Israel bombardeou integrantes do Hamas em Doha, no Catar.

Israel bombardeia o Catar para impedir cessar-fogo em Gaza

Lideranças do Hamas no Catar analisavam proposta de cessar-fogo dos EUA e foram surpreendidas por ataque israelense.

Israel bombardeou integrantes do Hamas em Doha, no Catar.

Militares israelenses afirmam ter realizado uma tentativa de assassinato contra líderes do Hamas na capital do catar, Doha, onde várias explosões foram ouvidas.

Isso parece minar as alegações de Israel de que estaria negociando a sério um cessar-fogo em Gaza com as pessoas que tentou assassinar, e pode marcar uma nova escalada do conflito regional.

“Atacar o lado com o qual você afirma estar negociando um cessar-fogo, no meio dessas negociações, é prova cabal de que Israel não está negociando de boa fé, e que o primeiro-ministro Netanyahu continua a priorizar sua própria coligação política em detrimento das vidas palestinas, ou até mesmo as vidas dos reféns israelenses em Gaza”, diz Josh Paul, que por mais de 11 anos foi diretor de assuntos públicos e parlamentares no setor do Departamento de Estado dos EUA que supervisiona transferência de armas para países estrangeiros, mas pediu exoneração em 2023, diante do auxílio militar dado a Israel.

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“Mas mais do que isso, atacar o território soberano de um terceiro país em tempos de paz é um ato de guerra que zomba do direito internacional, desestabiliza ainda mais a região, e significa que as chances de uma integração pacífica de Israel no Oriente Médio estão ainda mais distantes”, diz Paul.

O ministério das relações exteriores do Catar declarou que o alvo de Israel era um complexo residencial onde viviam políticos de alto escalão do Hamas. O Catar concordou em sediar um escritório do Hamas a pedido dos Estados Unidos, para facilitar as negociações de paz, segundo informaram no passado autoridades do país.

O gabinete do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu descreveu o ataque como “uma operação israelense totalmente independente” com o objetivo de matar “os principais chefes terroristas do Hamas”. O comunicado continuou: “ele foi iniciado e conduzido por Israel, e Israel assume total responsabilidade”.

O Catar havia sido considerado um território neutro e uma zona segura para as negociações, porque Doha tem uma relação com o governo israelense. Autoridades israelenses já viajaram diversas vezes à capital do Catar para conversar com lideranças do país sobre a libertação dos reféns em Gaza, desde o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023. Desde então, Israel atacou Gaza, Líbano, Síria, Irã, Iêmen, e agora, o Catar.

“Como temos visto consistentemente desde o 7 de outubro, Israel não hesita em expandir sua guerra para além de Gaza –– isso segue uma série de ataques israelenses na Síria, o grande ataque contra o governo houthi no Iêmen, os ataques contínuos contra o Líbano mesmo depois do cessar-fogo, e claro, a campanha sem precedentes em contra locais no Irã”, diz Emily Tripp, diretora executiva da Airwars, uma organização de monitoramento de ataques aéreos com sede no Reino Unido.

O Catar condenou o ataque. Uma alto funcionário não identificado do Hamas disse à Al Jazeera que o ataque aconteceu enquanto uma equipe discutia a proposta do presidente Donald Trump de um cessar-fogo em Gaza. Mais de 64 mil palestinos foram mortos por Israel na Faixa de Gaza, segundo as autoridades de saúde locais.

Os israelenses deram uma ordem de evacuação na Cidade de Gaza esta terça-feira, despejando sobre os palestinos que ainda vivem nas ruínas de suas casas panfletos com o aviso de que os militares estão se preparando para destruir a área.

A embaixada dos EUA na capital do Catar emitiu um alerta para todos os cidadãos dos EUA ficarem em confinamento, devido ao “impacto de mísseis em Doha”.

Majed al-Ansari, porta-voz do ministério das relações exteriores do Catar, chamou o ataque de “agressão criminosa” e “flagrante violação” ao direito internacional. “O estado do Catar repudia veementemente este ataque, e afirma que não tolerará o comportamento imprudente de Israel, e a contínua perturbação da segurança da região, e qualquer ação que vise à sua segurança e soberania”, disse, em comunicado.

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