Fotos autor Leandro Demori.

Leandro Demori

A polícia quer nos prender

Mas segue tentando proteger maus policiais, com oitivas às pressas e resultados pífios que isentam os matadores

A polícia quer nos prender

A polícia quer nos prender

Ilustração: The Intercept Brasil; Getty Images

Este texto foi publicado originalmente na newsletter do Intercept. Assine. É de graça, todos os sábados, na sua caixa de e-mails.

Como a maioria de vocês sabe, em junho deste ano a Polícia Civil do Rio de Janeiro decidiu me investigar. O motivo: uma denúncia publicada em nossa newsletter sobre uma facção de matadores na Core, a Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais, uma espécie de Bope da Civil. Os indícios públicos de abusos eram abundantes, e fontes anônimas me deram ainda mais certeza de que a Core deveria (e ainda deve) ser investigada.

“Policiais que participaram do massacre de quinta-feira – 24 mortos ainda sem nome no Jacarezinho – são conhecidos à boca pequena como “facção da Core”, a Coordenadoria de Recursos Especiais. A história cresce quando juntamos outros fatos: a “facção” está envolvida no caso João Pedro (menino de 14 anos, morto durante uma operação), na chacina do Salgueiro (oito mortos) e no caso do helicóptero da Maré (oito mortos). São 41 homicídios somente nesses casos. Quantos mais?”

A Polícia Civil, em vez de olhar para dentro e punir seus maus policiais, decidiu me investigar. Depois de meio ano, trago aqui para vocês algumas atualizações sobre o caso.

Primeiro: a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática – que além de mim já investigou, em outros casos, William Bonner, Renata Vasconcellos e Felipe Neto – decidiu dobrar a aposta e enviou a investigação ao Ministério Público. Depois de encontrar (casualmente, claro) dois policiais que disseram se sentir ofendidos com minha denúncia (por acaso seus depoimentos são praticamente idênticos), o delegado Pablo Dacosta Sartori agora quer que o MP me mande ao Judiciário. Nos sonhos de Sartori, eu serei preso, enquanto seus ex-colegas de Core (por acaso Sartori era da Core) seguem fazendo operações que têm chacinas como resultado.

Acontece que os fatos públicos estão todos contra Pablo Dacosta Sartori.

A justiça aceitou a denúncia contra os policiais por uma morte na operação no Jacarezinho. Segundo a denúncia, eles cometeram homicídio e fraude processual. Sabe o que fizeram? Removeram um cadáver antes da perícia, apresentaram uma pistola Glock .40 e um carregador como se fossem da vítima e inseriram uma granada no local do crime.

A investigação sobre os policiais só avança graças ao MP, como se percebe. A Polícia Civil segue tentando proteger seus maus policiais, com oitivas às pressas e resultados pífios que isentam os matadores. Não é para isso que nós, a sociedade, autorizamos que eles, os policiais, usem seu poder.

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar

Nem todo mundo pode se dar ao luxo de pagar por notícias neste momento.

E isso está tornando cada vez mais difícil financiar investigações que mudam vidas.

A maioria dos jornais lida com isso limitando o acesso a seus trabalhos mais importantes por meio de assinaturas.

Mas no Intercept Brasil, acreditamos que todos devem ter acesso igual à informação.

Se você puder, há muitos bons motivos para nos apoiar:
1) Nosso objetivo é o impacto: forçamos os ricos e poderosos a respeitar pessoas como você e a respeitar a lei
2) Somos financiados pelos leitores, não por corporações, e somos sem fins lucrativos: cada real vai para nossa missão de jornalismo sem rabo preso, não para pagar dividendos
3) É barato, fácil e seguro e você pode cancelar quando quiser

Escolha fortalecer o jornalismo independente e mantê-lo disponível para todos com uma doação mensal. Obrigado.

FAÇA PARTE

Faça Parte do Intercept

Entre em contato

Conteúdo relacionado

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar