Nós lemos o inquérito sobre a morte em Paraisópolis na campanha de Tarcísio de Freitas. E descobrimos pelo menos sete lacunas na investigação.

Tarcísio em Paraisópolis: as 7 contradições e omissões na investigação do assassinato durante a campanha

MPSP apontou como responsável pela morte um policial cujo fuzil sequer atirou. Inquérito foi encerrado sem responder perguntas fundamentais.

Nós lemos o inquérito sobre a morte em Paraisópolis na campanha de Tarcísio de Freitas. E descobrimos pelo menos sete lacunas na investigação.

Há um ano, a campanha de Tarcísio de Freitas, candidato do Republicanos ao governo de São Paulo, terminou com uma vitória – e um morto. Felipe da Silva Lima, de 28 anos, foi assassinado em meio a um tiroteio durante um evento em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. O caso, na reta final da campanha, foi inicialmente divulgado como um “atentado” contra Tarcísio.

Testemunhas apontaram que a equipe de segurança de Tarcísio alvejou Felipe, que estava desarmado. Pelo menos um policial federal e um agente da Abin faziam a segurança particular do candidato, além de policiais militares fardados e à paisana. A investigação apontou um PM como autor do tiro fatal, mas a Polícia Civil aponta para um nome e o Ministério Público de São Paulo, outro.

Especialistas também apontaram uma série de violações na cena do crime. Mesmo assim, o inquérito foi arquivado rapidamente, ainda no primeiro mês de mandato do novo governador.

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Resolvemos nos debruçar sobre esse inquérito. Encontramos contradições nas versões dos envolvidos, omissões nas informações sobre o tiroteio e muitas perguntas abertas no documento. As armas dos seguranças de Tarcísio, por exemplo, sequer foram periciadas. E a arma usada pelo policial apontado como autor do disparo que matou Felipe, um fuzil, não havia atirado, apontou a perícia. Ainda assim, o MPSP se contentou com as versões narradas ali e pediu o arquivamento. 

O caso entrou novamente sob investigação em junho de 2023, quando a Polícia Federal abriu um novo inquérito para apurar se as informações de que Tarcísio teria sido vítima de um atentado, divulgadas por apoiadores e políticos da extrema direita, partiram da própria campanha do então candidato.

Relembre o que aconteceu e veja, a seguir, as contradições e omissões que o MPSP ignorou.

Ato de campanha de Tarcísio termina na morte de homem desarmado

Na manhã do dia 17 de outubro de 2022, uma segunda-feira, a Casa Belezinha, centro comunitário de Paraisópolis, favela de São Paulo, estava inaugurando um polo universitário na região. O evento começaria às 10h, e Tarcísio de Freitas, então candidato pelo Republicanos, foi ao local. Tarcísio resolveu comparecer mesmo sem ter sido convidado pelos organizadores do evento. Repórteres e equipes de TV também estavam presentes. Todos estavam no terceiro andar do prédio quando, por volta das 11h30, um tiroteio começou na rua.

Não durou mais do que 10 minutos. Uma pessoa foi morta. Todos os integrantes da equipe de Tarcísio, assim como os profissionais da imprensa, foram levados à van que prestava serviço de transporte ao candidato e saíram da favela em segurança.

Àquela altura, o evento era a principal pauta dos noticiários e a extrema direita – puxada pela Jovem Pan – alardeava que havia ocorrido um atentado contra Tarcísio de Freitas. Ele próprio também disse que foi “atacado por criminosos“, mas voltou atrás logo em seguida.

A van desembarcou no QG da campanha, no bairro da Vila Mariana. Lá, um cinegrafista da Jovem Pan foi ordenado a apagar as imagens que tinha feito da troca de tiros. “Você filmou os policiais atirando?”, perguntou um integrante da campanha de Tarcísio de Freitas ao cinegrafista, em áudio publicado uma semana após o tiroteio. “Não, trocando tiro efetivamente, não. Tenho tiro da PM para cima dos caras”, o cinegrafista respondeu. “Você tem que apagar”, o representante da campanha impôs.

Isso é o que se sabe com certeza. A partir daqui, tudo são versões – e elas não batem nem entre policiais que estavam ombro a ombro. Todas as informações abaixo foram coletadas pela Polícia Civil e inseridas no inquérito policial que deixou de ser sigiloso em janeiro de 2023.

1. A equipe de Tarcísio chamou ou não a polícia?

Duas duplas de policiais militares à paisana haviam sido escaladas para o evento – o sargento Ed Carlos Ferreira Lima e o cabo Clovis Aparecido Barboza, do 16º Batalhão da Polícia Militar, e o cabo Valmir Veloso de Paula e o soldado Henrique Gama dos Santos, do Comando do Quartel General da PM. A primeira chegou ao local às 10h. As duas duplas se dividiram, com um policial de cada uma ficando ao lado de fora e o outro no interior do evento. Clovis ficou dentro de um carro filmado em frente ao local do evento. Henrique Gama ficou em pé, na porta do local. Até o momento, segundo os depoimentos, eles não sabiam da presença um do outro.

Foi então que, segundo os relatos, uma moto com dois ocupantes passou filmando o interior do veículo em que Clovis estava. Ele, de dentro do carro, também filmou os indivíduos, e em seguida avisou seu parceiro, que diz ter ido a uma janela da Casa Belezinha e visto que o garupa da moto estava ajeitando um volume na cintura. A dupla pediu orientações ao tenente da PM Ronald Quintino, que estava nas imediações do local, e receberam ordens de evadir, pois teriam sido descobertos. Eles foram embora e se reuniram com Quintino em um posto de combustível a cerca de 300 metros dali.

A partir daqui, a visão deles difere da dos outros policiais à paisana. Ao chegar ao ponto de encontro, o cabo Clovis disse que recebeu uma ligação da “equipe de escolta do candidato” dizendo que indivíduos estavam trocando tiros perto do local do evento. Os dois policiais à paisana dizem ter ficado no posto de combustível enquanto Ronald Quintino se dirigia com sua equipe ao tiroteio, e só terem retornado ao local depois do cessar-fogo.

A ligação recebida por Clovis também aparece no depoimento de Ronald Quintino e de Paulo Fernando Leoneti Costa, supervisor do policiamento em Paraisópolis na manhã do tiroteio, que confirmam que a equipe de segurança de Tarcísio de Freitas ligou pessoalmente ao cabo Clovis para pedir ajuda.

Os integrantes da equipe de segurança de Tarcísio não foram identificados pela Polícia Civil no inquérito. Junto do candidato estavam Danilo Cesar Campetti, policial federal em licença para concorrer ao cargo de deputado estadual, e Fabrício Cardoso de Paiva, oficial de inteligência da Abin em licença não-remunerada desde julho de 2022. Foi Paiva que pressionou o cinegrafista da Jovem Pan para apagar as imagens feitas no local do tiroteio, como revelou o Intercept. A assessoria de imprensa da campanha de Tarcísio de Freitas confirmou que a ordem de exclusão havia partido de um integrante da campanha

Campetti e Paiva afirmam nos depoimentos que não estavam no evento na condição de seguranças, mas de “amigos”. Paiva afirma sequer saber se Tarcísio estava acompanhado de seguranças. Mas Clovis, o PM à paisana que foi filmado dentro do carro, disse que recebeu uma ligação da equipe de segurança de Tarcísio – informação corroborada por outros três policiais militares.

Em seu depoimento à Polícia Civil, Fabricio Paiva relatou não saber que havia policiais à paisana no local. Nem Paiva, nem Campetti falaram ou foram perguntados sobre a ligação recebida pelo cabo Clovis de alguém da equipe de segurança do candidato.

Perguntamos à secretaria de comunicação do governo estadual por que Paiva disse à Polícia Civil não ser integrante da campanha de Tarcísio de Freitas. Uma nota da própria campanha dizia que a ordem de exclusão de imagens ao cinegrafista da Jovem Pan – confirmadamente vinda de Paiva – havia partido de um integrante da campanha. 

A secretaria respondeu que o agente da Abin “não recebia qualquer tipo de remuneração do comitê eleitoral e acompanhava as agendas do então candidato na condição de apoiador”, contrariando a nota emitida à época, e afirmou que não havia “qualquer ingerência da campanha na conduta de terceiros”, se referindo à Paiva e Campetti.

Marcas de tiros em trailers na rua onde aconteceu tiroteio em Paraisópolis durante evento de campanha de Tarcísio de Freitas.

2. Onde os ‘amigos’ de Tarcísio estavam na hora do tiroteio?

Segundo os relatos, no centro do tiroteio estava Henrique Gama, da outra dupla de PMs à paisana. Ele, que também teria sido identificado como policial pelos homens que filmaram a viatura, chamou seu parceiro. Enquanto tentavam contato com unidades policiais, os homens voltaram, dessa vez em maior número e com armas longas, e começaram a disparar.

Por não saber quanto tempo levaria para terem reforços, o cabo Valmir Veloso diz, em seu depoimento, ter deixado Gama revidar sozinho aos disparos para economizar munição. Gama estava armado com uma pistola Taurus .40, sua arma funcional. Ele diz ter disparado sete tiros. Para se proteger, ele se abrigou atrás de um Jeep Compass, blindado, que estava parado na frente do local. Os dois seguiram ali até a chegada do tenente da PM Ronald Quintino, que fez uma incursão e repeliu os homens armados.

A versão dos dois policiais à paisana é a mesma, em essência. Gama diz que Valmir se abrigou na parede do estabelecimento, e Valmir diz ter se abrigado junto de Gama atrás do carro blindado. Nenhuma outra contradição é flagrante.

Da dupla de policiais à paisana, isso é unânime, Henrique Gama é apontado como o único que atirou. Mas eles não eram os únicos armados no local. 

Campetti e Paiva afirmam que estavam no terceiro andar quando o tiroteio começou. Campetti relata que foi à janela assim que ouviu os tiros, mas, por não ter visão da rua, desceu imediatamente, colocou seu distintivo no peito, se apresentou aos policiais à paisana como policial federal e se abrigou também atrás do veículo blindado – o que não foi citado em nenhum momento nos depoimentos dos policiais à paisana.

3. Primeiro registro da polícia diz que tiros começaram com equipe de Tarcísio

Apesar de ter ido para a linha de tiro e se abrigado em uma situação de risco, Campetti diz não ter disparado. Ele estava com sua arma funcional, uma pistola Glock G17 da Polícia Federal. O então candidato a deputado federal disse ter ficado lá até depois da incursão da PM, quando não havia mais risco.

Paiva, por sua vez, diz que todos que estavam no terceiro andar do prédio ficaram no chão quando ouviram os disparos, ele incluído, e que só saiu do local quando não havia mais perigo. Paiva não diz em seu depoimento quando Campetti saiu do terceiro andar do prédio, apenas que o encontrou na rua quando a situação já estava controlada. Ele diz que portava sua arma particular, uma pistola Glock G25, mas que não realizou disparos e que não viu Campetti sacando sua arma – “tampouco qualquer outra pessoa que estava no evento juntamente com Tarcisio”, complementa. 

As versões de Campetti e Paiva são contestadas por um documento oficial. Em mensagem de assessoramento à DHPP, Delegacia de Homícidios e Proteção a Pessoa, que assumiu a responsabilidade pelo caso logo após o ocorrido, o 89º DP, delegacia responsável pela região, afirmou que a equipe de segurança de Tarcísio de Freitas efetuou disparos. 

A mensagem foi enviada às 14h01 daquela segunda-feira: “Chegou ao conhecimento deste plantão policial que na data de hoje o atual candidato ao Governo do Estado, Tarcísio de Freitas, estava no interior da comunidade Paraisópolis, pela Rua Manoel Antônio Pinto, quando ocorreram disparos de arma de fogo em circunstâncias ainda não esclarecidas. O que se sabe é que o corpo de segurança do candidato efetuou alguns disparos e depois ficaram abrigados no imóvel de número 223 até a chegada dos policiais militares de área. Que com a chegada dos policiais militares ocorreram outros disparos”.

Ninguém foi perguntado em depoimento sobre essa mensagem e a origem da informação de que tiros teriam sido disparados por seguranças de Tarcísio.

Apesar da mensagem do 89º DP indicar que os seguranças de Tarcísio dispararam, o inquérito da Polícia Civil não identificou quem integrava esse corpo de segurança. Também não foi identificado quem ligou para o cabo Clovis.

Questionamos a Polícia Civil sobre a informação de que seguranças de Tarcísio teriam atirado. Em resposta, o órgão disse que “quando os policiais do GEACRIM chegaram ao local para atender a ocorrência verificaram que os policiais envolvidos no episódio pertenciam ao batalhão da área e ao serviço reservado do Comando Geral”, afirmando que a mensagem de assessoramento que aponta para os seguranças de Tarcísio estava errada.

Também perguntamos quem integrava o corpo de seguranças do então candidato e quem ligou para o cabo Clovis. Não recebemos essas respostas.

4. A cena do crime foi adulterada

O tiroteio resultou em uma morte: Felipe da Silva Lima, de 27 anos, que pilotava a moto que filmou o policial à paisana dentro da viatura descaracterizada, foi atingido pelas costas. Com ele, havia um coldre, um relógio e um celular, mas nenhum armamento. Imagens das câmeras corporais dos policiais militares Ronald Quintino e Jorge Luiz Camargo mostram que Felipe já estava inerte às 11h24, e seus pertences foram recolhidos às 11h28. Às 11h33, trechos das imagens mostram seu corpo sendo arrastado pelos braços e pernas para dentro de uma viatura policial. 

Dias após o crime, o Intercept ouviu testemunhas que afirmaram que a viatura policial que alega ter prestado socorro a Felipe parou em um posto de gasolina antes de seguir ao Hospital Municipal do Campo Limpo, onde Felipe chegou morto. O veículo era pilotado pelo aspirante a oficial da PM Isaac Costa, que nunca foi ouvido pela Polícia Civil.

Ronald Quintino recolheu do local, além dos pertences de Felipe, artefatos balísticos de quatro calibres diferentes e um carregador de pistola da marca Glock. A justificativa para ter alterado a cena do crime foi a de que “o local estava inviável para preservação, tendo em vista a segurança dos Policiais Militares e dos moradores do local”, de acordo com os depoimentos. As imagens gravadas pelas câmeras corporais contrariam a versão: itens balísticos, como cápsulas e estojos, já estavam sendo recolhidos às 11h33, e nenhum popular estava ao redor ou ameaçando de qualquer forma a preservação da cena do crime.

Os artefatos balísticos incluíam munição de 9 mm, .40, .45 e .380. Só não foram recolhidos artefatos de fuzil, mesmo com a alegação de que os criminosos possuíam fuzis e Ronald Quintino afirmando ter disparado um tiro com o fuzil que empunhava.

Junto dos artefatos balísticos, a Polícia Civil recolheu as armas dos dois policiais que alegaram ter disparado: a pistola Taurus .40, de posse de Henrique Gama, e o fuzil Imbel 5.56, de posse de Ronald Quintino, ambos da Polícia Militar do Estado de São Paulo. As armas foram encaminhadas para perícia.

O atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Foto: Bruno Santos/Folhapress

5. PM diz ter atirado com fuzil, mas a perícia mostrou que a arma não disparou

Em seus depoimentos, os policiais à paisana que estavam no tiroteio afirmaram que policiais militares fardados efetuaram disparos. Ronald Quintino, em seu depoimento, diz ter efetuado um disparo com seu fuzil – o que é corroborado por Paulo Fernando Leoneti Costa, que o acompanhava na incursão, e até foi destacado em trecho das imagens das câmeras corporais pela Polícia Civil. O resultado da perícia, porém, vai em caminho contrário. “Apresentava vestígios compatíveis com disparo recente?” é a última de seis perguntas respondidas pelo perito criminal ao analisar o fuzil. “NÃO”, é a resposta, em letras garrafais. De acordo com a análise do perito criminal, a arma estava apta a ser utilizada, mas não o foi.

A análise contraria o relato de todos os ouvidos pela Polícia Civil, além das descobertas realizadas pelo órgão através das imagens das câmeras corporais.

Em nota, a Polícia Civil disse que “o ‘exame de recentidade’, que pode apontar se uma arma foi disparada, tem caráter orientativo e muitas vezes não é conclusivo dentro do cenário pericial”. No laudo pericial, porém, essa informação não é dada como uma possibilidade, mas como uma afirmação contundente.

A mesma perícia foi feita, inclusive, na arma portada por Henrique Gama dos Santos – e constatou que ela havia disparado.

6. Os ‘amigos’ de Tarcísio não precisaram apresentar suas armas

A perícia da Polícia Civil determinou que os artefatos balísticos recolhidos foram disparados, ao todo, por nove armas diferentes: a pistola Taurus .40 de Henrique Gama, seis 9mm diferentes, uma .45 e uma .380. Apenas as armas de Gama e Ronald, no entanto, foram periciadas.

Paiva, o único ouvido que possuía uma pistola de calibre .380, não precisou apresentar sua arma para perícia, assim como Campetti, cuja pistola poderia ter disparado algum dos artefatos de 9mm recolhidos. Também não foram analisadas as armas de Valmir Veloso, parceiro de Gama, ou Paulo Fernando Leoneti Costa e Jorge Luiz Camargo, que participaram da incursão. Questionada sobre a razão do não recolhimento, a Polícia Civil disse que “os investigadores apreenderam o armamento dos policiais militares que declararam terem feito disparos”. Quem disse que não atirou, foi liberado.

No inquérito, a Polícia Civil deduz que “ao menos oito armas foram utilizadas para disparar contra os policiais”, já que os artefatos são de nove armas diferentes e uma é de Gama. A Polícia Civil, porém, não anexou qualquer evidência de que os tiros tenham sido disparados contra os policiais.

7. MPSP desconsidera perícia de fuzil 

O relatório final do inquérito foi oferecido ao MPSP com diferenças nas versões dos policiais, nas informações de disparo, nas informações de perícia e sem informar quem integrava a segurança de Tarcísio de Freitas. Em 22 páginas, o delegado Rodrigo Borges Petrilli resumiu os depoimentos colhidos e os achados da investigação, que terminou em 26 de dezembro de 2022, a cinco dias de Tarcísio de Freitas assumir o governo do estado. Em 18 de janeiro de 2023, o MPSP se posicionou pedindo o arquivamento do caso.

O MPSP, após analisar as informações fornecidas pelo inquérito da Polícia Civil, apontou que o disparo que matou Felipe foi realizado pelo tenente da PM Ronald Quintino, o que não havia sido indicado pela Polícia Civil. Ao citar as imagens das câmeras corporais anexadas ao inquérito policial, o MPSP diz que elas “captaram o momento em que o policial Ronald efetua um único disparo de fuzil que atinge Felipe”, mas esse momento específico não foi anexado ao inquérito. A informação é reiterada logo em seguida: “durante o confronto, Felipe da Silva Lima, que estava em uma motocicleta junto com os indivíduos ainda não identificados, foi atingido por um disparo de fuzil efetuado pelo policial militar Ronald Quintino Correia Camacho”.

A posição do MPSP desconsidera a perícia realizada no fuzil. “É certo que os elementos de provas juntados aos autos evidenciam que os policiais militares efetuaram disparos de arma de fogo contra indivíduos armados que os atacaram”, o relatório do promotor Fabio Tosta Horner diz, complementando que é “forçoso reconhecer que o policial militar Ronald e os demais policiais usaram os meios necessários para repelir atual e injusta agressão, sem incorrer em excesso, tendo em vista que agiram dentro dos rígidos limites da lei”.

O MPSP deixa em aberto a participação de seguranças de Tarcísio de Freitas no tiroteio, dizendo que a possibilidade “não foi confirmada”. Mas já antecipa: “de todo modo, ainda que se demonstrasse que algum integrante da equipe também trocou tiros com os indivíduos armados, a conclusão, por inexistir qualquer elemento que apontasse excesso, seria a mesma mencionada acima, ou seja, de que teria agido acobertado por excludente de ilicitude”.

Enviamos perguntas à Corregedoria e ao Comando da PM, e ao MPSP. O Comando respondeu com a mesma nota da Polícia Civil. Os demais órgãos não nos responderam.

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