João Filho

Por que a fala de Gustavo Gayer faria Hitler rir no inferno

Deputado federal bolsonarista precisa ser cassado após defender pensamento fundamental da crença nazista.

Foto: Reprodução/Twitter

Foto: Reprodução/Twitter

Há quem considere uma forçação de barra fazer associações entre o bolsonarismo e o nazismo. Mesmo depois de tantos episódios nazistóides protagonizados por bolsonaristas, ainda há quem fique cheio de dedos para compará-los com nazistas. Nessa semana, a fala de um deputado federal bolsonarista talvez possa ajudar a abrir os olhos desses inocentes. 

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar

O goiano Gustavo Gayer, do PL, proferiu palavras que fizeram Adolf Hitler sorrir no inferno. Durante um podcast, travou-se o seguinte diálogo entre o deputado e o apresentador, Rodrigo Tiorró: 

Gustavo Gayer: O Brasil está emburrecido. Aí você pega e dá um título de eleitor para um monte de gente emburrecida.

Ricardo Tiorró: Como é que você quer que a democracia dê certo?

GG: Não tem como.

RT: Sabia que tem macaco com QI de 90? O QI na África é de 72. Não dá para a gente esperar alguma coisa da nossa população.

GG: Sim, eu vi isso aí.

RT: O QI na África é de 72. Não dá para a gente esperar alguma coisa da nossa população.

GG: Aí você vai ver na África…quase todos os países são ditaduras. Quase tudo lá é ditadura. Democracia não prospera na África. Por quê? Para você ter democracia, é preciso ter o mínimo de capacidade cognitiva para entender o bom e o ruim, o certo e o errado. Tentaram fazer democracia na África várias vezes. O que acontece? Um ditador toma tudo e o povo… O Brasil está desse jeito. O Lula chegou à presidência e o povo burro: picanha, cerveja!.

Parece até uma conversa entre Mengele e Goebbels, mas é um bate-papo comum entre dois bolsonaristas. O caráter racista desse diálogo é descarado. Nada foi dito de forma velada, com meias palavras. Esse tipo de nazismo recreativo, que não teme as consequências da publicidade dos seus discursos, virou algo corriqueiro. 

A ascensão do bolsonarismo propiciou um ambiente em que se pode falar com muita tranquilidade que o QI do homem africano é menor que o de um primata. Essa é a base fundamental do pensamento nazista. Foi esse pensamento que matou milhões de judeus durante o Holocausto. Portanto, não é preciso forçar a barra para qualificar essa conversa de nazista. O discurso do deputado é literalmente nazista. 

Gustavo Gayer se elegeu no ano passado depois de ganhar fama como um youtuber bolsonarista. A sua militância pela extrema-direita nas redes sociais lhe transformou em um dos ícones reacionários de Goiás, onde ajudou a fundar a Frente Conservadora de Goiânia. Em 2020, durante a pandemia, o youtuber reaça juntou outros militantes para atacar um protesto de enfermeiros na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. O protesto contra Bolsonaro era também uma homenagem às vítimas da categoria mortas pelo coronavírus. Os enfermeiros foram agredidos verbalmente e fisicamente pela turma de Gayer. 

O caráter racista desse diálogo é descarado. Nada foi dito de forma velada, com meias palavras.

O Cofen, Conselho Federal de Enfermagem, identificou ele e outros dois agressores, que viraram alvos de uma representação do Ministério Público Federal. Foi esse episódio escabroso que alavancou a fama de Gayer entre a militância de extrema-direita na capital goiana. Naquele ano o bolsonarista decidiu, então, entrar para a política e se candidatou à prefeitura de Goiânia com o apoio de Jair Bolsonaro. 

Apesar de derrotado, Gayer conquistou 8% dos votos válidos. Dois anos mais tarde, ele seria eleito deputado federal, sendo o segundo mais votado do seu estado. Depois de eleito, a Justiça de Goiás condenou Gayer por divulgar uma série de informações falsas sobre as medidas restritivas tomadas pela Prefeitura de Goiânia durante a pandemia. 

No relatório que o Google teve que apresentar à CPI da Covid, o canal do Youtube do deputado foi o segundo que mais faturou com a divulgação de fake news sobre a pandemia. Gayer foi também um dos investigados pelo TSE por disseminar mentiras sobre o processo eleitoral e por abuso de poder político. 

O nome do deputado bolsonarista também está relacionado com os atos golpistas de 8 de janeiro. Ele repassou R$ 24 mil da sua cota parlamentar para a empresa de um dos invasores aos prédios dos Três Poderes. João Paulo Cavalcante, amigo particular de Gayer, abriu o CNPJ da sua empresa uma semana antes de começar a abocanhar o dinheiro público. Segundo o deputado, a empresa de Cavalcante presta serviços referentes à “publicidade das redes sociais”. Em uma dessas grandes coincidências que acontecem na política brasileira, a empresa de Cavalcante fica no mesmo endereço da empresa do filho do deputado bolsonarista. Durante a invasão golpista, Cavalcante gravou um vídeo dizendo: “vamos dar o nosso sangue por essa pátria. Brasil acima de tudo, Deus acima de todos. Vem pra Brasília agora. Para tudo que você está fazendo, venha pra Brasília, galera”

O ódio exacerbado ao feminismo revela o desrespeito de Gayer pela memória de sua mãe. Ela foi uma deputada identificada com o feminismo.

Em outro trecho do mesmo podcast em que atacou os africanos, o bolsonarista afirma que “o feminismo é o câncer da sociedade” que “está ensinando mulheres que já faziam a coisa certa a fazer o errado. Aí tem o ódio, a promiscuidade, vida sexual precoce, não quer criar filhos, acha que filho é um fardo, tirou as mães das casas (…) o feminismo fodeu com a sociedade”. O ódio exacerbado ao feminismo revela o desrespeito de Gayer pela memória de sua mãe, Maria da Conceição Gayer. Ela foi uma vereadora e deputada identificada com o feminismo e as causas progressistas. Foi fundadora do Centro de Valorização da Mulher e é considerada uma das pioneiras do movimento feminista no estado de Goiás

Gayer é mais um político que completa o bingo bolsonarista: é negacionista, mente de maneira contumaz, desqualifica o processo eleitoral, ataca o feminismo e externa seus pensamentos racistas como quem canta uma canção de ninar. Não é razoável que o país continue lidando com esse tipo de sujeito. 

A deputada Duda Salabert, do PDT, anunciou que entrará com um pedido de cassação de Gayer no Conselho de Ética da Câmara. É urgente que as instituições passem a ser intolerantes com os intolerantes. O bolsonarismo não pode mais ser encarado como uma corrente política legítima. Ele deve ser exterminado da vida pública ou normalizaremos de vez discursos nazistas como os de Gayer.

Nem todo mundo pode se dar ao luxo de pagar por notícias neste momento.

E isso está tornando cada vez mais difícil financiar investigações que mudam vidas.

A maioria dos jornais lida com isso limitando o acesso a seus trabalhos mais importantes por meio de assinaturas.

Mas no Intercept Brasil, acreditamos que todos devem ter acesso igual à informação.

Se você puder, há muitos bons motivos para nos apoiar:
1) Nosso objetivo é o impacto: forçamos os ricos e poderosos a respeitar pessoas como você e a respeitar a lei
2) Somos financiados pelos leitores, não por corporações, e somos sem fins lucrativos: cada real vai para nossa missão de jornalismo sem rabo preso, não para pagar dividendos
3) É barato, fácil e seguro e você pode cancelar quando quiser

Escolha fortalecer o jornalismo independente e mantê-lo disponível para todos com uma doação mensal. Obrigado.

FAÇA PARTE

Faça Parte do Intercept

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar