Jair Bolsonaro acompanhou primeiro dia de julgamento no Supremo Tribunal Federal (Foto: Gustavo Moreno/STF)

Extrema direita usa julgamento de Bolsonaro para atacar o STF

Ameaças, gritos e até tentativa de invasão reforçam discurso de guerra contra as instituições e a aposta em uma radicalização ainda maior.

Jair Bolsonaro acompanhou primeiro dia de julgamento no Supremo Tribunal Federal (Foto: Gustavo Moreno/STF)

A extrema direita transformou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal, o STF, em um campo de batalha simbólico, inflamando tensões e ameaçando levar sua guerra contra as instituições a um novo patamar.

O primeiro dia do julgamento para definir se o ex-presidente e sete aliados vão virar réus por tentativa de golpe deixa claro que a estratégia do bolsonarismo não se limita apenas a defender seu líder, mas sim a inverter o saldo político da decisão, aumentando ainda mais o ódio contra os tribunais – e também contra o jornalismo.

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A sessão da Primeira Turma do STF já começou sob forte pressão. O ex-desembargador Sebastião Coelho – advogado de Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro – interrompeu a leitura do relator Alexandre de Moraes com gritos do lado de fora do plenário.

Detido por desacato, foi liberado em seguida, mas seu gesto se encaixa na lógica bolsonarista para o julgamento que deve durar até o final do ano: tumultuar o julgamento e transformar o STF em um palco de afrontas.

Não foi um caso isolado. Deputados bolsonaristas também tentaram invadir o plenário do tribunal, sendo barrados por seguranças. Coronel Meira, do PL de Pernambuco, aos gritos, exigiu entrada afirmando: “Sou coronel, sou deputado, tem que me respeitar nessa porra!”.

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Outros parlamentares, como Carlos Jordy, do PL do RJ, e Sargento Fahur, do PSD do Paraná, também tentaram forçar a entrada em um gesto coordenado para demonstrar força e antagonizar o STF. Todos eles sabiam que não seria possível entrar, já que a Corte abriu credenciamento prévio. Mas fizeram questão de desgastar o Supremo.

O julgamento de Bolsonaro, por si só, é um momento histórico, mas a extrema direita tenta converter esse evento em um novo estopim para radicalização política. O padrão é claro: confrontos, gritos, xingamentos e ataques orquestrados contra as instituições.

O objetivo é criar um ambiente de caos e perseguição, alimentando o discurso de vitimização que sustenta Bolsonaro e seus aliados.

No centro dessa estratégia, figuras como Sebastião Coelho buscam ganhar projeção. Investigado pelo Conselho Nacional de Justiça, o CNJ, por suspeita de incitação a atos golpistas, Coelho tem usado sua posição para se tornar uma voz de oposição radical ao STF, reforçando a narrativa de que a justiça persegue os bolsonaristas.

Como reportou a imprensa, o plano do PL, partido de Bolsonaro, é que o ex-desembargador seja candidato ao Senado ou a deputado federal no Distrito Federal.

Jornalistas no alvo

Mas os ataques não param no STF. O jornalismo brasileiro viveu, às vésperas do julgamento, e por causa dele, a sua própria “semana dos cristais” — uma alusão aos ataques em massa contra judeus em 1938, episódio que antecedeu o governo de Adolf Hitler.

Em um intervalo de poucas horas, vários jornalistas foram alvos de ameaças e perseguição. Um editor do Intercept Brasil tem recebido ameaças de morte em série após reportar sobre um foragido do 8 de Janeiro em Buenos Aires, na Argentina.

As jornalistas Gabriela Biló e Thaisa Oliveira, da Folha de S.Paulo, também sofreram ameaças e tiveram informações pessoais expostas por um motivo parecido: acusação inverídica de que levaram uma manifestante golpista à cadeia. Não são episódios isolados – e estão totalmente conectados às cenas lamentáveis no STF.

A estratégia é clara: transformar o Supremo Tribunal Federal e a imprensa em inimigos a serem combatidos, criando um ambiente de permanente instabilidade. O preço da aposta nesse clima de tensão ainda é incerto, mas o bolsonarismo já mostrou que está disposto a tudo por seu líder.

O seu futuro está sendo decidido longe dos palanques.

Enquanto Nikolas, Gayers, Michelles e Damares ensaiam seus discursos, quem realmente move o jogo político atua nas sombras: bilionários, ruralistas e líderes religiosos que usam a fé como moeda de troca para retomar ao poder em 2026.

Essas articulações não ganham manchete na grande mídia. Mas o Intercept está lá, expondo as alianças entre religião, dinheiro e autoritarismo — com coragem, independência e provas.

É por isso que sofremos processos da Universal e ataques da extrema direita.
E é por isso que não podemos parar.

Nosso jornalismo é sustentado por quem acredita que informação é poder.
Se o Intercept não abrir as cortinas, quem irá? É hora de #ApoiarEAgir para frear o avanço da extrema direita.

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