João Filho

Bolsonaristas comemoram sanção a Moraes, mas a real é que Lula cresceu e a soberania venceu

Democracia brasileira mostrou força contra a aventura golpista da família Bolsonaro motivada por burrice, delírios e medo da prisão.

Jair Bolsonaro participou de motociata com apoiadores em Brasília no último domingo (Foto: Adriano Machado/Reuters/Folhapress)

Tivemos uma semana agitada, especialmente a última quarta-feira. Começou com Lula sendo celebrado no The New York Times como o único estadista que enfrentou Donald Trump. Depois teve Alexandre de Moraes sendo sancionado pela Lei Magnitsky, e o tarifaço contra o Brasil virando um tarifinho. 

À noite, todos pareciam estar felizes. Moraes foi ao estádio ver o jogo do seu time, e Eduardo Bolsonaro apareceu em live chorando de emoção por ter se vingado do juiz e finalmente poder comer seu chocolate

Bolsonaristas, presos no mundo da fantasia, cantaram vitória depois das sanções do Tio Sam aplicadas contra seu principal algoz. Eles acreditam piamente que a ação de Trump contra Moraes representa um avanço da sua empreitada golpista. Trata-se de uma vitória de Pirro, já que, apesar de ser simbolicamente um grave ataque ao país,  na prática não afeta em nada o governo e a economia. 

No mundo real, aquele em que a realidade dos fatos importa, Lula obteve uma vitória política retumbante e incontestável. Os golpistas levaram mais uma surra quando Trump recuou do tarifaço que o filho de Bolsonaro e o neto de Figueiredo — os nepo babies do golpismo, como diz Reinaldo Azevedo — se gabavam de ter conseguido. O governo brasileiro negociou e conseguiu com que os principais setores exportadores para os EUA ficassem de fora do tarifaço. 

Há uma semana, parecia que o Brasil seria o país mais prejudicado pela insana guerra tarifária de Trump. Hoje, pode-se dizer que fez um acordo muito melhor que o da União Europeia, que cedeu muito mais além do aceitável. A lista de produtos brasileiros que ficaram isentos do tarifaço inclui os principais setores exportadores estratégicos, como o da aviação.

De qualquer forma, não há muito o que comemorar. Exportadores de pequeno e médio porte sofrerão os impactos do ataque tarifário. Mas não será sufocante para a economia brasileira como sonhava a máfia bolsonarista em seus intentos golpistas. 

O ataque dos EUA contra o Brasil, através da aplicação da Lei Magnitsky contra um ministro do STF, torna a derrota política do bolsonarismo ainda maior. O tribunal saiu fortalecido, com apoio dos presidentes da Câmara, do Senado e do Executivo. Os Três Poderes entendem que a soberania está sendo ameaçada por um país estrangeiro com o apoio do bolsonarismo. 

Até pouco tempo atrás, o clima era outro no Congresso. A cúpula da Câmara e do Senado estava em crise com o governo e chegou a fazer um acordo com parlamentares bolsonaristas para aprovar um projeto de anistia. Tudo mudou depois do circo internacional armado pelos nepo babies do golpismo. Ninguém quer aparecer na foto ao lado de traidores da pátria, ainda mais faltando um ano para eleição. 

Jair Bolsonaro participou de motociata com apoiadores em Brasília no último domingo (Foto: Adriano Machado/Reuters/Folhapress)
Jair Bolsonaro participou de motociata com apoiadores em Brasília no último domingo (Foto: Adriano Machado/Reuters/Folhapress)

A população entendeu o que está em jogo. Novas pesquisas mostram que os golpistas seguem perdendo apoio. Segundo o Datafolha da última quinta-feira, 89% dos brasileiros acreditam que a guerra tarifária de Trump causará danos à economia brasileira; e 77% entendem que suas finanças pessoais serão afetadas. Mais da metade dos brasileiros (57%) acredita que Trump errou ao pedir que o julgamento de Bolsonaro seja interrompido. 

É nesse cenário que o bolsonarismo segue defendendo as ações de Trump. Todos os dados da realidade mostram que a família Bolsonaro está no caminho errado, mas ela seguirá pisando fundo no acelerador. Essa aventura golpista internacional não é motivada por qualquer traço de racionalidade, mas por burrice, delírios e medo de ir para a cadeia. 

Sob os olhares do mundo, o bolsonarismo caiu ainda mais em descrédito. Tirando os doidinhos de extrema direita que infestam o globo, mais ninguém respeita quem trabalha para sabotar o seu próprio país. O mesmo acontece com Trump. A aplicação sem sentido da Lei Magnitsky está sendo rejeitada por toda comunidade internacional. 

Até mesmo o criador da lei manifestou indignação. William Browder,  o executivo financeiro britânico que idealizou a liderou uma campanha pela aprovação da Magnitsky nos EUA, deixou claro que a ofensiva contra Moraes é um “abuso das intenções da lei”. 

Segundo ele, a sanção ao ministro do STF não se enquadra em nenhuma das hipóteses previstas na lei.  “Ela não foi criada para ser usada para vinganças políticas. O uso atual da Lei Magnitsky é puramente político e não aborda as questões de direitos humanos para as quais ela foi originalmente elaborada”, deixou claro o britânico. 

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Essa deturpação da lei para atacar uma nação democrática e historicamente aliada aos EUA causou impacto na comunidade internacional. A truculência de Trump com uma nação amiga não tem precedentes na história. Não há dúvidas de que essa instabilidade provocada pelo governo estadunidense, de maneira gratuita, arranhará ainda mais a credibilidade do país perante o mundo e pode comprometer futuros acordos de cooperação. 

Resta saber se Trump insistirá nessa insanidade que deixa aliados desconfiados justamente no momento em que a China tem tragado países para sua área de influência. O custo para defender uma família de vagabundos latino-americanos será alto para o Tio Sam. 

Segundo os nepo babies do golpismo, que seguem fazendo ameaças à democracia, a Lei Magnitsky continuará sendo aplicada para outras autoridades caso não se anistie os golpistas. Será? Apesar do golpista norte-americano ser imprevisível, eu aposto que ele irá recuar mais uma vez. Esse tigrão sempre acaba virando um tchutchuco.

Já Lula tem a faca e o queijo na mão para sair dessa história ainda mais gigante. O presidente manteve a espinha ereta diante da ameaça da maior potência do mundo e não caiu na armadilha armada para ele. Sua imagem de grande estadista foi reforçada externa e internamente. 

Pela primeira vez, o índice de aprovação do governo superou o de desaprovação, segundo pesquisa Atlas divulgada nesta semana. A crise forjada pelo bolsonarismo fez com que a gestão Lula passasse a ser melhor avaliada. Essa tendência positiva vem sendo confirmada pelas pesquisas das últimas semanas.   

Na briga contra o golpismo bolsonarista e a maior potência do mundo, a democracia brasileira marcou pontos importantes. Ainda assim, no cenário geopolítico, Trump continua sendo um chimpanzé bêbado portando uma metralhadora. Mesmo que ele acorde de ressaca no dia seguinte e arregue, sempre haverá algum custo para as suas vítimas. 

De qualquer forma, haja a ameaça que houver, nada mudará o destino dos golpistas nos tribunais. Mesmo com toda essa gritaria dos valentões americanos, Bolsonaro continuará de tornozeleira eletrônica, o seu filhote continuará chorando no seu exílio fake e Alexandre de Moraes continuará indo aos jogos do Corinthians.

O seu futuro está sendo decidido longe dos palanques.

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