Netanyahu quer levar Trump para a guerra contra o Irã

O jornalismo do Intercept Brasil é livre: sem anúncios, sem filtros de leitura, sem dinheiro de políticos ou empresas. 

Contamos com a sua ajuda para seguir revelando os segredos dos poderosos.

Apoie o jornalismo corajoso e independente.

DOE HOJE

O jornalismo do Intercept Brasil é livre: sem anúncios, sem filtros de leitura, sem dinheiro de políticos ou empresas. 

Contamos com a sua ajuda para seguir revelando os segredos dos poderosos.

Apoie o jornalismo corajoso e independente.

DOE HOJE

Trump e Netanyahu estão flertando com o fim do mundo – e mentindo para você

Donald Trump era considerado um presidente antiguerras. Mas aderiu ao discurso de Israel e está se envolvendo na guerra contra o Irã.

Netanyahu quer levar Trump para a guerra contra o Irã

Israel lançou na semana passada sua guerra contra o Irã, no que chamou de “ataque preventivo”.

O Irã — segundo o governo israelense — estaria perigosamente perto de produzir uma arma nuclear, e Israel precisava levar a cabo uma série de assassinatos de lideranças militares, bombardeios em áreas residenciais e ataques contra locais de produção nuclear para impedir.

Os EUA vêm fornecendo apoio militar direto desde então, usando seus sistemas de armas defensivas para abater os mísseis balísticos que o Irã lançou em retaliação contra o ataque surpresa de Israel.

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar

Israel quer mais. Apenas os EUA possuem as bombas “arrasa bunker” que, segundo Israel, podem perfurar e destruir as instalações subterrâneas iranianas de enriquecimento nuclear em Fordow. Israel está pleiteando aos EUA que entrem na guerra e lancem uma série de ataques para acabar com a suposta ameaça nuclear do Irã.

Porém, segundo a comunidade de inteligência dos EUA, essa ameaça não é real.

“Continuamos a avaliar que o Irã não está construindo uma arma nuclear e que [o líder supremo do Irã, aiatolá Ali] Khamenei não reautorizou o programa de armas nucleares que suspendeu em 2003, embora provavelmente esteja sofrendo pressão para fazê-lo”, diz a Avaliação Anual de Ameaças de 2025, a análise oficial de ameaças contra os cidadãos dos EUA, “a pátria”, e os interesses dos EUA, que foi publicada em março.

No sábado, Susan Miller, a ex-chefe do posto da CIA em Israel, que se aposentou da agência em 2024, disse ao podcast SpyTalk que os atuais dirigentes mantinham essa avaliação.

O Irã já declarou reiteradamente que não pretende construir uma arma nuclear, mas insiste em receber autorização para desenvolver energia nuclear para as necessidades do país. Estima-se que Israel possua 90 ogivas nucleares, e possivelmente a capacidade de lançar ataques com elas por terra, mar e ar.

Isso não impediu o governo Trump de endossar a guerra de Israel contra o Irã, e correr o risco de ser arrastado mais ainda para o conflito, segundo os especialistas.

O próprio Trump já adotou a narrativa israelense da necessidade de impedir o Irã de produzir armas nucleares. “Que vergonha, que desperdício de vida humana”, escreveu Trump em sua rede TruthSocial, na segunda-feira. “É simples, O IRÃ NÃO PODE TER UMA ARMA NUCLEAR. Eu já disse várias vezes! Todos devem evacuar Teerã imediatamente!”

Os EUA já despejaram bilhões de dólares na máquina de guerra israelense, fornecendo armamento avançado, de caças e munição de tanque a veículos táticos e mísseis ar-ar. Os Estados Unidos são o principal fornecedor de todos os aviões de combate de Israel e da maior parte de suas bombas e mísseis. Essas armas são fornecidas a Israel com pouco ou nenhum custo, e os contribuintes americanos pagam a conta praticamente toda. Além disso, os EUA consistentemente protegem Israel na ONU, blindando o país da responsabilização internacional

“O governo Trump basicamente perdeu o controle de sua política externa. Israel agora está ditando a política dos EUA no Oriente Médio. Eles estão claramente no comando”, disse ao Intercept dos EUA um pesquisador sênior do Centro de Política Internacional, Stephen Semler. “Isso faz Trump parecer incrivelmente fraco. Deveria ser uma vergonha pessoal. Ele parece um completo idiota.”

A guerra de Israel começou na sexta-feira, com um ataque surpresa que matou quase todo o alto escalão de comandantes militares iranianos, e seus principais cientistas nucleares. Desde então, Israel ampliou seus alvos: atacou infraestrutura de energia e a agência estatal de notícias do Irã. Os ataques mataram centenas de civis

Na noite de segunda-feira, o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, anunciou o destacamento de “recursos adicionais para o Oriente Médio”, e disse que “o objetivo desses destacamos é melhorar nossa postura defensiva”. O Pentágono se recusou a fornecer mais esclarecimentos sobre o reforço militar dos EUA na região.

Os ataques israelenses provocaram ondas de mísseis balísticos e drones iranianos em retaliação. Israel diz que pelo menos 24 pessoas foram mortas, e cerca de 600 ficaram feridas. As forças armadas dos EUA já ajudaram várias vezes Israel a se defender de ataques iranianos. O Pentágono não respondeu perguntas sobre quais ativos dos EUA foram usados ou quantos mísseis interceptadores foram empregados para defender Israel.

Semler aponta que mesmo ignorando os tremendos custos auxiliares de um grupo de porta-aviões posicionado no Oriente Médio, do Sistema de Defesa Antimísseis de Grande Altitude (THAAD), e das baterias dos mísseis Patriot; da operação do equipamento; do desgaste; dos destacamentos adicionais; e do pagamento de bônus para a tropa — entre muitos outros custos — o preço apenas dos mísseis interceptadores já é imenso. Cada interceptador THAAD, por exemplo, custa cerca de 21 milhões de dólares (115 milhões de reais).

“Imagine, é como explodir uma coleção de 10 Bugatti Veyron no céu para abater um único míssil vindo do Irã”, compara Semler, usando de referência o supercarro de 2 milhões de dólares (11 milhões de reais), um dos automóveis mais caros do planeta. “Será que realmente vale a pena? Com Trump, assim como era com Biden, aparentemente nenhum custo é alto demais para os Estados Unidos.”

Uma análise do Projeto Custos da Guerra, da Universidade Brown, contabilizou em torno de US$18 bilhões (R$98,9 bilhões) em ajuda militar para Israel no ano seguinte ao início da guerra de Israel em Gaza, em 7 de outubro de 2023. Foi um valor muito mais alto do que em qualquer outro ano desde que os EUA começaram a fornecer ajuda militar a Israel, em 1959.

Embora Israel tenha comprometido grande parte do programa nuclear iraniano com seus bombardeios, parece não ser capaz de destruir as instalações iranianas de enriquecimento nuclear de Fordow sem a ajuda da Imensa Bomba Penetradora de Material Bélico(MOP) dos EUA, ou GBU-57, que é tão pesada que só pode ser carregada por um bombardeiro B-52. Considerando que Israel não tem nenhuma das duas coisas, e as instalações estão profundamente enterradas no subsolo, os EUA precisariam realizar ondas de ataques no local em prol de Israel.

“Usar as nossas bombas arrasa bunker significaria uma guerra direta contra o Irã. Não deveríamos fazer isso. O Irã já tem o conhecimento para reconstruir seu programa. Eles já têm as centrífugas”, diz o Dep. Ro Khanna, do Partido Democrata da Califórnia, que está tentando apresentar uma Resolução de Poderes de Guerra bipartidária para impedir o presidente Donald Trump de mergulhar os EUA em uma guerra contra o Irã. “Trump precisa deixar mais claro para Netanyahu que isso está inflamando a região e criando risco de mais conflito sem solução, porque a capacidade do Irã em Fordow ainda está lá.”

Os especialistas dizem que Israel lançou sua própria guerra contra o Irã após ser encorajado pela atitude “laissez-faire” dos governos Biden e Trump, que permitiram escaladas ilimitadas dos ataques contra Gaza — matando dezenas de milhares de civis — sem responsabilização, nem consequência. Eles também dizem que Israel não poderia entrar nessas guerras sem o forte envolvimento dos EUA.

“A capacidade militar de Israel é dependente dos altos níveis de ajuda militar que recebeu dos Estados Unidos ao longo das últimas cinco décadas — incluindo US$17,9 bilhões (R$98,3 bilhões) em apoio desde outubro de 2023”, disse ao Intercept a diretora do Projeto Custos da Guerra, Stephanie Savell. “A ajuda disparou ao longo do último ano, permitindo a Israel travar essa guerra.”

Nem o Pentágono, nem a Casa Branca comentaram sobre os custos da guerra para o povo dos EUA. Os custos de uma guerra total dos EUA contra o Irã seriam astronômicos, em dólares e em vidas humanas.

Sem anúncios. Sem patrões. Com você.

Reportagens como a que você acabou de ler só existem porque temos liberdade para ir até onde a verdade nos levar.

É isso que diferencia o Intercept Brasil de outras redações: aqui, os anúncios não têm vez, não aceitamos dinheiro de políticos nem de empresas privadas, e não restringimos nossas notícias a quem pode pagar.

Acreditamos que o jornalismo de verdade é livre para fiscalizar os poderosos e defender o interesse público. E quem nos dá essa liberdade são pessoas comuns, como você.

Nossos apoiadores contribuem, em média, com R$ 35 por mês, pois sabem que o Intercept revela segredos que a grande mídia prefere ignorar. Essa é a fórmula para um jornalismo que muda leis, reverte decisões judiciais absurdas e impacta o mundo real.

A arma dos poderosos é a mentira. A nossa arma é a investigação.

Podemos contar com o seu apoio para manter de pé o jornalismo em que você acredita?

Apoie o Intercept Hoje

Entre em contato

Conteúdo relacionado

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar