(este texto contém correção)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje que é vítima de um “massacre” há quase três anos, quando foi iniciada a Operação Lava Jato. Em depoimento como réu em um processo decorrente da operação na 10ª Vara Federal, em Brasília, Lula afirmou que acorda todos os dias com medo de ser preso. Ele atribuiu à parte da imprensa a culpa pela perseguição que tem sofrido.
“O senhor sabe o que é levantar todo dia achando que a imprensa tá na porta de casa porque vou ser preso?”, questionou. Lula disse que é a favor da liberdade de imprensa, mas que “ninguém pode avacalhar a vida dos outros”. “Tem gente que acha que eu sou contra a Lava Jato. Pelo contrário (…) O que eu sou contra é tentar criminalizar a pessoa pela imprensa, e não pelos autos do processo. O que eu sou contra é execrar, é condenar…”, afirmou.
Ainda segundo o ex-presidente, estaria na hora de chamar os donos da Globo e da Record para prestar depoimento para ver se o delatam. “Sabe quantas horas eu tenho negativas contra mim no Jornal Nacional em oito meses? 16h, nenhum político no mundo aguentaria isso”, disse.
Lula também reclamou da atuação dos investigadores da Operação Lava Jato e disse que alguém “instiga” os delatores a citarem o nome dele. “Juiz, promotor, delegado não tem que ficar fazendo pirotecnia com as pessoas. Primeiro, apurem, investiguem e condenem. Quando condenado, bote na cadeia. E acabou.”, disse.
Polícia Militar do Distrito Federal reforça segurança para depoimento do ex-presidente Lula à Justiça Federal.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O interrogatório do ex-presidente começou por volta das 10h da manhã. Essa é a primeira vez que o Lula é questionado em juízo como réu em ação penal relacionada à Operação Lava Jato. Ao todo, o petista é alvo de 5 denúncias: duas em processos na Justiça Federal do Paraná e três em Brasília.
“Certamente, depois de presas alguns dias, as pessoas começam a encontrar um jeito de sair na cadeia e resolvem jogar fogo em cima dos outros.”
No depoimento, o ex-presidente afirmou que não conhece Cerveró, que, segundo ele, foi indicado para o cargo na Petrobras pelo PMDB. Lula disse que o via apenas em reuniões coletivas e que não teria por que ter medo de um depoimento dele. “Só tem um brasileiro que poderia ter medo do depoimento do Cerveró, que é o Delcídio. Ele já tinha convivência com Cerveró antes do meu governo. Todo mundo sabia da relação histórica dos dois. A minha relação com o Delcídio era institucional”, afirmou.
Lula chamou de e “falsas” as acusações feitas pelo ex-senador Delcídio Amaral, e disse não não entender qual foi o objetivo do senador cassado ter contado tantas “inverdades”. O ex-presidente insinuou que Delcídio teria firmado o acordo de delação apenas para sair da cadeia e jogar a culpa “nas costas” dos outros. “Certamente, depois de presas alguns dias, as pessoas começam a encontrar um jeito de sair na cadeia e resolvem jogar fogo em cima dos outros”, disse.
“Estou aqui para responder toda e qualquer pergunta. Se tem um brasileiro que quer a verdade sou eu”, disse Lula ao juiz Ricardo Augusto Soares Leite. Ele iniciou a sua fala relembrando a história do PT como partido político e as conquistas do seu governo. “Me ofende profundamente a insinuação de que o PT seria uma organização criminosa”, disse.
O ex-presidente aproveitou o depoimento para alfinetar o presidente Michel Temer: “Estamos numa situação em que o presidente não tem coragem de ir à Bolívia. Um país que era motivo de alegria virou motivo de tristeza” disse.
Em todas as viagens que fiz depois de deixar a Presidência, era recebido pelo presidente do país. Hoje, o presidente não vai nem pra Bolívia
— Lula (@LulaOficial) March 14, 2017
Manifestações no lado de fora
Enquanto Lula prestava esclarecimentos, na porta da 10ª Vara Federal um grupo de militantes favoráveis ao ex-presidente entoavam gritos, como “Lula, ladrão, roubou meu coração”. Um homem vestido de pixuleco, um boneco com a aparência do ex-presidente com roupa de presidiário, também esteve presente no local.
*CORREÇÃO:
Diferentemente do citado anteriormente na reportagem, Cerveró não falou sobre a participação do ex-presidente Lula em uma possível tentativa de obstrução das investigações.
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