Os panelaços realizados em bairros nobres na quarta-feira, dia 30, e a manifestação organizada pelos mesmos grupos de direita que pediram o impeachment de Dilma Rousseff, marcada para domingo, dia 4, evidenciam a queda da já pouca popularidade do presidente Michel Temer. E assim se encerra a lua-de-mel entre governo e PSDB, que se provou fogo de palha e acaba de apagar.
“Depende do presidente, não depende do PSDB”, disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos mais proeminentes nomes dentro do partido, nos idos de abril, pouco antes de Temer assumir o governo interino. Na mesma semana, chegou a afirmar que “o Brasil está em primeiro lugar, o partido vem depois“. No entanto, para deixar bem claro no caso de algo dar errado, arrematou: “Isso não será um governo do PSDB”.
Sete meses depois, surge o escândalo “Geddel versus Calero“, e começam a brotar indicações de um rompimento interno entre tucanos e governistas. A saída implosiva de Calero foi considerada por alguns como “o golpe dentro do golpe”. Houve quem chamasse Calero de tucano e também de espião petista. Independentemente do lado em que ele esteja, o fato é que, para acabar com a bagunça, Aécio Neves (PSDB-MG) veio a público se posicionar ao lado de Temer, num discurso extremamente alinhado ao que foi dito pelo próprio presidente:
“Há algo aí extremamente grave e que também tem que ser investigado: o fato de um servidor público, um homem até aquele instante da confiança do presidente da República, com cargo de ministro de Estado, entrar com gravador para gravar o presidente da República. Isso é inaceitável, isso é inédito na história republicana do Brasil.”
O mesmo Aécio, em setembro, disse ao jornal O Globo: “Sem apoio do PSDB, não haverá governo Temer”. Jornais mencionam na quinta-feira, dia 1º, as movimentações internas dos tucanos. Alguns já especulam uma eleição indireta com Fernando Henrique Cardoso como opção. Caso da Folha de S. Paulo, que publicou nota na quinta-feira, dia 1º, sobre o prazo limite imposto dentro do partido para que Temer mostre a que veio e coloque, enfim, a agenda econômica liberal em dia: ele tem até março.
Para curar a ferida, o PMDB foi beijar a mão do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, principal nome tucano na economia. Foi marcada uma reunião com técnicos do Ministério da Fazenda. Fraga era um dos cotados para preencher a vaga que hoje é ocupada Henrique Meirelles. Com o encontro, aumenta a pressão sobre o ministro antes visto como a principal joia da coroa de Temer e aquele que resgataria a confiança dos investidores.
A briga é boa, e não só na economia. Em entrevista para o The Intercept Brasil, o cientista político Daniel Cara analisou a rixa entre governo e PSDB com foco no Ministério da Educação. Segundo ele, a escolha em realizar o projeto de reforma do ensino médio no formato de Medida Provisória foi um dos motivos de desentendimento entre a equipe do MEC que é ligada ao PSDB e aqueles sob a alçada do DEM, como o ministro Mendonça Filho. Ele resume a situação em uma frase: “Se o Temer não aceitar o PSDB, o PSDB vai fazer voo solo”.
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