Mark Zuckerberg, presidente e fundador do Facebook, fala durante o evento Oculus connet 3 em San Jose, California, na quinta-feira, 6 de outubro de 2016.

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O Facebook não é o justiceiro da esquerda – só está tentando salvar a sua imagem

A derrubada da rede do MBL faz parte da estratégia de evitar uma tragédia eleitoral e salvar sua imagem – sem prejudicar os negócios.

Mark Zuckerberg, presidente e fundador do Facebook, fala durante o evento Oculus connet 3 em San Jose, California, na quinta-feira, 6 de outubro de 2016.

Bem escolado com as eleições americanas, o Facebook tirou do ar nesta quarta-feira quase 300 páginas e perfis de direita – uma rede ligada ao MBL, o Movimento Brasil Livre. Segundo a rede social, as páginas e perfis “faziam parte de uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas no Facebook, e escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação”.

Foram desativadas 196 páginas e 87 perfis. Entre eles estão notórias divulgadoras de fake news e do noticiário dos novos liberais brasileiros, como o Jornalivre, Diário Nacional e página do Movimento Brasil 200 – aquela mesma do movimento liderado pelo presidente da Riachuelo Flávio Rocha. A grande quantidade de páginas também revela uma rede organizada, criada para atuar nas eleições, que acontecem daqui a pouco mais de dois meses.

O Monitor do Debate Político no Meio Digital, uma iniciativa de pesquisadores de USP que acompanha páginas de direita e esquerda no Facebook desde 2016, tem pouco mais de 20 páginas de direita mapeadas – um número muito menor do que a rede derrubada pelo Facebook. “Essa desproporção entre o que estava em atividade e o que caiu agora nos sugere que o Facebook identificou a criação de uma rede de páginas novas que provavelmente seriam usadas no período eleitoral”, escreveram os pesquisadores.

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As páginas atualmente monitoradas pelo projeto somavam 126 postagens por dia, com 150 milhões de interações por ano. Dá para imaginar o impacto de uma rede dez vezes maior, o que sugere que ela nasceu para fazer barulho no período pré-eleitoral.

Não seria novidade: a criação de uma rede para espalhar mentiras ou distorções foi a mesma estratégia de parte da direita americana, que ajudou a impulsionar o então candidato à presidência Donald Trump. E é típico dos conservadores brasileiros copiarem as estratégias questionáveis da direita americana. No Brasil, as redes de fake news agem de forma articulada e recebem, inclusive, dinheiro público por meio de partidos políticos.

O justiceiro da esquerda

Um dia antes de derrubar as páginas, o Facebook publicou no Brasil um resumo detalhado de seus esforços para as eleições por aqui, consideradas uma “prioridade” para a rede social. O nome do comunicado deixa clara a postura da empresa. Avisou que agiria contra “pessoas mal-intencionadas”. No dia seguinte, as páginas caíram. A justificativa do Facebook é que os conteúdos eram relacionados a contas falsas, participavam de comportamentos não autênticos coordenados e enganavam “as pessoas na tentativa de incentivar compartilhamentos, curtidas ou cliques”.

A derrubada foi eficiente para aliviar a barra do Facebook.

A esquerda brasileira aplaudiu Zuckerberg, se esquecendo do papel omisso que a rede social teve por anos ajudando a espalhar desinformação. O Facebook sempre disse ser contrário à censura e, por muito tempo, manteve uma postura permissiva com relação a conteúdos ofensivos. Tem a ver com dinheiro: quanto mais engajamento, melhor.

Na semana passada, a rede de TV inglesa Channel 4 publicou um documentário que mostra como a rede protege páginas populares que publicam conteúdos ofensivos que violam as próprias regras do Facebook. Um repórter infiltrado numa empresa terceirizada que faz a moderação de posts comprovou que a rede de Zuckerberg pode aliviar as punições de fanpages que geram muitas interações. As maiores páginas que representam a nova direita brasileira continuam no ar, com seguidores na casa dos milhões.

A derrubada, porém, foi eficiente para aliviar a barra do Facebook. E mostra o esforço que Zuckerberg e sua equipe têm feito para tentar minimizar seu papel em tragédias eleitorais como a que aconteceu nos EUA – um movimento esperto, midiático, que não muda seu modelo lucrativo.

Enquanto a esquerda aplaudia o Facebook, a direita se contorcia em retóricas para posar de vítima de censura. Flávio Rocha classificou a derrubada da página como “uma violência”. E colocou o Facebook como carrasco totalitário: “nem no tempo da ditadura se verificava tamanho absurdo”, escreveu no Twitter.

O MBL fez um comunicado assumindo que várias páginas derrubadas eram ligadas ao movimento e prometeu tomar medidas que gerem “consequências exemplares” ao Facebook. O movimento chegou a publicar um post fazendo a falsa associação entre a queda do valor das ações da empresa na Bolsa de Nova York e a notícia no Brasil – a perda de valor, na verdade, está ligada ao balanço da empresa, divulgado por coincidência hoje, que frustrou investidores.

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Queda das ações do Facebook, na verdade, está ligada ao balanço da empresa, que frustrou investidores.

Montagem: reprodução MBL

O procurador Aílton Benedito, do MPF de Goiás – aquele que ficou famoso com um tuíte em que dizia que o nazismo é uma ideologia de esquerda – enviou um ofício ao Facebook pedindo explicações sobre as remoções. A rede social tem dois dias para enviar a ele a lista de páginas e perfis derrubados e os motivos.

Mais longe ainda foi o Jornalivre, que cravou que a ação do Facebook foi feita para “proteger partidos de extrema-esquerda nas eleições deste ano”. A narrativa de tentar colar Zuckerberg à esquerda brasileira foi, literalmente, importada da direita americana – e não passa de fake news. A própria esquerda brasileira também reclama de censura na rede social.

Foto em destaque: Mark Zuckerberg, fundador do Facebook.

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