH existem vários Marco Antonio. Então, quem falou para ele que eu sou o Marquinho? A gente fica na expectativa de saber. Me chamar de Marquinho, que leva uma intimidade… Eu nunca tinha visto o Élcio mais gordo na minha vida. Também nunca tinha visto o Lessa, nunca tive nenhum tipo de resenha com ele em qualquer lugar da minha vida pública ou fora dela”.

Logo após o depoimento de Élcio, o Ministério Público dispensou Marco Antonio de Barros Pinto, testemunha que seria ouvida logo após o ex-PM. “Não sei por qual motivo me dispensaram. Eu me encontrava na sala de audiência, quando veio a comunicação que eu e o outro policial estávamos dispensados. Só iam ouvir o delegado [Giniton Lages, primeiro delegado do caso] e mais uma testemunha que estava ali presente. Pela minha experiência com Tribunal de Júri e em outros tribunais, isso não é atípico, dependendo do interesse do Ministério Público ou da Defesa as testemunhas são dispensadas”, disse.

O Intercept também ouviu o delegado Giniton Lages, que repetiu o mesmo discurso de Barros Pinto. “A dispensa é protocolar. Miliciano é sempre assim, quer desacreditar o policial, o servidor público. Ele dizer isso [sobre a extorsão] é uma grande bobagem. Mas ele não pode dizer que no caso dele a justiça não funcionou, já que ele está preso, assim como outros tantos casos que a polícia encerrou”, argumentou Lages.

Ex-bombeiro Maxwell Corrêa, o Suel, é réu por homicídio e receptação no caso Marielle. Foto. Reprodução

Quem é Maxwell Simões Corrêa?

Suel é ex-bombeiro e era parceiro de Ronnie Lessa, acusado de matar a vereadora e seu motorista, em um negócio de gatonet em Rocha Miranda, na zona norte do Rio de Janeiro. 
Ele foi preso no dia 24 de julho deste ano, após a delação de Élcio de Queiroz. O  ex-PM o acusou de participação na ocultação de provas do crime, monitoramento da rotina de Marielle e desmanche do veículo. As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público. Suel virou réu por homicídio, tentativa de homicídio, concurso de pessoas e receptação.

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