Estamos fazendo algo completamente novo – e arriscado – e queremos explicar por que acreditamos que essa é uma decisão importante e ética.
O Intercept Brasil fez uma parceria com a jornalista brasileira Giovanna Vial para cobrir de dentro a Global Sumud Flotilha, uma ação coordenada por ativistas em dezenas de pequenos barcos cheios de ajuda humanitária que pretendem romper o bloqueio ilegal de Israel a Gaza.
O consenso dos especialistas internacionais é que Israel está perpetuando o genocídio dos palestinos em Gaza, que atualmente estão morrendo de fome, balas e bombas. Enquanto a maioria das pessoas faria qualquer coisa para fugir de um cenário tão infernal, esses indivíduos corajosos estão arriscando suas vidas para entrar nos campos de morte de Israel em solidariedade ao povo palestino.
Tentativas recentes de romper o bloqueio terminaram com Israel atacando ilegalmente os barcos e sequestrando os ativistas em águas internacionais, levando-os para prisões israelenses. Os ativistas sequestrados por Israel foram espancados, torturados, mantidos em confinamento solitário e infectados com doenças causadas por condições insalubres. Em 2010, uma iniciativa semelhante, a Frota da Liberdade de Gaza, terminou com comandos israelenses assassinando dez ativistas e ferindo outros 30.
Desta vez, a primeira leva de barcos partiu da Espanha em 31 de agosto e recentemente ancorou em Tunis, na Tunísia, onde se juntou a outros barcos. Na noite de segunda-feira, um drone israelense lançou uma bomba sobre o barco principal, o Família Madeira, na tentativa de interromper a missão humanitária – uma violação flagrante da soberania tunisiana e do direito internacional. Algumas pessoas estavam dormindo no barco naquele momento, mas felizmente ninguém ficou ferido. Giovanna tem viajado neste barco, ao lado dos ativistas Greta Thunberg e Thiago Ávila, mas não estava a bordo no momento do ataque.
Giovanna entrou em contato conosco no mês passado informando que já havia decidido participar da Flotilha e garantido sua vaga e estava procurando um veículo para divulgar suas reportagens. Ela é uma correspondente experiente, que já passou considerável tempo em zonas de conflito no Oriente Médio.
Os protocolos de segurança padrão do Intercept Brasil não permitem uma missão de alto risco como essa. O cenário mais provável é que Giovanna e seus colegas sejam sequestrados, presos e deportados por um regime genocida com total desrespeito pelos direitos humanos. No entanto, como costuma acontecer com Gaza, é preciso reavaliar tudo o que achávamos que sabíamos.
No Intercept Brasil, acreditamos que a Global Sumud Flotilha é extremamente relevante. Seu objetivo, resistir ao genocídio dos habitantes de Gaza provocado por Israel, é sem dúvida uma causa moralmente justa. E o caso é ainda mais relevante para o Brasil, já que exportamos para Israel o aço e o petróleo que alimentam a máquina de guerra.
Os participantes da Flotilha decidiram assumir esses riscos por conta própria. E, diferentemente de uma situação típica de reportagem, Giovanna, junto com o resto da tripulação, está sendo apoiada por uma equipe internacional que está preparada para fazer tudo ao seu alcance para garantir sua segurança e garantir que essa ação seja conduzida com responsabilidade.
Quanto mais a Flotilha for vista pelo que realmente é – uma missão humanitária –, menos provável que Israel transforme essa missão de esperança em uma tragédia.
Embora nunca pedíssemos a ninguém que assumisse essa tarefa, acreditamos que a posição moralmente correta é trabalhar para divulgar o trabalho de quem decidiu estar naquelas embarcações Afinal, Israel já assassinou mais de 270 jornalistas em Gaza desde 7 de outubro de 2023, muitos deles alvos intencionais por causa de suas reportagens.
No Intercept Brasil, optamos por usar nossas plataformas para tentar proteger nossos colegas, em vez de dar razão a quem os ataca.
Entendemos que a maior arma de defesa da Flotilha é a visibilidade pública, o apoio e a legitimidade. Quanto mais a Flotilha for vista pelo que realmente é – uma missão humanitária –, menos provável que Israel transforme essa missão de esperança em uma tragédia. Não tomamos essa decisão levianamente.
Portanto, nos próximos dias, você verá reportagens originais de Giovanna Vial diretamente da Global Sumud Flotilha. Ela compartilhará vídeos exclusivos, relatos do que viu com seus próprios olhos e entrevistas com ativistas como Greta Thunberg, Thiago Ávila e Yasemin Acar, além do jornalista Yusuf Omar.
Se você quiser acompanhar e apoiar a Flotilha, siga, comente e compartilhe nossas reportagens para ajudar a divulgar a mensagem. Você também pode acompanhar as contas dos participantes: @globalsumudflotilla, @givial, @thiagoavilabrasil, @yaseminacr_ e @gretathunberg.
Desejamos a Giovanna e seus corajosos colegas uma viagem segura e bem-sucedida. Estaremos acompanhando.
O Intercept é sustentado por quem mais se beneficia do nosso jornalismo: o público.
É por isso que temos liberdade para investigar o que interessa à sociedade — e não aos anunciantes, empresas ou políticos. Não exibimos publicidade, não temos vínculos com partidos, não respondemos a acionistas. A nossa única responsabilidade é com quem nos financia: você.
Essa independência nos permite ir além do que costuma aparecer na imprensa tradicional. Apuramos o que opera nas sombras — os acordos entre grupos empresariais e operadores do poder que moldam o futuro do país longe dos palanques e das câmeras.
Nosso foco hoje é o impacto. Investigamos não apenas para informar, mas para gerar consequência. É isso que tem feito nossas reportagens provocarem reações institucionais, travarem retrocessos, pressionarem autoridades e colocarem temas fundamentais no centro do debate público.
Fazer esse jornalismo custa tempo, equipe, proteção jurídica e segurança digital. E ele só acontece porque milhares de pessoas escolhem financiar esse trabalho — mês após mês — com doações livres.
Se você acredita que a informação pode mudar o jogo, financie o jornalismo que investiga para gerar impacto.