RIO DE JANEIRO,RJ,20.03.2018:INVESTIGAÇÃO-ASSASSINATO-MARIELLE-FRANCO - Carro onde foi assassadinada a vereadora Marielle Franco é visto na Divisão de Homicídios, no Rio de Janeiro (RJ), na manhã desta terça-feira (20). Pessoas ligadas a vereadora assassinada Marielle Franco serão ouvidas hoje na tentativa de tentar descobrir possíveis motivações para o crime, que também resultou na morte do motorista Anderson Gomes. (Foto: jose lucena/Futura Press/Folhapress)

Polícia descobre celular do motorista do carro usado no crime de Marielle e quebra sigilo de vereadores

Investigadores querem saber se houve contato com celular de motorista de carro usado no assassinato.

RIO DE JANEIRO,RJ,20.03.2018:INVESTIGAÇÃO-ASSASSINATO-MARIELLE-FRANCO - Carro onde foi assassadinada a vereadora Marielle Franco é visto na Divisão de Homicídios, no Rio de Janeiro (RJ), na manhã desta terça-feira (20). Pessoas ligadas a vereadora assassinada Marielle Franco serão ouvidas hoje na tentativa de tentar descobrir possíveis motivações para o crime, que também resultou na morte do motorista Anderson Gomes. (Foto: jose lucena/Futura Press/Folhapress)

O caso Marielle

Parte 8

Marielle Franco virou um símbolo internacional após seu assassinato no dia 14 de março de 2018. Com os olhos do mundo no Rio de Janeiro, todos estão perguntando: #QuemMandouMatarMarielle? E por quê?


As ligações telefônicas e trocas de mensagens feitas por alguns vereadores da Câmara do Rio de Janeiro no dia do assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes estão sendo investigadas pela Divisão de Homicídios da Polícia Civil. Após a identificação do número de celular do motorista do carro usado no crime, os investigadores conseguiram na Justiça a quebra do sigilo de outros aparelhos, inclusive de integrantes do Legislativo carioca, para apurar algum possível contato nas horas próximas à execução.

Ao todo, oito vereadores já foram ouvidos pela polícia, todos, porém, na condição de testemunhas. Nesta quinta-feira, Jair Barbosa Tavares, o Zico Bacana (PHS), prestou depoimento para explicar o motivo da visita em seu gabinete, no sétimo andar da Câmara, de três homens horas antes do crime – entre eles, um ex-PM indiciado na CPI das Milícias na qual Marielle trabalhou.

Conforme The Intercept Brasil antecipou com exclusividade, os passos de integrantes de grupos paramilitares nos corredores e gabinetes do Palácio Pedro Ernesto, às vésperas dos assassinatos, vêm sendo investigados pela Polícia Civil. Na semana anterior ao assassinato, outro miliciano também esteve na Casa: o ex-vereador Cristiano Girão – condenado por chefiar uma milícia na Gardênia Azul, em Jacarepaguá.

Licença-paternidade

Com reduto eleitoral em Guadalupe, bairro sob forte influência de paramilitares, Zico Bacana, que também fora indiciado na CPI das Milícias, estava sumido da Câmara desde o assassinato de Marielle e Anderson. No dia seguinte, enquanto os corpos da vereadora e de seu motorista eram velados no salão nobre da Casa, o parlamentar comemorava, em outro extremo da cidade, o nascimento de um filho.

Na última quarta-feira, 20 dias depois do crime, Zico Bacana retornou à Câmara carregando a certidão de nascimento do bebê, para justificar as ausências nas últimas seis sessões. Logo que chegou ao plenário, foi falar com o vereador Tarcísio Motta, líder do PSOL. Na breve conversa, Bacana prestou solidariedade e se explicou dizendo que estava sumido do trabalho por conta da licença-paternidade.

As investigações do caso Marielle estão mobilizando uma força-tarefa formada por policiais da Divisão de Homicídios, seis promotores do Ministério Público estadual e juízes do Tribunal de Justiça. Um dos principais objetivos da união é exatamente agilizar a concessão dos pedidos de quebra de sigilo telefônico e de mensagens de pessoas próximas à vereadora.

No depoimento prestado nesta quinta como testemunha, Zico Bacana disse que não se lembrava da participação de Marielle na CPI das Milícias nem mantinha muito contato com a vereadora do PSOL.

Crime profissional

Marielle vinha denunciando ações da PM, que resultaram em mortes em favelas cariocas. Entre os alvos das críticas, estavam policiais do 41 BPM, de Acari, unidade onde trabalham policiais que já foram homenageados com moções pelo vereador.

The Intercept Brasil vem solicitando entrevista com o político desde o dia seguinte aos assassinatos de Marielle e Anderson. Por e-mail, o chefe de gabinete do vereador respondeu que não fazia sentido Zico Bacana falar após ter sido citado em reportagem do site:

“Acredito que esse convite deveria ocorrer antes da publicação da matéria irresponsável e inconsequente, que foi reproduzida por inúmeros meios de comunicação e que causaram prejuízo à imagem do vereador”, escreveu o assessor, ignorando que o pedido de entrevista havia sido feito antes da publicação.

Uma das principais linhas da investigação sugere a participação de milicianos na morte da vereadora. Suspeita reforçada pela forma profissional de atuação dos assassinos: seguiram a vítima; usaram veículos com placas clonadas, além de um abafador de som ao disparar os tiros com uma pistola 9 mm – todos na direção da cabeça de Marielle. As milícias se alastraram pelo Rio de Janeiro sufocando os antigos barões do tráfico de drogas e são, hoje, a força criminosa dominante na cidade.

S.O.S Intercept

Peraí! Antes de seguir com seu dia, pergunte a si mesmo: Qual a chance da história que você acabou de ler ter sido produzida por outra redação se o Intercept não a tivesse feito?

Pense em como seria o mundo sem o jornalismo do Intercept. Quantos esquemas, abusos judiciais e tecnologias distópicas permaneceriam ocultos se nossos repórteres não estivessem lá para revelá-los?

O tipo de reportagem que fazemos é essencial para a democracia, mas não é fácil, nem barato. E é cada vez mais difícil de sustentar, pois estamos sob ataque da extrema direita e de seus aliados das big techs, da política e do judiciário.

O Intercept Brasil é uma redação independente. Não temos sócios, anúncios ou patrocinadores corporativos. Sua colaboração é vital para continuar incomodando poderosos.

Apoiar é simples e não precisa custar muito: Você pode se tornar um membro com apenas 20 ou 30 reais por mês. Isso é tudo o que é preciso para apoiar o jornalismo em que você acredita. Toda colaboração conta.

Estamos no meio de uma importante campanha – a S.O.S. Intercept – para arrecadar R$ 250 mil até o final do mês. Nós precisamos colocar nosso orçamento de volta nos trilhos após meses de queda na receita. Você pode nos ajudar hoje?

Apoie o Intercept Hoje

Entre em contato

Conteúdo relacionado

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar