Faltou um tiquinho para o pós-prefeito de São Paulo, João Doria, lançar-se pré-candidato ao Planalto. Em mais uma viagem, dessa vez à França, o (ainda) tucano se derramou em elogios ao presidente Emmanuel Macron. “Ele fez uma revolução nas eleições presidenciais da França”, afirmou Doria. “Rompeu com as tradições e onde haviam (sic) apenas dois partidos, um de esquerda e um de direita, ele veio pelo meio, acelerou e ganhou as eleições”.
Doria, como Macron, quer encarnar o novo, o apolítico. Suas novidades, contudo, não vão muito além das fantasias de gari. Qual um político tradicional em sua pior versão, tem mostrado desapego com a verdade. Anunciou, por exemplo, que teria um almoço com o primeiro-ministro francês, mas a equipe de Édouard Philippe disse que o encontro nunca foi marcado. Para a assessoria do tucano, foi apenas um desencontro.
Destino cabe a Deus
Também a exemplo dos engravatados de Brasília, Doria se mostra disposto a traições para chegar aonde quer. Perguntado sobre uma possível saída do PSDB, disse que pretende ficar até que alguma “circunstância” o impeça. “Cabe a Deus indicar, iluminar e definir qual é o destino”, disse.
Certo. Enquanto isso, São Paulo também segue à mercê da graça divina. Segundo levantamento do UOL, até o início de agosto o tucano era o prefeito com menos projetos enviados à Câmara em 32 anos. O segundo pior nessa avaliação, José Serra, também tinha a cabeça em outro cargo à época. Na metade do mandato, deixaria a Prefeitura para se eleger ao Estado.
O seu futuro está sendo decidido longe dos palanques.
Enquanto Nikolas, Gayers, Michelles e Damares ensaiam seus discursos, quem realmente move o jogo político atua nas sombras: bilionários, ruralistas e líderes religiosos que usam a fé como moeda de troca para retomar ao poder em 2026.
Essas articulações não ganham manchete na grande mídia. Mas o Intercept está lá, expondo as alianças entre religião, dinheiro e autoritarismo — com coragem, independência e provas.
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