Captura de tela do vídeo já excluído, que viralizou por suposta autoria de Luigi Mangione, suspeito do assassinato do CEO da UnitedHealthcare, Brian Thompson.

Não acredite no suposto vídeo de Luigi Mangione

Vídeo misterioso atribuído a Luigi Mangione, suspeito de assassinar o CEO Brian Thompson, é falso - e explicamos o motivo.

Captura de tela do vídeo já excluído, que viralizou por suposta autoria de Luigi Mangione, suspeito do assassinato do CEO da UnitedHealthcare, Brian Thompson.

O vídeo era surpreendente.

Horas depois da prisão de Luigi Mangione pelo suposto papel no assassinato de Brian Thompson, CEO da UnitedHealthcare, um clipe apareceu em uma página do YouTube com o nome e a imagem do suspeito. Com o título “A Verdade”, ele começava com um timer de contagem regressiva e a mensagem: “se você vir isso, já estou preso”.

Em seguida, no canto inferior da tela, os dizeres “Em breve…”. Então a data “11 de dezembro” piscava rapidamente. O vídeo terminava com uma mensagem final: “Está tudo programado, tenha paciência. Adeus por enquanto.”

O vídeo enigmático foi apagado do YouTube posteriormente. Ele havia sido enviado para um canal chamado PepMangione — o mesmo nome de usuário do perfil de Mangione no Twitter. A página continha informações de conhecimento público sobre Mangione, como sua idade e a universidade onde estudou.

(N. da T.: Matt Novak, do site Gizmodo, fez uma cópia do vídeo e publicou em seu canal.)

No frenesi da cobertura de notícias após a prisão do suspeito, o vídeo viralizou. Mas uma perícia do vídeo, feita pelo Intercept dos EUA, comprova que o vídeo era falso.

Ele estreou no YouTube em 9 de dezembro de 2024, às 14h35, GMT -5. Mangione havia sido detido horas antes, às 9h15, GMT -5. A função “premiere” do YouTube permite a um usuário agendar com antecedência data e horário para publicar um vídeo. Isso significa que, teoricamente, era possível que Mangione tivesse agendado a publicação do vídeo em um horário específico no futuro, talvez adiando a hora de publicação a cada dia, até que não conseguisse mais adiar porque estava preso.

Essa foi a teoria proposta originalmente em uma matéria sobre o vídeo na revista Newsweek — antes de uma edição que removeu essa especulação.

Mas uma análise da marcação de horário do vídeo revela que o arquivo só havia sido enviado para o YouTube minutos antes do seu horário de estreia, descartando a possibilidade de que o próprio Mangione tivesse programado o lançamento.

Existem algumas maneiras de determinar quando o vídeo foi enviado para o YouTube. Em uma consulta ao YouTube, é possível determinar o momento exato em que um vídeo foi publicado no site — em outras palavras, o primeiro momento em que ele pôde ser visto.

Também é possível determinar o momento exato em que um vídeo foi codificado pelo YouTube pela primeira vez — ou seja, o momento em que um clipe foi inicialmente carregado por seu criador nos servidores do YouTube.

Com uma análise de metadados do vídeo, usando ferramentas como ExifTool e MediaInfo, o Intercept determinou que o vídeo havia sido codificado e modificado pela última vez em 9 de dezembro de 2024, às 14h33 GMT -5 — dois minutos antes de ser publicado no YouTube. A essa altura, Mangione já estava preso há horas. A não ser que ele estivesse editando vídeos enquanto estava sob custódia da polícia, esse vídeo não poderia ter sido carregado por Mangione.

Outro sinal de alerta é o próprio canal de YouTube. O canal foi criado em 20 de janeiro de 2024, quase um ano antes do assassinato de Thompson. Os canais de YouTube, porém, podem ser renomeados à vontade — o que significa que esse canal pode nem sempre ter se chamado PepMangione. De fato, é o que aconteceu neste caso, segundo o YouTube.

“Os metadados do canal foram atualizados após a disseminação das notícias sobre a prisão de Luigi Mangione, incluindo atualizações no nome e no identificador do canal”, disse um representante da empresa.

O YouTube também informou ter excluído três canais que realmente pertenciam a Mangione, em conformidade com suas diretrizes de responsabilidade para criadores de conteúdo. “Esses canais não publicavam conteúdo há mais de 7 meses”, disse o representante.

O canal do YouTube não foi o único perfil duvidoso de redes sociais a aparecer após a prisão do suspeito. Uma análise de plataformas online mostra que foram criados na segunda-feira vários perfis com o nome PepMangione em serviços como Bluesky e Telegram.

Atualização: 10 de dezembro de 2024, 13h27, GMT -5
Esta matéria foi atualizada para incluir comentários do YouTube sobre um perfil se passando por Luigi Mangione, e também a notícia de que o site removeu três perfis que pertenceriam ao verdadeiro Mangione.

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