Brasília - Parlamentares cumprimentam Alexandre de Moraes durante sabatina na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado (Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Com governo clamando por sobrevivência política, Alexandre de Moraes chega ao Supremo

Senadores seguem pacto proposto por Romero Jucá e aprovam indicação de ex-filiado do PSDB para ministro do STF.

Brasília - Parlamentares cumprimentam Alexandre de Moraes durante sabatina na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado (Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

“Com Supremo, com tudo.” Conforme previsto no pacto do senador Romero Jucá (PMDB/RR) para estancar a Lava Jato, o governo de Michel Temer tem agora um ministro seu no Supremo Tribunal Federal. Mesmo que controversa, a indicação de Alexandre de Moraes foi aprovada por 55 senadores no começo da tarde de hoje, após chancela da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, que sabatinou o indicado por mais de dez horas.

Ainda que longa, a arguição de Moraes transcorreu sem emoção, regada a elogios à figura do indicado e sem grandes transtornos. Entre os participantes, senadores do PSDB constavam entre os mais afoitos e felizes com a indicação de um ex-filiado do partido para a mais alta corte do país.

https://twitter.com/msantoro1978/status/834160540809314304

Diferentemente do tom explosivo e falastrão que costuma apresentar, Moraes optou por não escorregar nas cascas de bananas jogadas pela oposição. Mas também pudera. A artimanha usada pelo relator, senador Eduardo Braga (PMDB/PA), de fazer as perguntas mais constrangedoras já no início da sabatina contribuiu para deixar o clima ameno. Além de esvaziar a sessão diversas vezes, a estratégia deu oportunidade a Moraes de apresentar logo de cara a sua primeira versão sobre os fatos e, consequentemente, minar o poder de fogo da oposição.

Nessa sabatina, internautas puderam participar com perguntas enviadas ao portal E-Cidadania, do Senado Federal. Delas, Braga escolheu questões consideradas constrangedoras a Moraes: acusação de plágio em sua obra jurídica, suspeita de envolvimento na Operação Acrônimo e suposta ligação com a organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

Após Moraes negar todas as acusações – afirmando que não cometera plágio, que não está envolvido na operação Acrônimo, e atribuir a uma rede de fofocas a sua relação com o PCC –, a oposição ainda tentou ensaiar alguma reação para pegar o sabatinado no pulo do gato. Enquanto isso, a base do governo Temer alternava entre enaltecer a figura do indicado e um ou outro elogio ao sabatinado.

Citado na Lava Jato e com a polícia federal no calcanhar de seu filho, o senador Edison Lobão (PMDB/MA) não se constrangeu em conduzir a sabatina, mas manteve posição discreta e não fez perguntas embaraçosas. Já Renan Calheiros (PMDB/AL), réu no STF por suposta prática de peculato, acompanhou a sabatina no início, mas manteve-se em silêncio e deixou a sala pouco depois de iniciada a sabatina sem fazer perguntas ao sabatinado. Ao que tudo indica sem nenhuma dúvida também.

Preparado para a guerra, o senador Lindbergh Farias (PT/RJ) partiu pra cima de Moraes e pediu que o sabatinado, caso aprovado, optasse por renunciar à função de revisar os processos da Lava Jato no STF, uma das atribuições do novo ministro da Corte. Moraes afirmou que, caso aprovado, atuará com independência e imparcialidade e que jamais para favorecer políticos.

Afago tucano

A olhos vistos, os senadores tucanos Aécio Neves (MG) e Aloysio Nunes (SP), ambos candidato e vice derrotados nas eleições presidenciais de 2014, compuseram na CCJ a defesa intransigente de Moraes. A dupla não deixava passar batido críticas a ele e, sempre que podiam, elogiavam a postura do indicado. “É natural na vida republicana que um indicado para o STF tenha afinidades com um determinado grupo político”, ponderou Aécio, lembrando que esse tipo de indicação é comum nos Estados Unidos.

Ninguém interpôs Aécio para relembrá-lo, no entanto, que o processo de indicação para Suprema Corte dos Estados Unidos é bem diferente do brasileiro. Lá, o indicado tem a vida vasculhada de ponta-cabeça, inclusive por órgãos de inteligência, para depois passar por sabatinas duríssimas que chegam a durar dias. Não é como aqui, esse teatro escancarado que compõe a essência política brasileira.

Aécio ainda lembrou que Moraes fora advogado do senador em 2014, na época da campanha presidencial, e que, por tabela, ambos acabaram derrotados. No ano seguinte, Moraes se filiou ao PSDB, de onde saiu após a ser indicado por Temer para o Supremo.

“Tenho a mais absoluta convicção de que Moraes assumirá suas tarefas no STF com a isenção que o cargo exige”, disse Aécio. Para amarrar a manifestação tucana, Aloysio Nunes atacou, disse que a oposição já estava chovendo no molhado, repetindo perguntas para tentar constranger o sabatinado, mas que, apesar disso, Moraes “tirou de letra”.

Carnaval é tempo de folia

Com a pressa que lhe é devida, a determinação no Planalto foi para aprovação de Moraes no STF antes do Carnaval. E assim foi feito. As excelências correram para comemorar o feriado com tranquilidade e alguns dias com o “sono dos justos”.

Mas por que o Carnaval marca esse lapso temporal importante? Porque o Brasil só funciona mesmo depois dessa época? Sim, mas também porque, após o carnaval o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sinalizou que irá retirar o sigilo das bombásticas delações da Odebrecht e poderá iniciar pedidos de inquéritos contra os citados, entre eles membros do governo Temer.

Para entender a política brasileira, basta seguir os rastros. Eles são muitos. A pressa é uma delas por questão de sobrevivência política.

S.O.S Intercept

Peraí! Antes de seguir com seu dia, pergunte a si mesmo: Qual a chance da história que você acabou de ler ter sido produzida por outra redação se o Intercept não a tivesse feito?

Pense em como seria o mundo sem o jornalismo do Intercept. Quantos esquemas, abusos judiciais e tecnologias distópicas permaneceriam ocultos se nossos repórteres não estivessem lá para revelá-los?

O tipo de reportagem que fazemos é essencial para a democracia, mas não é fácil, nem barato. E é cada vez mais difícil de sustentar, pois estamos sob ataque da extrema direita e de seus aliados das big techs, da política e do judiciário.

O Intercept Brasil é uma redação independente. Não temos sócios, anúncios ou patrocinadores corporativos. Sua colaboração é vital para continuar incomodando poderosos.

Apoiar é simples e não precisa custar muito: Você pode se tornar um membro com apenas 20 ou 30 reais por mês. Isso é tudo o que é preciso para apoiar o jornalismo em que você acredita. Toda colaboração conta.

Estamos no meio de uma importante campanha – a S.O.S. Intercept – para arrecadar R$ 250 mil até o final do mês. Nós precisamos colocar nosso orçamento de volta nos trilhos após meses de queda na receita. Você pode nos ajudar hoje?

QUERO APOIAR

Entre em contato

Conteúdo relacionado

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar