Comando Vermelho ameaça parar obras da COP30 no Pará 

Comando Vermelho ameaça parar obras da COP30 no Pará 

Facção ainda mandou fechar uma subestação que abastece Belém. Documento mostra que governo federal pediu reforço de segurança dois dias após operação de Cláudio Castro no RJ.

Comando Vermelho ameaça parar obras da COP30 no Pará 

O Comando Vermelho exigiu a suspensão imediata da obra de expansão de uma subestação de energia que alimenta Belém, no Pará, e a interrupção diária de todas as atividades de operação no local a partir das 15h. A ação da facção foi descrita em um comunicado urgente do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, enviado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública em 31 de outubro. 

No documento, obtido pelo Intercept Brasil, Silveira pede reforço de segurança diante do aumento das ameaças às atividades da subestação Marituba, considerada essencial para atender a demanda da conferência do clima da ONU, que começou a receber líderes de todo o mundo na quinta-feira, 6.

Não é a primeira vez que isso acontece. A empresa de energia local, a Belém Transmissora de Energia, relatou que vem recebendo ameaças e intimidações desde maio de 2025 – as ações de coação e sabotagem deram origem a um inquérito policial, em curso na Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários do Pará. 

A facção também ordenou a suspensão da obra tocada pelo Consórcio Liberdade — responsável pela construção da Rodovia Liberdade, via alternativa para se chegar à área central de Belém.

Ministro de Minas e Energia enviou “comunicado urgente” ao Ministério da Justiça (Foto: Reprodução)

O documento relata que “o Consórcio já suspendeu suas atividades na saída de Marituba” e que esta situação demonstra um “risco iminente e ativo não apenas à segurança dos colaboradores e ao patrimônio, mas à própria continuidade de um serviço público essencial, agravado pela proximidade da COP30”.

Esta situação expõe a interseção entre crime, soberania e política internacional – três pilares que sustentam o poder e a estabilidade de um país. O que está em jogo não é apenas uma ameaça localizada no Pará, mas um sinal de alerta sobre a capacidade de o Brasil garantir a segurança da COP30 e manter sua credibilidade às vésperas da realização do evento.

A comunicação entre os ministérios e a empresa de energia se deu dois dias após a megaoperação organizada pelo governador Cláudio Castro, do PL, nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, que resultou em mais de 120 mortes. 

No documento, diretores da empresa relatam ter recebido “novas e graves informações sobre atos de coação e ameaças de ataques às obras” e fazem referência às duas exigências feitas pela facção. Segundo eles, o Consórcio Liberdade relatou ter recebido “notificação idêntica”.

Empresa de energia destacou importância da instalação para o sucesso da COP30 (Foto: Reprodução)

O alerta feito pela Belém Transmissora de Energia e, depois, replicado pelo Ministério de Minas e Energia, também deixou cientes do problema órgãos como o Operador Nacional do Sistema, ONS, o Gabinete de Segurança Institucional, GSI, a Polícia Federal, PF, a Secretaria Nacional de Segurança Pública e a Agência Nacional de Energia Elétrica, Aneel. 

Chama a atenção que nem Marituba nem a subestação entraram na operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) decretada pelo governo federal às vésperas da COP30. O governo federal optou por deixar de fora Marituba e incluir, por exemplo, municípios a cerca de 500 quilômetros de distância, como Altamira e Tucuruí.

Já na tarde de quarta-feira, 5, participantes da conferência do clima receberam um e-mail da organização informando que, a pedido da Polícia Federal, o local onde acontecerá a conferência deveria ser desocupado até as 18h30 – ele fica no Parque da Cidade, a 13 quilômetros da subestação Marituba. A medida foi tomada para permitir uma varredura de segurança antes do início da COP30.

O Intercept questionou o Ministério da Justiça, a PF, o GSI e o Ministério da Defesa sobre o tema e as medidas que foram adotadas a partir do alerta da empresa de Belém e do Ministério de Minas e Energia. Não houve respostas até a publicação desta reportagem.

Riscos à segurança energética da COP

Uma fonte do sistema penitenciário disse ao Intercept que há uma preocupação com atentados na região, especialmente após uma granada ter sido encontrada em um contêiner de lixo em um condomínio no bairro Pedreirinha, em Marituba, na tarde de terça-feira, 4. 

Segundo a Polícia Militar, um morador avistou o artefato, retirou-o do local e o levou para perto de uma guarita, acionando em seguida a PM, que isolou a área até a chegada do Batalhão de Operações de Polícias Especiais, Bope. Procurada, a Polícia Civil disse que ainda não há boletim de ocorrência registrado – mesmo dois dias após o incidente – pois “o Bope recolheu o material para a perícia e, após a perícia, irá registrar o caso”. Procurada, a PM informou que “não tem acesso a estes documentos”.

A subestação Marituba é o principal ponto de conexão da energia que abastece a região metropolitana de Belém – e tem grande relevância no sistema energético do estado, o que faz desse complexo o coração da rede elétrica paraense e uma peça vital da infraestrutura que sustentará a COP30. 

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Desde 2024, Marituba está sob controle da Verene Energia, empresa do grupo canadense Caisse de Dépôt et Placement du Québec, o CDPQ — um dos maiores fundos de investimento do mundo, com atuação global em “energia e infraestrutura sustentável”. 

A Verene chegou ao Brasil em 2022, ao adquirir concessões de transmissão da Equatorial Energia, e, desde então, administra ativos estratégicos no Norte do país. Nós procuramos a Verene, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.

Mesmo com sistemas de redundância operando, uma falha em Marituba poderia gerar instabilidade em toda a rede, atingindo inclusive o centro de Belém e as instalações da conferência. Embora o sistema tenha sido projetado para resistir a falhas, a subestação não foi pensada para funcionar com restrição de horários e permanece como o elo mais sensível para o equilíbrio e a resposta a emergências.

Por isso, qualquer paralisação ou restrição de acesso, como as que constam nas ameaças feitas pelo Comando Vermelho, viola diretamente o plano nacional de contingência e ameaça o protocolo de segurança energética da COP30.

*Gabi Coelho colaborou nesta reportagem.

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