Sergio Moro comemorou a aprovação do PL da Dosimetria na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Ele explicou, em pronunciamento, que o texto aprovado corrigiu o grande erro da versão da Câmara e restringiu a redução de pena exclusivamente aos golpistas do 8 de janeiro.
“Nós nos posicionamos em favor de corrigir esse erro e restringir os benefícios apenas aos condenados do 8 de janeiro, sejam manifestantes, seja [Jair] Bolsonaro, sejam os generais”, disse o paladino da ética na política, sem o menor pudor em deixar claro que o projeto foi feito sob medida para salvar os criminosos do seu grupo político.
Enquanto juiz, Moro usou os tribunais para abrir o caminho para a eleição de Bolsonaro. Hoje, como senador, ele atua como advogado dos bolsonaristas que lideraram uma tentativa de golpe de estado. Não há novidade aqui. As credenciais democráticas e morais de Moro são largamente conhecidas. Mas quanto mais se investiga o passado da Lava Jato, mais esqueletos vão aparecendo no armário do senador.
Pouco antes de ele festejar a diminuição de pena para os seus criminosos de estimação, a Polícia Federal comprovou mais uma ilegalidade na sua vasta carreira de ilegalidades.
A partir de busca e apreensão feita na 13ª Vara Federal de Curitiba — a vara da Lava Jato — feita no início deste mês, os investigadores descobriram que o então juiz grampeou ilegalmente diversas autoridades com foro privilegiado através de delatores chantageados. Para se ter uma ideia da gravidade da coisa, esta é a primeira vez na história que a PF faz busca e apreensão em uma vara judicial.
O método lavajatista não chega a ser uma novidade, mas agora surgiram documentos, relatórios de inteligência e gravações em áudio e vídeo obtidas ilegalmente. Essas provas documentais corroboram as denúncias de que colaboradores e delatores foram usados pela Lava Jato para vigiar autoridades com prerrogativa de foro, fora da alçada de Moro e sem autorização de tribunais superiores.

A jornalista Daniela Lima teve acesso à parte dessas provas. Entre elas, há uma conversa gravada entre o empresário e ex-deputado estadual Tony Garcia e o então presidente do Tribunal de Contas do Paraná, Heinz Herwig.
O áudio capturado confirma a denúncia de Garcia de que ele teria sido orientado por Moro a gravar autoridades de forma clandestina. Há, também, outras gravações envolvendo desembargadores do famoso TRF-4, a instância superior que endossou de forma absoluta todas as maluquices jurídicas da Lava Jato.
Um vídeo apreendido pela PF atesta a existência da chamada “festa da cueca” — denunciada há anos por Tony Garcia — realizada em um hotel de luxo em Curitiba com diversos magistrados do TRF-4 e garotas de programa. Segundo os registros encontrados, um dos desembargadores, “com medo de que as fitas das festas vazassem, contou para a mulher que foi filmado pelado”.
Esse mesmo desembargador participou do julgamento dos processos da Lava Jato. Isso significa que Sergio Moro tinha em suas mãos o poder de acabar com o casamento de magistrados de uma instância superior — a mesma que era responsável por revisar e julgar o seu trabalho nebuloso na Lava Jato. Em um dos áudios, o desembargador “contou que estava pelado em uma festa”. Ele sabia que foi filmado e temia que as imagens viessem a público.
Tudo isso esteve guardado até hoje nas gavetas da vara lavajatista. Segundo colaboradores da operação, o então juiz usava esses registros para chantagear os desembargadores e garantir a manutenção de condenações de investigados. Tudo nesse caso remete ao modus operandi das máfias. Eis o poderoso chefão de Curitiba!
Ao Brasil Paralelo — aquele tablóide de extrema direita que vive num Brasil paralelo —, o senador afirmou: “Essa matéria é requentada e já saiu em 2023, portanto não há nenhuma novidade. (…) “A mesma matéria divulgada hoje foi divulgada há anos atrás por uma jornalista [Daniela Lima] que é considerada porta-voz do PT.”
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Fazer-se de louco é uma especialidade de Moro. Não há matéria requentada, e Daniela Lima é uma jornalista competente, que está muito longe de ser porta-voz do PT. As denúncias são antigas, mas agora a PF encontrou provas que as confirmam. A novidade é que até as denúncias que pareciam pouco críveis, como a “festa da cueca”, estão calçadas por vídeos e áudios irrefutáveis.
Em nota, o senador insiste em dizer que “o fato ocorreu em 2005, há 20 anos”, indicando que os seus crimes já teriam prescrito. Ocorre que, segundo Daniela Lima, a PF trabalha com a hipótese de crime continuado, porque todos esses documentos foram omitidos da justiça durante esses 20 anos. O atual juiz da vara, por exemplo, se recusou a enviá-los para o STF. Ao que parece, tempos difíceis estão por vir para o senador.
O que não é novidade é o método lavajatista. Já se sabia que Moro fazia espionagem, como ficou evidente quando grampeou ilegalmente uma conversa entre Lula e a então presidenta Dilma Rousseff e os advogados do Lula.
Moro seguiu os passos de John Edgard Hoover, o chefão do FBI, que usou a máquina do estado para espionar adversários políticos em nome do combate à corrupção. Hoover tinha tanta informação nas mãos que se tornou um dos homens mais poderosos dos Estados Unidos.
Esse é o mesmo caminho que Moro tentou trilhar. Foi assim que virou ministro e, mais recentemente, senador. Ele é responsável pela maior farsa jurídica da história da República e também por pavimentar a ascensão do bolsonarismo ao poder. Que o seu destino seja o mesmo de Jair.
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