Os Genivaldos de Maceió

Mais duas vidas de negros nordestinos interrompidas após abordagens da polícia – mas sem câmeras filmando.


Genivaldo de Jesus Santos foi cruelmente assassinado dentro de uma viatura da Polícia Rodoviária Federal transformada em câmara de gás pelos próprios policiais. Sabemos disso graças a um vídeo que registrou toda a ação em Umbaúba, cidade do litoral sul de Sergipe. A 370 km dali, em Maceió, capital de Alagoas, os familiares de Davi da Silva e Jonas Seixas vivem um drama similar ao dos parentes de Genivaldo. Os alagoanos também são homens negros vítimas de abordagens policiais. A diferença é que, depois delas, eles simplesmente desapareceram.

Davi tinha apenas 17 anos quando sumiu, em 2014. Segundo uma testemunha, que chegou a viver sob proteção do estado mas foi assassinada a tiros e pedradas logo que deixou o programa, o jovem era gago e teve uma crise de riso quando uma policial tropeçou e quase caiu durante uma abordagem em um bar. Irritados, os policiais questionaram o adolescente, mas ele não conseguia se explicar. Os PMs, então, o colocaram em uma viatura. Ele nunca mais foi visto.

O processo criminal está parado atualmente e os quatro policiais envolvidos no caso – Eudecir Gomes de Lima, Carlos Eduardo Ferreira dos Santos, Victor Rafael Martins da Silva e Nayara Silva de Andrade – permanecem soltos enquanto aguardam julgamento no Tribunal do Júri. Eles são acusados de sequestrar, torturar e matar o adolescente.

O servente de pedreiro Jonas está desaparecido desde que foi alvo de uma ação policial em 2021, quando tinha 32 anos. Na última vez em que foi visto, em 9 de outubro, o homem chegava em casa quando os policiais o abordaram e o levaram em uma viatura. Segundo a mãe Claudineide Seixas, “jogaram ele na mala [da viatura] com spray de pimenta” – algo parecido com o que o mundo todo viu no caso de Genivaldo.

Nove dias depois do desaparecimento, a família recebeu uma intimação para que Jonas comparecesse à delegacia. Sim, ele teria que aparecer para depor sobre seu próprio sumiço. Os policiais alegaram que houve um erro de digitação e que a intimação era para Claudineide.

Fabiano Pituba Pereira, Filipe Nunes da Silva, Jardson Chaves Costa, João Victor Carminha e Tiago Azevedo Lima dizem ter levado Jonas para uma averiguação, mas que o liberaram com vida. Acusados de sequestro, tortura, homicídio e ocultação do cadáver, os policiais estão presos preventivamente e esperam julgamento no Tribunal do Júri.

Como cantou O Rappa, “todo camburão tem um pouco de navio negreiro”, seja da PM ou da PRF, em Maceió, em Umbaúba ou na Vila Cruzeiro.

2026 já começou, e as elites querem o caos.

A responsabilização dos golpistas aqui no Brasil foi elogiada no mundo todo como exemplo de defesa à Democracia.

Enquanto isso, a grande mídia bancada pelos mesmos financiadores do golpe tenta espalhar o caos e vender a pauta da anistia, juntamente com Tarcísio, Nikolas Ferreira, Hugo Motta e os engravatados da Faria Lima.

Aqui no Intercept, seguimos expondo os acordos ocultos do Congresso, as articulações dos aliados da família Bolsonaro com os EUA e o envolvimento das big techs nos ataques de Trump ao Brasil.

Os bastidores mostram: as próximas eleições prometem se tornar um novo ensaio golpista — investigar é a única opção!

Só conseguimos bater de frente com essa turma graças aos nossos membros, pessoas que doam em média R$ 35 todos os meses e fazem nosso jornalismo acontecer. Você será uma delas?

Torne-se um doador do Intercept Brasil hoje mesmo e faça parte de uma comunidade que não só informa, mas transforma.

DOE AGORA

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar