A conversa de Michel Temer com Joesley Batista não envolveu ilícitos, a gravação não passou por perícia e o laudo da Polícia Federal sobre a mesma foi inconclusivo. Pelo menos é o que afirma o texto de defesa apresentado pelos advogados de Michel Temer à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Na tentativa de negar todos os fatos recentemente noticiados sobre o caso — afinal, Temer e Joesley falaram em obstrução de Justiça, a Polícia Federal fez, sim, uma perícia a pedido do Ministério Público, e o laudo final concluiu que não houve edições na gravação —, pelo menos uma coisa os advogados do presidente admitem: foi seu assessor Rodrigo Loures quem organizou o encontro do presidente com Joesley.
“A pedido de Rodrigo Loures, o Presidente, sem possibilidade de agenda, concordou em recebê-lo à noite, no Jaburu, e acompanhado do próprio Loures. Atendeu no Jaburu como fez com inúmeros outros que o procuraram. Rodrigo não foi por alguma razão. No entanto, foi ele quem marcou a entrevista e deu o número da placa do automóvel que os transportaria, no qual Joesley acabou indo.” [ênfase adicionado]
Um relatório da Polícia Federal, entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) em junho, conclui que houve “pagamento de vantagem indevida” a Temer de maneira “remota” através de Loures. O dinheiro seria pago pelos empresários do Grupo J&F.
Negação
Na conversa gravada entre Joesley e Temer, em que a perícia da Polícia Federal confirmou não haver edições, o empresário admite estar “dando conta” de dois juízes. A perícia da Polícia Federal constatou que, ao ouvir a confissão e incentivar o ato, o presidente também incorre no crime de obstrução.
Joesley: Aqui, eu dei conta de um lado o juiz, dá uma segurada. Do outro lado o juiz substituto, que é o cara que ficou…
Temer: Tá segurando os dois?
Joesley: Tô segurando os dois.
Temer: Ótimo, ótimo…
Para os advogados de Temer, no entanto, “nada de ilegal fora tratado naquela oportunidade”. A defesa também afirma que “Quanto ao intento de sua visita, bem, possuísse ele poderes adivinhatórios, determinaria a sua imediata prisão”. Temer não precisava de bola de cristal para determinar a prisão de Joesley, bastava ele ter alertado as devidas autoridades logo após ouvir o empresário confessar o crime. No entanto, o presidente optou por incentivá-lo: “Ótimo, ótimo”.
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