Desde que Jair Bolsonaro perdeu as eleições, centenas de bloqueios perpetrados por seus apoiadores vêm fechando vias país afora, rechaçando o resultado das urnas. Em um curto pronunciamento no fim da tarde desta terça-feira, o presidente afirmou que “os atuais movimentos populares são fruto de indignação” e que as manifestações são “bem-vindas” desde que sejam pacíficas e não recorram a métodos que atribuiu à esquerda, como o “cerceamento do direito de ir e vir”. As barreiras organizadas semanas antes do segundo turno, contudo, seguem nas ruas e ganharam o apoio de influencers, CACs – sigla para caçadores, atiradores desportivos e colecionadores – e donos de clubes de tiro.
“14h estarei na porta do quartel do Exército, no Ibirapuera. Vamos para as ruas! Vamos nos manifestar! E você, vai ficar no sofá só reclamando?”, convocou Andrey Blanco, dono do canal de YouTube Portal Armamentista, com quase 200 mil inscritos. E ele não está só.
A influencer armamentista brasiliense Elaine Carvalho conclamou seus seguidores a apoiar os militantes com “água, comida, o que for preciso”. O atirador esportivo Tiago Almeida, do Canal do Atirador, é mais discreto. Ele postou um vídeo na manhã desta terça-feira, 1º de novembro, dizendo que ninguém está seguro para dizer o que pensa, que todos têm o direito de se manifestar e orientando que quem for às ruas “evite se destacar na multidão” e se “prepare para o pior”, estocando alimentos e abastecendo carros.
“Nossa equipe de funcionários está dispensada para que possam exercer seu direito de cidadão e se manifestar”, diz em vídeo um dos responsáveis pela Academia Brasileira de Armas, o ABA Clube de Tiro, em Balneário Camboriú, Santa Catarina.
Há indícios de que os militantes bolsonaristas têm apoio de policiais. Em um vídeo recente, é possível ver um agente da Polícia Rodoviária Federal cortando uma grade para ajudar caminhoneiros a terem acesso a uma área do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. A PRF disse que identificou três casos de agentes sendo “condescendentes” com manifestantes e que instaurou procedimento para investigar os episódios.
Com os setores de carnes, leite e o abastecimento de supermercados já afetados pelos bloqueios, o Supremo Tribunal Federal determinou a liberação das vias. Alguns governadores criticaram publicamente as ações e autorizam atuação da Polícia Militar, enquanto senadores cobraram ação imediata no desbloqueio das rodovias em todo o país e o presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas, afirmou que os responsáveis pelos bloqueios serão presos.
Atualização: 1º de novembro, 18h09
O presidente Jair Bolsonaro fez o primeiro pronunciamento após sua derrota no final da tarde desta terça-feira. Atualizamos este texto após ele iniciar seu discurso se referindo às manifestações (antidemocráticas) de seus apoiadores.
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