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Primeiro, Trump bombardeia o Irã. Depois, pede paz.

O presidente dos EUA sempre criticou as guerras do Partido Democrata, mas Trump parece disposto a fazer o mesmo

Trump quer impor a paz à força.

Aviões de guerra dos EUA bombardearam três instalações nucleares no Irã na noite de sábado, levando os EUA diretamente para dentro da guerra de Israel contra o Irã. “AGORA É A HORA DA PAZ”, escreveu o presidente Donald Trump, de forma incoerente, na mesma publicação de redes sociais em que anunciou os ataques.

Trump fez sua campanha à presidência em 2024 prometendo acabar com as guerras em países estrangeiros, e vem se apresentando como um “pacificador“. Em seu segundo discurso de posse, ele prometeu “medir nosso sucesso não apenas pelas batalhas que vencemos, mas também pelas guerras que encerramos, e, talvez mais importante, pelas guerras em que nunca entramos|. Trump também regularmente alega que teria sido contra a Guerra do Iraque desde o início. (Na verdade, ele apoiou o confronto.)

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“Completamos nosso ataque muito bem-sucedido contra três instalações nucleares no Irã, incluindo Fordow, Natanz e Esfahan”, escreveu Trump em sua rede TruthSocial. “Todos os aviões já estão fora do espaço aéreo iraniano. Uma carga inteira de BOMBAS foi lançada no principal alvo, Fordow.”

O objetivo dos ataques, segundo autoridades dos EUA e de Israel, seria impedir o Irã de construir uma bomba atômica. A comunidade de inteligência dos EUA, no entanto, diz que a ameaça não é real.

“Continuamos a avaliar que o Irã não está construindo uma arma nuclear e que [o líder supremo do Irã, aiatolá Ali] Khamenei não reautorizou o programa de armas nucleares que suspendeu em 2003, embora provavelmente esteja sofrendo pressão para fazê-lo”, diz a Avaliação Anual de Ameaças de 2025, que foi publicada em março. A avaliação funciona como análise oficial de ameaças contra os cidadãos dos EUA, “a pátria”, e os interesses dos EUA. Trump rejeitou essas avaliações, e também as mais recentes no mesmo sentido.

Especialistas em defesa que conversaram com o Intercept alertaram que os Estados Unidos podem entrar entrando em uma nova rodada de guerra perpétua.

“Considerando o apoio a Israel em Gaza e em todas essas operações no Oriente Médio, e agora nos ataques ao Irã, estamos estabelecendo as bases para a ‘Guerra ao Terror’ da próxima geração”, diz Wes Bryant, que até o começo do ano era analista sênior e assessor em guerra de precisão, seleção de alvos e mitigação de danos a civis no Centro de Excelência em Proteção a Civis do Pentágono.

Ele questiona a mudança abrupta do governo Trump, entre negociar com o Irã sobre o programa nuclear, e lançar um bombardeio.

Até alguns dias atrás, a ideia de uma “ameaça nuclear iraniana iminente” não era séria, segundo Bryant. “O fato de que Trump foi subitamente arrastado para esse grande ataque reativo contra o Irã, sob o pretexto de dissuasão nuclear, está, a meu ver, entre os sinais de alerta mais perturbadores desse governo até agora.”

“A decisão de Trump de atacar alvos nucleares iranianos é míope, não vai atingir seus objetivos declarados, traz riscos significativos para os Estados Unidos, e pode prejudicar suas prioridades de política externa”, diz Jennifer Kavanagh, diretora de análise militar no instituto de pesquisa Defense Priorities, que busca uma política externa mais contida para os EUA. “Atacar o Irã enquanto havia esforços diplomáticos em andamento compromete sua pressão pela paz em outros lugares, inclusive com Putin. Por que a Rússia ou qualquer outro país negociaria com Trump daqui em diante?”

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, diz que seu objetivo militar era “atacar todas” as instalações nucleares iranianas. Ele vinha pressionando Trump a potencializar os ataques israelenses com armas que seu país não possui –– a saber, as bombas GBU-57 de 13 toneladas, conhecidas como Imensa Munição Penetradora, ou “arrasa bunker”, que poderiam destruir as instalações subterrâneas iranianas de enriquecimento nuclear em Fordow.

Ex-autoridades de defesa especulam que essas armas, tão pesadas que só podem ser carregadas por bombardeiros B-52, tenham sido usadas em prol de Israel nos ataques de sábado.

“Trump está tentando sinalizar que quer voltar à diplomacia, mas o risco de uma guerra mais ampla ainda é muito alto e real. É a retaliação do Irã que vai determinar se os Estados Unidos podem sair com tanta facilidade”, diz Kavanagh, ex-cientista política sênior na RAND Corporation, que foi diretora do programa de Estratégia Militar.

“É muito pouco provável que o Irã aceite negociar agora, porque Trump não tem como oferecer a eles garantias confiáveis de que serão poupados de futuros ataques caso aceite se sentar à mesa”, diz Kavanagh. “Trump sacrificou uma grande influência diplomática em troca de ganhos militares de duração incerta, e ao fazer isso, colocou os EUA em risco de outra guerra dispendiosa no Oriente Médio, que vai diminuir mais ainda a influência global dos EUA e a prosperidade americana.”

Mais de 40 mil militares estadunidenses da ativa e civis que trabalham para o Pentágono estão posicionados no Oriente Médio. As tropas dos EUA na região foram atacadas cerca de 400 vezes, no mínimo, desde outubro de 2023, em resposta à guerra israelense com apoio dos EUA em Gaza. Conduzidos principalmente por milícias apoiadas prelo Irã e pelos governo dos houthis no Iêmen, aliados iranianos, os ataques incluíram uma mistura de drones de ataque unidirecionais, foguetes, morteiros, e mísseis balísticos disparados contra as bases em terra e os navios de guerra dos EUA em toda a região.

Trump fechou um acordo de cessar-fogo com os houthis em maio. Antes dos ataques dos EUA contra o Irã, os houthis ameaçaram atacar novamente navios dos EUA no Mar Vermelho caso Washington se unisse aos ataques de Israel contra o Irã.

Enquanto isso, Netanyahu manifestou seu desejo de uma mudança de regime no Irã, e não descartou atacar o líder supermo do país, dizendo que “ninguém no Irã deve ter imunidade“. O ministro da Defesa de Israel disse que o aiatolá Ali Khamenei não pode “continuar a existir“: Trump se juntou às ameaças, destacando que os EUA conhecem a localização de Khamenei, e levantou a possibilidade de assassiná-lo no futuro.

“Sabemos exatamente onde está escondido o chamado ‘Líder Supremo’. Ele é um alvo fácil, mas está seguro lá –– não vamos pegá-lo (matar!), pelo menos não por ora”, escreveu Trump no Truth Social no começo da semana passada, antes dos ataques de sábado.

“A força militar, por si só, raramente é eficaz para orquestrar a mudança de regime”, disse ao Intercept dos EUA Joseph Votel, um general de quatro estrelas do Exército na reserva, que liderou tanto o Comando de Operações Especiais quanto o Comando Central, e supervisiona os esforços militares dos EUA no Oriente Médio.

“Haverá repercussões contra os EUA, e isso deveria ser discutido e abordado em detalhes”, alerta Votel. “Não há um rumo simples que possamos tomar nessa situação.”

Os EUA já despejaram bilhões de dólares na máquina de guerra israelense, fornecendo armamento avançado, de caças e munição de tanque a veículos táticos e mísseis ar-ar. Os Estados Unidos são o principal fornecedor de todos os aviões de combate de Israel e da maior parte de suas bombas e mísseis. Essas armas são fornecidas a Israel com pouco ou nenhum custo, e os contribuintes americanos pagam a conta praticamente toda.

Uma análise do Projeto Custos da Guerra, da Universidade Brown, contabilizou em torno de US$18 bilhões (R$98,9 bilhões) em ajuda militar para Israel no ano seguinte ao início da guerra de Israel em Gaza, em 7 de outubro de 2023. Foi um valor muito mais alto do que em qualquer outro ano desde que os EUA começaram a fornecer ajuda militar a Israel, em 1959.

Pela internet, e em um pronunciamento à nação, Trump insinuou que mais ataques poderiam vir.

“QUALQUER RETALIAÇÃO PELO IRÃ CONTRA OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA SERÁ RECEBIDA COM FORÇA MUITO MAIOR DO QUE A QUE FOI TESTEMUNHADA ESTA NOITE”, escreveu o presidente na Truth Social.

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