Ilustração: The Intercept Brasil; Getty Images
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Como a maioria de vocês sabe, em junho deste ano a Polícia Civil do Rio de Janeiro decidiu me investigar. O motivo: uma denúncia publicada em nossa newsletter sobre uma facção de matadores na Core, a Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais, uma espécie de Bope da Civil. Os indícios públicos de abusos eram abundantes, e fontes anônimas me deram ainda mais certeza de que a Core deveria (e ainda deve) ser investigada.
“Policiais que participaram do massacre de quinta-feira – 24 mortos ainda sem nome no Jacarezinho – são conhecidos à boca pequena como “facção da Core”, a Coordenadoria de Recursos Especiais. A história cresce quando juntamos outros fatos: a “facção” está envolvida no caso João Pedro (menino de 14 anos, morto durante uma operação), na chacina do Salgueiro (oito mortos) e no caso do helicóptero da Maré (oito mortos). São 41 homicídios somente nesses casos. Quantos mais?”
A Polícia Civil, em vez de olhar para dentro e punir seus maus policiais, decidiu me investigar. Depois de meio ano, trago aqui para vocês algumas atualizações sobre o caso.
Primeiro: a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática – que além de mim já investigou, em outros casos, William Bonner, Renata Vasconcellos e Felipe Neto – decidiu dobrar a aposta e enviou a investigação ao Ministério Público. Depois de encontrar (casualmente, claro) dois policiais que disseram se sentir ofendidos com minha denúncia (por acaso seus depoimentos são praticamente idênticos), o delegado Pablo Dacosta Sartori agora quer que o MP me mande ao Judiciário. Nos sonhos de Sartori, eu serei preso, enquanto seus ex-colegas de Core (por acaso Sartori era da Core) seguem fazendo operações que têm chacinas como resultado.
Acontece que os fatos públicos estão todos contra Pablo Dacosta Sartori.
A justiça aceitou a denúncia contra os policiais por uma morte na operação no Jacarezinho. Segundo a denúncia, eles cometeram homicídio e fraude processual. Sabe o que fizeram? Removeram um cadáver antes da perícia, apresentaram uma pistola Glock .40 e um carregador como se fossem da vítima e inseriram uma granada no local do crime.
A investigação sobre os policiais só avança graças ao MP, como se percebe. A Polícia Civil segue tentando proteger seus maus policiais, com oitivas às pressas e resultados pífios que isentam os matadores. Não é para isso que nós, a sociedade, autorizamos que eles, os policiais, usem seu poder.
O seu futuro está sendo decidido longe dos palanques.
Enquanto Nikolas, Gayers, Michelles e Damares ensaiam seus discursos, quem realmente move o jogo político atua nas sombras: bilionários, ruralistas e líderes religiosos que usam a fé como moeda de troca para retomar ao poder em 2026.
Essas articulações não ganham manchete na grande mídia. Mas o Intercept está lá, expondo as alianças entre religião, dinheiro e autoritarismo — com coragem, independência e provas.
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