João Filho

Brinde o fim de Jair Bolsonaro, mas siga atento ao bolsonarismo

Mesmo com tantas evidências dos crimes de Jair Bolsonaro, boa parte da população continua fanatizada pela ideologia bolsonarista.

O ex-presidente Jair Bolsonaro é um morto-vivo na política e ninguém duvida que sua prisão é inevitável, mas o bolsonarismo ainda se manterá forte por um bom tempo. Ilustração: Intercept Brasil

O ex-presidente Jair Bolsonaro é um morto-vivo na política e ninguém duvida que sua prisão é inevitável, mas o bolsonarismo ainda se manterá forte por um bom tempo. Ilustração: Intercept Brasil

O comício verde e amarelo de Jair Bolsonaro na Avenida Paulista confirmou que o bolsonarismo continua forte e ainda tem capacidade de mobilização. O golpista extremista continua sendo o grande líder da direita brasileira, tendo conseguido colocar muita gente na rua e aparecer na foto com três governadores de estados importantes ao seu lado. 

Essa força política não chega a ser uma novidade e não muda em absolutamente nada a sua condição de inelegível e de futuro presidiário. Bolsonaro é um morto-vivo na política, mas o bolsonarismo se mantém e se manterá forte por um bom tempo. 

Apesar da demonstração de força política, o ato foi um grito dos desesperados, uma tentativa de aumentar o custo político da prisão de Bolsonaro, já que ninguém mais duvida de que ela é inevitável. 

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Não foi à toa que Bolsonaro pediu anistia para seus parceiros de crimes contra a democracia. Chamou os criminosos que invadiram e destruíram os prédios dos Três Poderes em Brasília de “pobres coitados” e disse que “as penas fogem ao mínimo da razoabilidade”. 

Bolsonaro segue empenhado em minimizar a gravidade dos crimes cometidos por ele e sua turma. Os golpistas bloquearam estradas, incendiaram carros e caminhões, planejaram um atentado à bomba no aeroporto de Brasília, tentaram bloquear refinarias de petróleo, danificaram torres de transmissão de energia elétrica, tentaram invadir a sede da Polícia Federal e destruíram os prédios dos Três Poderes. 

Esses são os “pobres coitados”. Para quem exalta golpe de 1964 e trata milico torturador como herói, não deixa de ser coerente tratar os violentos ataques contra a democracia como mero vandalismo.

O machão que se dizia “imbrochável”, que passou quatro anos de mandato presidencial gritando e enfiando a faca no pescoço da democracia, chega ao fim de sua carreira política de joelhos, pedindo que o golpismo seja perdoado. 

Se, por um lado, houve demonstração de força política do bolsonarismo na Paulista, por outro, vimos o seu grande líder enfraquecido e pedindo perdão pelos crimes que diz não ter cometido. É patético, mas não deixa de ser satisfatório para os democratas. 

Brindemos o fim de Bolsonaro, mas sigamos atentos ao bolsonarismo. 

Bom, dias depois de o líder golpista clamar por perdão, outros “pobres coitados” foram acordados com o toc toc da Polícia Federal na porta de casa. Depois dos invasores que destruíram os Três Poderes, chegou a vez dos empresários que os financiaram irem para a cadeia. 

Façamos mais um brinde. Além de três empresários serem presos preventivamente, houve 24 mandados de busca e apreensão, e outros sete financiadores serão obrigados a desfilar por aí de tornozeleira eletrônica. É isso o que eu chamo de festa da democracia! 

Tudo está sendo feito “dentro das quatro linhas”. Essas ações da polícia e do Judiciário estão fartamente sustentadas por provas e seguiram rigorosamente o processo legal. Mas esses três empresários presos são apenas a ponta do iceberg do financiamento. 

As quermesses golpistas foram montadas nos quartéis de todo o Brasil e contaram com uma estrutura gigantesca, com trios elétricos, fornecimento de alimentos, banheiros químicos, cozinhas industriais, etc. 

É muita grana envolvida. Certamente, há outros empresários que estão indo dormir com medo de amanhecer com a polícia na porta de casa. 

A narrativa de que os militantes bolsonaristas atuaram de forma espontânea desmoronou depois que ficou comprovado o financiamento dos empresários. Trata-se de uma organização criminosa que atuou em conjunto durante meses. Há os executores, os financiadores e os mentores intelectuais do movimento golpista que desembocou no 8 de Janeiro. 

Mesmo com tantas evidências sobre a mesa, boa parte da população continua fanatizada pela ideologia bolsonarista. Uma pesquisa Quaest feita nos dias seguintes à manifestação mostra que quase 40% da população ainda acredita que Bolsonaro está sendo perseguido. 

É assustador constatar o tamanho da força que a bolha informativa do bolsonarismo ainda tem entre os brasileiros. Mesmo com uma pororoca de provas incontestáveis surgindo semana após semana no noticiário, há milhões de pessoas se alimentando das fake news fabricadas meticulosamente pelo bolsonarismo e ignorando os fatos que surgem debaixo do nariz. 

São pessoas desprovidas de cultura democrática, movidas pelos sentimentos despertados por líderes religiosos e/ou pelas mentiras que circulam na bolha bolsonarista no Whatsapp. 

Bolsonaro pode ser flagrado assassinando uma pessoa em praça pública com transmissão ao vivo em rede nacional e, ainda assim, haverá uma narrativa para embaçar a visão do público, esconder os vestígios do crime e de alguma forma transformá-lo em um perseguido pelo “sistema”. 

Despertou-se um fanatismo profundo que cegou parte relevante da população. Todos nós temos conhecidos e parentes enfeitiçados pela ideologia bolsonarista e sabemos o quão profundo é esse buraco. Trata-se de uma bomba relógio com a qual os democratas terão que lidar nos próximos anos. Não será tarefa fácil desarmá-la. 

Do ponto de vista jurídico, a força política que o bolsonarismo demonstrou nas ruas é irrelevante. O fato é que boa parte dos seus líderes estão cercados e a caminho da cadeia. 

Os primeiros presos foram os executores dos crimes do 8 de Janeiro, agora são os financiadores, e os próximos serão os cabeças que planejaram tudo. 

Anistia é o escambau! Que os golpistas sofram o peso e o rigor das leis. Esse é o único caminho para que não haja outro 8 de Janeiro.

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