João Filho

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A cadeia lhe espera, Carla Zambelli

Condenada e foragida, deputada tentou posar de heroína bolsonarista, mas foi abandonada de vez. Que seu showzinho no exterior seja interrompido o mais rápido possível. 

A deputada federal Carla Zambelli, do PL de São Paulo, durante entrevista na sede do partido no dia 15 de maio (Foto: Nino Cirenza/Ato Press/Folhapress)

“Carla Zambelli deixa o Brasil” – a frase estampou as manchetes da grande imprensa na última terça-feira, 3. Nem parecia que estava se falando de uma deputada condenada a dez anos de cadeia fugindo do país. A tentativa de suavizar o episódio beira o ridículo. O fato inequívoco é que Zambelli é uma criminosa em fuga. 

A deputada federal pelo PL de São Paulo, aliás, já tem um currículo razoável no mundo do crime. E não falo apenas dos crimes de colarinho branco, mas também daquele que ela cometeu com o revólver na mão. Não há como esquecer das cenas de filme de velho oeste protagonizadas às vésperas da eleição.

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Protegida por seus capangas, Zambelli sacou um revólver no meio da rua e apontou para a cara de um cidadão que a provocou. A deputada foi condenada por porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal com emprego de arma de fogo. Zambelli é uma pessoa perigosa para a sociedade e deve ser tratada como tal. 

Desta vez, a bolsonarista foi condenada por invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça, CNJ, e por falsidade ideológica. Segundo a Procuradoria-Geral da República, PGR, a deputada planejou e coordenou a invasão com o auxílio de um comparsa, o hacker Walter Delgatti, que já foi condenado e está na cadeia. 

Com o objetivo de desmoralizar o Supremo Tribunal Federal, STF, ela invadiu o sistema para inserir documentos falsos, incluindo um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Bandidagem pura.

Zambelli pediu licença do mandato alegando que precisa de um tratamento médico fora do país.  O seu marido, o coronel Aginaldo Oliveira, que é secretário de Segurança Pública em Caucaia, no Ceará, também pediu licença do cargo para cuidar de uma “doença na família”. 

A deputada federal Carla Zambelli, do PL de São Paulo, durante entrevista na sede do partido no dia 15 de maio (Foto: Nino Cirenza/Ato Press/Folhapress)
A deputada federal Carla Zambelli, do PL de São Paulo, durante entrevista na sede do partido no dia 15 de maio (Foto: Nino Cirenza/Ato Press/Folhapress)

A criminosa alegou estar com depressão profunda e outras doenças associadas. Mas, assim que pisou em solo estrangeiro, a depressão passou. “Eu vim pra cá e comecei a perceber que meu tratamento é simplesmente deixar tudo fluir. Meu tratamento não é médico, não é medicamento. Eu acho que tem que começar por aqui, eu preciso destravar o que eu sinto. A pessoa que não pode falar o que pensa, fica doente e, aqui, eu vou conseguir ficar sã de novo”, disse a deputada, em vídeo, na maior cara de pau.

Depois de encontrar o caminho da cura da sua depressão, Zambelli anunciou que irá seguir o exemplo de Eduardo Bolsonaro, deputado federal licenciado pelo PL de SP, e denunciará a “ditadura brasileira” em todas as cortes que ela puder na Europa. Ela “deixou” o Brasil com doenças sérias, mas foi completamente curada pelo ar europeu e agora atuará como uma super heroína do bolsonarismo pelo mundo.

Impressiona a forma destemida com que Zambelli fabrica as histórias mais ilógicas, inverossímeis e delirantes. A parlamentar é uma golpista em todos os sentidos da palavra. Mas o que não falta é otário na praça para sustentar sua malandragem. 

Antes de empreender fuga, a criminosa organizou uma vaquinha virtual que lhe rendeu R$ 285 mil. Com os bolsos cheios, Zambelli e seu marido decidiram largar seus cargos públicos para fugir para a Europa e, de lá, atacar o estado brasileiro. Há que se admitir: Zambelli é uma profissional. 

Ela também pediu emprestado para empresários bolsonaristas uma casa para ela e seu marido nos Estados Unidos. Toda a fuga foi planejada. Primeiro, a criminosa foi para a Argentina por via terrestre e, de lá, partiu para os EUA. Depois, foi para a Itália, já que tem passaporte europeu. 

A deputada acredita haver alguma chance de conseguir se safar porque tem cidadania italiana. Spoiler: não vai. Não há a menor chance de não ser extraditada. Por mais que tente se vender como perseguida política, é fato indiscutível que a deputada foi condenada por um crime comum. Inclusive, já há um pedido de extradição feito por um deputado italiano junto ao governo do seu país.

Zambelli está cavando a sua própria cova. Esse papel de mártir do bolsonarismo que ela inventou para si pode lhe custar caro. A fuga do país fez com que ela se tornasse alvo de mais um inquérito no STF. A deputada foi incluída na lista vermelha da Interpol, o que significa que o seu nome será divulgado para todas as principais polícias do mundo como uma criminosa procurada pela justiça. 

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Além disso, ela teve seus passaportes bloqueados, assim como suas contas bancárias, investimentos, veículos, imóveis e redes sociais. O STF também dificultou seus ataques golpistas contra o judiciário impondo uma multa diária de R$ 50 mil caso publique, direta ou indiretamente, conteúdos que reiterem condutas criminosas. 

Politicamente, Zambelli está completamente sozinha. É odiada por Jair Bolsonaro — mesmo depois de anos de intensa puxação de saco —  e rejeitada pelo seu próprio partido. Absolutamente ninguém da extrema direita apareceu publicamente para defender de maneira fervorosa a aliada, como foi feito com o fujão Eduardo Bolsonaro. Todas as tímidas manifestações de aliados foram no sentido de atacar o STF. 

Zambelli é hoje persona non grata dentro do PL. Na verdade, muitos correligionários estão torcendo para que ela perca o mandato e seja substituída pelo seu suplente, o Coronel Tadeu, do PL de São Paulo. Trocar uma mulher que só traz dor de cabeça por um coronel 100% bolsonarista é tudo o que o partido quer. 

Como se já não bastasse o tanto de rolo que Jair Bolsonaro tem com a justiça, agora Zambelli trouxe-lhe mais um. Na última quinta-feira, 5, o ex-presidente prestou depoimento na Polícia Federal sobre a trama que seu filho está promovendo nos EUA para sancionar autoridades brasileiras. Os investigadores aproveitaram para fazer perguntas sobre sua aliada foragida, mas Bolsonaro não respondeu

Ao sair, o ex-presidente disse aos jornalistas: “Não tenho nada a ver com Carla Zambelli. Não botei dinheiro no pix dela. Estou acompanhando o caso Carla Zambelli pela imprensa”. Mais uma vez, o capitão largou uma de suas aliadas mais bajuladoras ferida na estrada. Pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão. 

Apesar de ter virado pária dentro do bolsonarismo, o fato é que Zambelli está honrando a tradição bolsonarista e deveria ser exaltada. Quase todos os que estavam na fila para a cadeia também fugiram e incorporaram o personagem de vítimas de um regime de exceção.

Zambelli seguiu o script, mas recebeu um tratamento diferente. O fato de ser mulher e ser rejeitada pelo capitão certamente são determinantes para o seu isolamento. Aos democratas, só nos resta que a justiça seja feita rapidamente e que o showzinho da criminosa no exterior seja interrompido o mais rápido possível. A cadeia lhe espera, Zambelli.

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