Foto postada por Sidney Zamora Filho, com o pai Sidnei Zamora, em sua conta no Instagram no dia 18 de outubro de 2022 (Foto: Instagram/Reprodução)

O raio-x de um latifúndio

A reportagem que latifundiários da Amazônia não querem que você leia


Uma poderosa família de latifundiários na Amazônia não quer que você leia esse texto. Eles não querem que você saiba que estão sendo investigados por graves crimes, fraudes, corrupção e formação de milícias. 

A família Zamora conseguiu censurar duas reportagens do Intercept Brasil, mas não conseguiu escapar de uma grande investigação da Polícia Federal que veio depois. E é com base nessas novas revelações, disponíveis publicamente em documentos judiciais, que fazemos essa reportagem, que reforçou o interesse público das atividades da família e da controvérsia envolvendo a disputa pela posse da fazenda. 

Os Zamora têm a posse da Fazenda Palotina, que é maior do que cinco capitais brasileiras. O pai Sidnei, Isabella Zamora e o irmão dela, Sidney Zamora Filho, são investigados por suspeitas de fraude, corrupção de agentes públicos, lavagem de dinheiro, desmatamento e formação de milícias com uso de forças policiais para ameaçar e atacar os sem-terra que vivem no acampamento Marielle Franco, dentro da área da fazenda, de acordo com o relatório da PF.

A Fazenda Palotina é encravada em uma das áreas mais violentas da Amazônia. O Intercept foi proibido pela justiça do Acre de contar uma parte da história. Mas não paramos de investigar. Agora, obtivemos documentos sigilosos que mostram, pela primeira vez, as entranhas e jogos políticos por trás de uma das disputas mais violentas da região amazônica. 

Um relatório de movimentações financeiras anexado à investigação da Polícia Federal expõe um  raro registro do fluxo de dinheiro dentro de um poderoso grupo do agronegócio, inclusive com saques e depósitos envolvendo agentes públicos. Também mostra o histórico de desmatamento da área, que tem valor estimado de R$ 68 milhões – assim como as manobras jurídicas do patriarca Sidnei Zamora para conseguir a propriedade do latifúndio.

Um dos episódios considerados suspeitos pela PF, por exemplo, foi um saque de R$ 75 mil feito por Isabella, filha do patriarca Sidnei Zamora. Ela não costumava sacar dinheiro em espécie, mas abriu uma exceção no dia 21 de novembro de 2019. Dias antes, a família Zamora havia conseguido um esperado documento do Incra que reconheceu a posse da Fazenda Palotina.

O responsável pelo reconhecimento da posse da fazenda foi o superintendente do Incra no Amazonas na época, João Batista Jornada, que havia se reunido com Zamora alguns meses antes. Em junho de 2020, Jornada usou R$ 37.990 em dinheiro vivo para dar entrada na compra de um carro. 

“Esse saque pode ser interpretado como um possível indicativo de pagamento de propina, especialmente considerando o contexto, o timing das ações e a compra do veículo”, diz o relatório da Polícia Federal.

Trecho do relatório da Polícia Federal que menciona saque de R$ 75 mil (Foto: Reprodução)
Trecho do relatório da Polícia Federal que menciona saque de R$ 75 mil (Foto: Reprodução)

Procurado pelo Intercept, o advogado dos Zamora, Marcelo Zamora, afirma que a família “é investigada há um ano, sem conclusão, sobre a prática de delitos não comprovados”, que “todos os negócios praticados pela família Zamora e, notadamente, por Isabella Zamora, são legítimos, declarados e legais” e que “os processos sempre correram de acordo com a devida competência processual”. Leia aqui a resposta completa

Como envolve informações sigilosas, como as movimentações financeiras do clã, composto de latifundiários poderosos da fronteira do Amazonas com o Acre, o processo originário corre sob segredo de justiça. Alguns documentos, no entanto, encontram-se disponíveis para acesso público no sistema do TRF-1.

O pai Sidnei, Isabella e o irmão dela, Sidney Zamora Filho, são investigados por suspeitas de fraude, corrupção de agentes públicos, lavagem de dinheiro, desmatamento e a formação de milícias com uso de forças policiais para ameaçar e atacar os sem-terra.

Foto postada por Sidney Zamora Filho, com o pai Sidnei Zamora, em sua conta no Instagram no dia 14 de agosto de 2022 (Foto: Instagram/Reprodução)
Foto postada por Sidney Zamora Filho, com o pai Sidnei Zamora, em sua conta no Instagram no dia 14 de agosto de 2022 (Foto: Instagram/Reprodução)

Zamora Filho chegou a ter sua prisão decretada e ficou foragido, até que sua defesa conseguiu um habeas corpus, que substituiu a prisão preventiva por medidas cautelares e manteve outras restrições, como recolhimento domiciliar noturno. Ele também está sendo monitorado por tornozeleira eletrônica. A sua defesa tentou derrubar, sem sucesso, essas outras medidas cautelares. Outros agentes públicos também são investigados. 

A Polícia Federal estima que as atividades de pecuária na Fazenda Palotina, na cidade de Lábrea, no Amazonas, resultem em uma renda líquida anual de R$ 2,26 milhões. Só que a área, segundo o Incra, pertence à União. No local fica a comunidade Marielle Franco, formada por mais de 200 famílias que vivem da extração da castanha. 

Polícia Federal estima que atividades de pecuária na Fazenda Palotina resultem em uma renda líquida anual de R$ 2,26 milhões (Foto: Reprodução)
Polícia Federal estima que atividades de pecuária na Fazenda Palotina resultem em uma renda líquida anual de R$ 2,26 milhões (Foto: Reprodução)

A família Zamora diz que os sem-terra são os invasores. “Ao longo de mais de nove anos de invasão ilegal e clandestina, a família Zamora sempre se apoiou e acreditou na Justiça, nunca tendo utilizado qualquer tipo de ataque violento a quem quer que seja”, disse o advogado dos Zamora. “Sidnei Filho nunca tentou expulsar intrusos com ameaça. Quando deparado com 20 invasores armados dentro de sua posse mansa e pacífica, utilizou-se do meio necessário e proporcional para a legítima defesa sua e de seu pai, idoso de 75 anos, realizando apenas um disparo para cima”, disse o advogado da família, afirmando que a decretação da prisão foi “desproporcional, tanto é que foi revogada”.

Os documentos da Polícia Federal, no entanto, mostram de forma detalhada o histórico de ocupação da área, que foi desmatada ilegalmente, e as sucessivas manobras para que Zamora tivesse sua propriedade reconhecida – que culminaram nas reuniões com o superintendente do Incra durante o governo de Jair Bolsonaro. 

E revelam, sobretudo, os jogos de poder de uma família que, com boas relações no meio político, policial e jurídico do Acre e do sudoeste do Amazonas, vinha conseguindo usar em seu favor o aparato do estado.

Movimentações em dinheiro vivo chamaram atenção da PF

O relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf, anexado à investigação encontrou uma teia de 51 comunicações de operações suspeitas, que envolvem 687 pessoas. Ao todo, o grupo inteiro movimentou mais de R$ 193,7 milhões em cinco anos, entre janeiro de 2019 e abril de 2024. Além de saques em dinheiro, foram encontradas transações de altos valores entre policiais e empresas, empresários e fazendeiros. 

Relatório da PF detalha operações sob suspeita (Foto: Reprodução)
Relatório da PF detalha operações sob suspeita (Foto: Reprodução)

A análise das movimentações indica que os Zamora dificilmente usavam dinheiro em espécie para fazer pagamentos a fornecedores e funcionários. Mas algumas exceções chamaram a atenção. 

A interpretação dos investigadores é que essas movimentações em dinheiro vivo teriam como objetivo fazer transações fora do sistema financeiro para ocultar os destinatários.

Os resultados parciais da investigação serviram de base para que a Justiça Federal no Amazonas concedesse, por solicitação do Ministério Público Federal, uma série de pedidos de busca e apreensão em endereços ligados à família no estado, no Acre e em São Paulo.

A primeira movimentação que chamou a atenção foi o saque de R$ 75 mil feito por Isabella Zamora em novembro de 2019. Meses antes, em junho de 2019, segundo o relatório da PF, o patriarca Zamora se reuniu com Jornada em um encontro organizado pelo advogado Antonio Carlos Carbone, ex-procurador do Incra durante a ditadura militar e antigo secretário de Desenvolvimento Agrário do Acre. 

Meses depois, João Batista Jornada assinou um ofício reconhecendo a “posse da área da Fazenda Palotina” em nome de Sidney Sanches Zamora, filho de Sidnei.

A sonhada posse da Fazenda Palotina: ofício de novembro de 2019 para ‘ser apresentado aos órgãos competentes e divulgado irrestritamente' (Foto: Reprodução)
A sonhada posse da Fazenda Palotina: ofício de novembro de 2019 para ‘ser apresentado aos órgãos competentes e divulgado irrestritamente’ (Foto: Reprodução)

O superintendente se baseou em um parecer antigo, de 2007, e outros documentos que já haviam sido derrubados. Para os investigadores da PF, a decisão de Jornada não tem amparo legal por contrariar decisões judiciais e de outras autoridades acima dele, que apontavam a irregularidade da posse. Apesar disso, o documento foi usado em processos de usucapião que tramitavam na justiça do Amazonas.

Saques precederam ataques violentos na Fazenda Palotina

O território da fazenda em que fica a comunidade Marielle Franco, segundo o Incra, pertence à União. Mas os Zamora reivindicam a posse da terra e já denunciaram os sem-terra por invasão. Nos últimos dois anos, a violência no local se intensificou, com denúncias de ameaças e tortura contra os extrativistas, mostra o relatório da Polícia Federal.

Outro saque suspeito de Isabella, de R$ 200 mil, foi feito justamente dois meses antes dos relatos de ataques contra os extrativistas. Os sem-terra afirmaram ter sido alvo de tiros e ameaças em dezembro de 2023.

A PF faz menção a três situações de violência. Na primeira, no dia 6 de dezembro de 2023, cita que Zamora e Zamora Filho foram ao acampamento, com outros homens armados, e discutiram com os moradores. 

Foto postada por Sidney Zamora Filho, com sua irmã Isabella, em sua conta no Instagram no dia 16 de outubro de 2021 (Foto: Instagram/Reprodução)
Foto postada por Sidney Zamora Filho, com sua irmã Isabella, em sua conta no Instagram no dia 16 de outubro de 2021 (Foto: Instagram/Reprodução)

Na semana seguinte, no dia 15, os moradores relataram ter ouvido diversos disparos de armas de fogo, ainda segundo a Polícia Federal. 

Outra situação descrita pela PF aconteceu no dia 29 de fevereiro de 2024. O Intercept publicou duas reportagens sobre o caso, que foram censuradas por determinação da Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Acre. Leia mais sobre a censura aqui

Na véspera desse episódio, houve outra movimentação financeira considerada suspeita pela PF. O policial penal do Acre Francisco Maurene Rocha de Menezes fez um depósito de R$ 50 mil em contas da família Zamora. Em menos de dois anos, ele realizou cinco depósitos que somaram mais de R$ 355 mil. 

O valor equivale a 50 vezes o salário dele. Não foi encontrada nenhuma justificativa. Para a PF, os depósitos são “algo totalmente ilógico, salvo que Francisco possa ser um elo policial, de milícia privada, com a família Zamora”.

Relatório da Polícia Federal destaca proximidade entre saques e denúncia de tortura (Foto: Reprodução)
Relatório da Polícia Federal destaca proximidade entre saques e denúncia de tortura (Foto: Reprodução)

O último depósito suspeito feito por Menezes, de R$ 92,5 mil, foi efetuado em março de 2024, oito dias antes de uma polêmica decisão de reintegração de posse dada por um juiz de primeira instância da justiça estadual do Amazonas. A sentença, fora de sua área de jurisdição em favor do fazendeiro, foi suspensa dias depois pelo Tribunal de Justiça do Amazonas, que considerou que os trâmites normais não foram respeitados.

Apontado como líder das operações violentas contra os extrativistas, Zamora Filho teve sua prisão preventiva decretada em setembro de 2024 e permaneceu foragido por cerca de dois meses. Depois de ter um recurso rejeitado, ele teve a prisão preventiva substituída por medidas cautelares, com algumas restrições, durante o Plantão Judiciário, graças a uma decisão do desembargador Ney Bello.

No pedido de revogação de sua prisão, Zamora Filho alega que, no dia que teria acontecido o ataque, ele estava incomunicável porque teria viajado, em um avião de carreira, para Porto Seguro, na Bahia, junto da esposa, Atenéia Paludo, para um casamento em Trancoso. A defesa anexou comprovantes do voo, do aluguel de um carro e do hotel, além de fotos do casal na festa.

O gerente da fazenda, Lucas de Assis Pereira – que trata Zamora Filho por “patrão” –, também foi alvo das buscas. Ele é suspeito de intermediar as relações entre o fazendeiro e os policiais que faziam parte do grupo que atacava os extrativistas.

Foto postada por Sidney Zamora Filho em sua conta no Instagram no dia 19 de agosto de 2020 (Foto: Instagram/Reprodução)
Foto postada por Sidney Zamora Filho em sua conta no Instagram no dia 19 de agosto de 2020 (Foto: Instagram/Reprodução)

As movimentações do subtenente da PM do Acre Jorge Lourenço de Freitas Filho também chamaram a atenção. Entre maio e novembro de 2023, ele movimentou R$ 3,57 milhões, pouco mais da metade deles em créditos e a outra parte em débitos. 

Os recebidos somaram R$ 1,16 milhão, dos quais R$ 493 mil tiveram origem em sua mãe, a aposentada Izabel Medeiros de Freitas, o que faz os investigadores acreditarem que tenha sido uma maneira de ocultar a origem do dinheiro. 

O restante do dinheiro recebido pelo PM veio de sete empresas ou empresários e quatro pecuaristas – entre eles Isabella Zamora, que movimentou R$ 110 mil. Um outro policial também aparece com destaque nas transações, mas a PF não chegou à relação dele com os outros investigados, segundo o relatório.

Jorge chegou a entrar com um habeas corpus no TRF-1 para tentar a sua exclusão do inquérito. No pedido, sua defesa afirmava que o subtenente nunca esteve na Fazenda Palotina, “onde teriam ocorrido, em várias datas, conflitos agrários envolvendo supostos capangas do senhor Sidnei Zamora”. 

Sobre a movimentação financeira apontada pelas investigações, o militar alegava ter sido “decorrente da compra de reses para abate, com recursos financeiros de sua mãe”. Relator do caso, o desembargador Marcos Augusto de Sousa decidiu pela manutenção das investigações.

Zamora tenta há décadas regularizar a área – com sucessivas derrotas

O relatório da PF se debruça também na história de posse da Fazenda Palotina, área gigantesca cujo tamanho é difícil de precisar. Ao Sistema Nacional de Cadastro Rural, Zamora, o autodeclarado proprietário, informa que são 28 mil hectares. Já ao Sistema de Cadastro Ambiental Rural, a medida foi de 40,7 mil hectares. Em um terceiro documento, a propriedade aparece com 36 mil hectares.

De todo modo, na medida mais modesta, a propriedade é maior do que cinco das 27 capitais brasileiras: Recife, João Pessoa, Aracaju, Natal e Vitória. Nas outras medidas, o terreno chega a ter uma extensão maior que Fortaleza e Belo Horizonte.

Zamora tenta regularizar a área há pelo menos 26 anos. E há décadas a legitimidade da posse é questionada em sucessivas investigações e cancelamentos de registro. A irregularidade também é citada na CPI da Ocupação de Terras Públicas da Amazônia, cujo relatório final foi apresentado em 2001, além das investigações atualmente em curso.

A perícia da Polícia Federal aponta a Fazenda Palotina como uma parte do antigo Seringal Natal ou Novo Natal, que tinha uma área de 155,9 mil hectares e estava registrado em nome da empresa Sebastião Dantas e Cia. A entrega do terreno para a empresa está baseada numa decisão de um juiz estadual datada de 1965, sem qualquer registro de seu tamanho.

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Além da falta de informações, a decisão esbarra em um problema técnico, porque a área é federal, fora da alçada da justiça estadual. O título da terra foi suspenso em 1983 pelo antigo Tribunal Federal de Recursos.

Em 2001, a partir do relatório final da CPI da Ocupação de Terras Públicas Federais na Amazônia, a Justiça cancelou todas as matrículas de imóveis em terras da União que foram ocupadas irregularmente. Funcionários de diversos cartórios foram afastados por suspeita de participação em irregularidades. 

Na época, foram cancelados os registros de mais de 7,9 milhões de hectares nos municípios de Lábrea e Pauini, que somavam 72,3% do tamanho total dos municípios. A propriedade que seria a origem da Fazenda Palotina estava entre eles. 

O patriarca Zamora, que não era citado diretamente na CPI, entrou com um recurso administrativo em 2005 para tentar anular o cancelamento da matrícula da propriedade. O caso foi levado pela Advocacia Geral da União para o Conselho Nacional de Justiça, e a matrícula foi cancelada definitivamente em 2007. No ano seguinte, houve uma nova derrota de Zamora: a criação da Floresta Nacional Iquiri, com incidência dentro da área que o pecuarista teria se apropriado. 

Agora, a investigação da Polícia Federal aponta tentativas de Zamora de burlar a decisão e regularizar a propriedade de outras maneiras, inclusive com o uso de laranjas. 

Em 2017, o então presidente Michel Temer, do MDB, elevou para 2,5 mil hectares o tamanho de propriedades que poderiam ser regularizadas na Amazônia. A medida foi muito criticada na época por representar um aumento de mil hectares em relação à medida anterior, do governo Lula.

No ano seguinte, a família entrou com três pedidos no Incra, em que as medidas eram muito próximas ao limite máximo, em nome de Zamora Filho, Laudeir Malacrida – sócio de Zamora em outros negócios –, e Washington Jorge Neto – filho de uma irmã do fazendeiro.

Para a Polícia Federal, o fracionamento e os pedidos em nome de terceiros apontam para um “esquema de grilagem sofisticado, por meio de falsidade ideológica, visando a legitimação de sua ocupação irregular e a exploração extensiva de recursos em detrimento dos objetivos de regularização fundiária e justiça social que fundamentam a legislação de terras no Brasil”.

Relatório da Polícia Federal cita potencial "esquema de grilagem sofisticado" (Foto: Reprodução)
Relatório da Polícia Federal cita potencial “esquema de grilagem sofisticado” (Foto: Reprodução)

Delegado aposentado da PF é investigado por atuar a favor da fazenda

A estratégia jurídica de Zamora fica a cargo do advogado Antonio Carlos Carbone, especialista em regularização agrária. Carbone representou Zamora como advogado no pedido de investigação contra os moradores do acampamento que os acusa de ser uma organização criminosa e busca responsabilizá-los pelo desmatamento dentro das áreas reivindicadas pelo fazendeiro.

O advogado também é o responsável pelas ações que buscam o reconhecimento da posse na defesa do fazendeiro em processo do Incra, que inclui diversos fazendeiros da região que são acusados de grilagem. 

Carbone cita como possível testemunha da ocupação “mansa e pacífica” da Fazenda Palotina um ex-delegado da Polícia Federal chamado Mauro Sposito.

O relatório da PF cita que o delegado aposentado atualmente trabalha como advogado no Amazonas e seria, segundo moradores do acampamento, ligado a Zamora. Os extrativistas afirmam que Sposito chegou a ameaçá-los e atua junto a funcionários de órgãos ambientais para que eles sejam multados por desmatamento que não teriam praticado.

‘Correição apontou que o título que deveria fundamentar a transferência das terras para Zamora inexiste nos livros oficiais’.

Sposito ocupou a superintendência da PF no Amazonas até 1998, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, decidiu afastar todos os delegados e agentes da PF que respondiam a processos disciplinares ou judiciais. Sposito havia sido indiciado por um suposto desvio de recursos entre o órgão e o INSS.

Já recentemente, o delegado foi um dos responsáveis por entrar com notícia-crime contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, por suposto abuso de autoridade.

Em julho de 2024, Sposito foi incluído no rol dos investigados pelo corregedor-geral de Justiça do Amazonas, Jomar Ricardo Saunders Fernandes. O corregedor pediu a abertura de investigações contra Sposito com base em vídeos, aos quais a reportagem não teve acesso, que mostrariam a sua ação em defesa da Fazenda Palotina. 

O pedido foi resultado de uma correição feita em março daquele ano nas comarcas de Lábrea e Boca do Acre. Na ocasião – repetindo o que aconteceu na CPI de 2001 –, os responsáveis pelos cartórios das duas cidades foram afastados dos cargos. O corregedor destacou as nulidades nas matrículas da propriedade e reafirmou o cancelamento de sua validade.

A correição também apontou que o título que deveria fundamentar a transferência das terras para Zamora inexiste nos livros oficiais. As folhas às quais o título é remetido não estavam no livro de registros.

O corregedor também pediu na época que a Corregedoria da Polícia Militar do Acre e a Promotoria de Controle Externo da Atividade Policial do Estado do Acre investigassem a presença de PMs do estado armados e fardados na proteção da Fazenda Palotina.

Eles teriam participado da tentativa de reintegração de posse que havia sido determinada por um juiz local da Justiça estadual, em março de 2024. A decisão foi derrubada pelo desembargador Airton Gentil dias depois.

Além de desrespeitar a competência da Justiça Federal, o juiz de primeira instância não havia comunicado a reintegração de posse à Comissão de Conflitos Fundiários do tribunal, como havia sido determinado pelo STF. 

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