O índio Jairan, da aldeia Tingui Botó, de Alagoas, foi proibido de entrar na 20ª Plenária da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, que iria acontecer na última quinta-feira no auditório do anexo do Palácio do Planalto. Com o rosto pintado e usando cocar, seguranças alegaram que o índio não estava vestido adequadamente. Jairan usava uma calça jeans e uma camisa de manga curta.
A Comissão, instituída em 2012, discute a agroecologia e a produção orgânica com a participação de membros da sociedade. Jairan é justamente o representante das comunidades indígenas no grupo, que tem 14 membros da sociedade civil e 14 do Governo Federal.
Ao site do MST, o índio afirmou que ouviu os seguranças dizerem que apenas as pessoas vestidas “normais” iriam entrar para a reunião. “Porque eu estou com um cocar e uma pintura característica do meu povo, o pessoal da segurança considerou que a gente estava vestido anormal e não permitiu o nosso acesso”, disse.
Além dele, mais duas mulheres foram proibidas de entrar. Eryka Galindo, membro da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, que vestia uma camisa manifestando apoio ao ex-presidente Lula, e Sarah Luíza de Souza Moreira, do Grupo de Trabalho de Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia, barrada porque usava um adesivo com a mensagem #Lulalivre.
Generosa Oliveira da Silva presenciou toda a situação e relatou ao The Intercept Brasil. Ela é membro da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária. “Érica, Sarah e Jairan foram barradas, mas também outras três mulheres foram convidadas a se retirar depois de já estarem dentro da reunião”, conta.
Foram expulsas da reunião: Francisca Nascimento da Silva, coordenadora do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu; Tatiana Muniz, membro da Rede Xique Xique do Rio Grande do Norte; e Michela Calaça, representante das mulheres trabalhadoras rurais do Nordeste. De acordo com Generosa, “um general” coordenava a ação dos seguranças. “Ele entrou no local onde estávamos e ficou conversando com o chefe de segurança. Estava uniformizado com a farda do Exército”, relata.
A plenária foi cancelada após o tumulto. Outros membros se negaram a continuar o debate, em solidariedade ao índio Jairan e às conselheiras barrados ou expulsas.
S.O.S Intercept
Peraí! Antes de seguir com seu dia, pergunte a si mesmo: Qual a chance da história que você acabou de ler ter sido produzida por outra redação se o Intercept não a tivesse feito?
Pense em como seria o mundo sem o jornalismo do Intercept. Quantos esquemas, abusos judiciais e tecnologias distópicas permaneceriam ocultos se nossos repórteres não estivessem lá para revelá-los?
O tipo de reportagem que fazemos é essencial para a democracia, mas não é fácil, nem barato. E é cada vez mais difícil de sustentar, pois estamos sob ataque da extrema direita e de seus aliados das big techs, da política e do judiciário.
O Intercept Brasil é uma redação independente. Não temos sócios, anúncios ou patrocinadores corporativos. Sua colaboração é vital para continuar incomodando poderosos.
Apoiar é simples e não precisa custar muito: Você pode se tornar um membro com apenas 20 ou 30 reais por mês. Isso é tudo o que é preciso para apoiar o jornalismo em que você acredita. Toda colaboração conta.
Estamos no meio de uma importante campanha – a S.O.S. Intercept – para arrecadar R$ 250 mil até o final do mês. Nós precisamos colocar nosso orçamento de volta nos trilhos após meses de queda na receita. Você pode nos ajudar hoje?