Curitiba tem cronograma de vacinação contra a Febre Amarela.Curitiba, 16/01/2018Foto: Valdecir Galor/SMCS

Morte após vacina contra febre amarela intensifica fake news e teorias da conspiração

Hospital já descartou vínculo entre a vacina e a morte de uma jovem de 17 anos. Fiocruz alerta para gravidade do surto da doença e reforça a necessidade de vacinação.

Curitiba tem cronograma de vacinação contra a Febre Amarela.Curitiba, 16/01/2018Foto: Valdecir Galor/SMCS

“O governo está com estoque alto e não quer ter prejuízo se a validade vencer, jogar fora sai mais caro que vacinar o povo”. Essa frase faz parte de um relato sobre a vacina de febre amarela feito por uma suposta enfermeira, que não se identifica e diz trabalhar em um grande hospital, também desconhecido, que ficaria em Belo Horizonte (MG). O texto foi publicado em diferentes perfis e páginas de Facebook e tem circulado por grupos de Whatsapp. Nos comentários, pessoas chegam a levantar a possibilidade de ser tudo um plano do governo para matar a população. Para muitos usuários dessas redes, a morte da estudante Vitória Gomes, no Hospital Geral de Nova Iguaçu (RJ), na última semana, seria uma das provas do plano fantasioso. E, assim, mais um caso de notícia falsa se espalha pelo Rio de Janeiro.

WhatsApp-Image-2018-02-02-at-17.15.10-1517858443

O mais preocupante é que a crença em teorias como essa, baseadas em falsas informações, possa se espalhar tão rápido, mesmo em um momento em que foram registrados 213 casos de febre amarela com 89 óbitos no período de julho de 2017 a 30 de janeiro deste ano.  

montagem_2_blur0-1517858637

 

Antes de qualquer laudo, diversas páginas de notícias no Facebook, todas da região onde a estudante vivia, publicaram que sua morte teria ocorrido por reação à vacina. A Irajá Notícias foi uma das poucas que refutou a informação e tratou o caso como notícia falsa, por não haver confirmação – a postagem foi denunciada e excluída do Facebook.

“Recebemos vários links de seguidores falando do caso e resolvemos explicar. Até aquele momento, não tinha nenhuma confirmação de morte associada à vacina. Ainda deixamos claro que, após o resultado de exames, poderia ser comprovado, mas que não tinha nada naquele momento, e as pessoas estavam disseminando o medo”, afirmou o administrador  da Irajá Notícias – que pediu para não ser identificado – a The Intercept Brasil.

Lorena Gomes, irmã de Vitória, explicou a The Intercept Brasil que a jovem começou a apresentar sintomas um dia após receber a dose da vacina e que “o laudo de óbito de Vitória tem como causa mortis três paradas cardíacas que tiveram como causa anterior uma pneumonia”. Ela conta ainda que, uma semana após o falecimento da irmã, não teve acesso a resultado de nenhum exame. Em nota divulgada pela Prefeitura de Nova Iguaçu, o hospital afirma ter descartado a possibilidade de febre amarela e que aguarda o resultado do exame de leptospirose.

“Saúde Pública é coisa séria.”

De fato, a vacina contra a febre amarela pode causar reações como febre e mal-estar, mas casos mais graves são considerados raros, ocorrendo uma vez a cada 400 mil aplicações. Bebês de até 9 meses, pessoas com imunodeficiências, transplantados de órgãos sólidos ou pacientes em quimioterapia não devem ser vacinados. Em caso de dúvida, é recomendada a avaliação médica – como no caso de maiores de 65 anos.

A Fiocruz reiterou a The Intercept Brasil que há um surto e que, por isso, a campanha de vacinação, que chegou a ser descartada em 2017, se faz necessária neste momento. “O vírus da febre amarela passou a circular em novas áreas da Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, demandando a aplicação da vacina em um cinturão de contenção mais amplo e próximo a áreas urbanas”.

A fundação também ressalta que o conteúdo propagado nas redes sociais não é de fontes confiáveis: “Antes de compartilhar uma informação que possa causar pânico desnecessário e confundir, certifique-se que vem de uma fonte oficial. Saúde Pública é coisa séria”.

S.O.S Intercept

Peraí! Antes de seguir com seu dia, pergunte a si mesmo: Qual a chance da história que você acabou de ler ter sido produzida por outra redação se o Intercept não a tivesse feito?

Pense em como seria o mundo sem o jornalismo do Intercept. Quantos esquemas, abusos judiciais e tecnologias distópicas permaneceriam ocultos se nossos repórteres não estivessem lá para revelá-los?

O tipo de reportagem que fazemos é essencial para a democracia, mas não é fácil, nem barato. E é cada vez mais difícil de sustentar, pois estamos sob ataque da extrema direita e de seus aliados das big techs, da política e do judiciário.

O Intercept Brasil é uma redação independente. Não temos sócios, anúncios ou patrocinadores corporativos. Sua colaboração é vital para continuar incomodando poderosos.

Apoiar é simples e não precisa custar muito: Você pode se tornar um membro com apenas 20 ou 30 reais por mês. Isso é tudo o que é preciso para apoiar o jornalismo em que você acredita. Toda colaboração conta.

Estamos no meio de uma importante campanha – a S.O.S. Intercept – para arrecadar R$ 250 mil até o final do mês. Nós precisamos colocar nosso orçamento de volta nos trilhos após meses de queda na receita. Você pode nos ajudar hoje?

QUERO APOIAR

Entre em contato

Conteúdo relacionado

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar