Não tem “mas”. Quando alguém agride um jornalista ao vivo em um dos maiores programas de rádio do país, não tem “mas”. Quando essa agressão acontece com certeza de impunidade, não tem “mas”. Quando o apoio de parte da população ao espancamento de jornalistas se torna assim visível, não tem “mas”.
Jornalistas da Turquia me chamam pra conversar e me dizem que nós somos a Turquia de amanhã. Eu não quero acreditar e eles riem, servem mais um pouco de cerveja e me olham com certa pena: “Começou assim, e hoje temos mais de 100 jornalistas presos”.
Não tem “mas” porque a minha vida foi devassada depois que começamos a denunciar o governo Bolsonaro e o projeto de poder de Sergio Moro. Fui filmado na rua. Minha mulher e meu filho foram filmados na rua. Ando com gente armada comigo todos os dias, destruindo minha privacidade, meu prazer pelas coisas pequenas. Pensa nisso. Não é sobre mim, não é sobre nós jornalistas. Não tem “mas”.
Estamos mexendo com gente perigosa. É hora de proteger o que nós – todos nós – ainda temos de mais valioso nesse país.
Tem gente aplaudindo lá fora, tem gente acendendo tochas. Tem gente que aplaude quando o sangue escorre e você vem com “mas”. “Mas vocês são muito combativos”, “mas porque vocês mexem com esses caras”, “mas vocês aceitaram ir ao programa”, “mas vocês aceitaram debater com fulano”… “mas vocês sabiam que isso poderia acontecer”. Mas, mas, mas. “Mas vocês merecem”.
Não. Não tem mas.
Ou sentamos o pé no horror, ou o horror vai nos devorar vivos. O jogo mudou, mas tem quem ainda não tenha entendido.
Não tem mas, porque não pode ter mas.
O Intercept é sustentado por quem mais se beneficia do nosso jornalismo: o público.
É por isso que temos liberdade para investigar o que interessa à sociedade — e não aos anunciantes, empresas ou políticos. Não exibimos publicidade, não temos vínculos com partidos, não respondemos a acionistas. A nossa única responsabilidade é com quem nos financia: você.
Essa independência nos permite ir além do que costuma aparecer na imprensa tradicional. Apuramos o que opera nas sombras — os acordos entre grupos empresariais e operadores do poder que moldam o futuro do país longe dos palanques e das câmeras.
Nosso foco hoje é o impacto. Investigamos não apenas para informar, mas para gerar consequência. É isso que tem feito nossas reportagens provocarem reações institucionais, travarem retrocessos, pressionarem autoridades e colocarem temas fundamentais no centro do debate público.
Fazer esse jornalismo custa tempo, equipe, proteção jurídica e segurança digital. E ele só acontece porque milhares de pessoas escolhem financiar esse trabalho — mês após mês — com doações livres.
Se você acredita que a informação pode mudar o jogo, financie o jornalismo que investiga para gerar impacto.