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O nome proibido da eleição em SP

Perguntei a Ricardo Nunes sobre sua relação com um empresário. Foi o bastante para ele anunciar me processar criminalmente.

SÃO PAULO, SP, 15.10.2024: ROTA-POLÍCIA-ANIVERSÁRIO - Solenidade Comemorativa ao 54º Aniversário da Rota e Outorga da Medalha 'Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar?', com Governador Tarcísio de Freitas, Secretário de Estado de Segurança Pública ? Guilherme Derrite, o prefeito e candidato da cidade de São Paulo, Ricardo Nunes, o seu vice Ricardo Mello Araújo entre outras autoridades. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress)

Eleições 2024

Parte 25


SÃO PAULO, SP, 15.10.2024: ROTA-POLÍCIA-ANIVERSÁRIO - Solenidade Comemorativa ao 54º Aniversário da Rota e Outorga da Medalha 'Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar?', com Governador Tarcísio de Freitas, Secretário de Estado de Segurança Pública ? Guilherme Derrite, o prefeito e candidato da cidade de São Paulo, Ricardo Nunes, o seu vice Ricardo Mello Araújo entre outras autoridades. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress)
(Foto: Danilo Verpa/Folhapress)

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Osvaldo Cavalcante Maciel. Se você é jornalista ou morador de São Paulo, onde o prefeito Ricardo Nunes, do MDB, caminha para a reeleição, te faço um alerta: jamais pergunte sobre Osvaldo Cavalcante Maciel para a equipe do candidato.

Eu fiz isso ontem – e vou te explicar agora o perigo.

Para começar: Maciel é um dos empresários presos e condenados por uma das maiores fraudes da história do sistema bancário brasileiro, um caso que foi capa dos jornais em 1995. Ele integrou uma quadrilha que desviou R$ 1,6 bilhão do Banco do Brasil, em valores atualizados.

O caso teve ampla cobertura da imprensa. Uma das reportagens menciona a relação de Maciel com políticos da capital e da grande São Paulo.

Há cerca de dois meses, a excelente série Endereços, do site De Olho nos Ruralistas, revelou uma suposta ligação entre Maciel e Ricardo Nunes. Uma das reportagens, intitulada “Como o prefeito de SP ficou subitamente milionário, em 1994”, ouviu um ex-vizinho de Nunes que afirmou que o prefeito era empregado de Maciel.

Procurei uma a uma as sabatinas e entrevistas de Nunes – com especial atenção para os relatos sobre seu passado empresarial. Afinal, nunca tinha ouvido falar sobre essa experiência profissional. E não encontrei nenhuma menção a isso.

É claro que resolvi apurar. Fiz um mergulho nos processos judiciais e administrativos que tratavam da fraude do BB e tentei contato com cada um dos envolvidos. Cheguei a falar com um ex-servidor do BB condenado pelo caso, mas demorei a conseguir contato com Maciel.

Até que, há duas semanas, consegui falar ao telefone com Julianno Maciel. Hoje empresário na zona sul de São Paulo, ele é filho de Osvaldo. Ele me disse que mostrou a reportagem do De Olho nos Ruralistas ao pai – e que, apesar de condenado, Maciel seria inocente.

Antes de desligar, perguntei a ele: “O Ricardo Nunes era funcionário do seu pai? O que ele fazia pro Maciel?”. E ouvi a seguinte resposta: “De fato, o Ricardo Nunes foi funcionário do meu pai. Foi funcionário. Eu confirmo. A função dele na companhia eu não sei”.

Aqui, pela integridade da informação, é importante fazer as seguintes ponderações: i) Nunes nunca foi investigado ou relacionado a qualquer tipo de crime associado à fraude no Banco do Brasil; ii) não existem acusações ou provas de que ele teria se envolvido ou beneficiado financeiramente do crime.

Fiz as seguintes perguntas à assessoria de imprensa de Nunes: “Por quantos anos o prefeito trabalhou com Maciel? Qual função? Entre 1994 e 1996, o prefeito foi remunerado com parte do patrimônio de Maciel?”, questionei, com base nas alegações da reportagem.

Como resultado, há poucas horas, recebi uma das respostas mais violentas em anos cobrindo temas como extremismo, corrupção e crime organizado. O texto foi assinado pelo advogado criminalista Daniel Bialski – e anuncia “imediatamente” um processo judicial contra os supostos caluniadores.

“O site Intercept Brasil procurou a campanha de Ricardo Nunes, com acusações graves, caluniosas e totalmente infundadas que tentam vincular o prefeito a um escândalo de fraude bancária ocorrido em meados da década de 1990”, começa o texto.

Você pode ler a resposta na íntegra aqui, mas acho importante saberem que o comunicado atacou o De Olho nos Ruralistas por uma suposta ligação com uma familiar de Guilherme Boulos, do PSOL (o site, que já havia sido alvo de intimidação semelhante, afirma que mantém todas as informações publicadas, obtidas, em sua maior parte, em documentos públicos, e não foi acionado judicialmente até o momento). Para nós, o comunicado de Nunes anunciou, antes mesmo de publicarmos qualquer coisa, que está ingressando com um processo criminal.

“[A defesa] adianta, inclusive, que vai ingressar, imediatamente, na Justiça, e adotará as medidas criminais contra os autores, asseclas e participes das acusações falsas, caluniosas e inescrupulosas que procuram de forma criminosa envolver Nunes em algo que não tem qualquer relação com a sua história ou com seus atos”, diz a nota.

O questionamento objetivo sobre o tempo em que Nunes trabalhou para Maciel continuou aberto.

O comunicado assinado por Bialski também insinua que as reportagens sobre o tema têm “mandantes”: “Buscaremos a condenação por esses crimes também dos aloprados que atuam como mandantes dessa tentativa desesperada de tumultuar e manchar a reputação e a dignidade do prefeito – uma farsa que fere a democracia e desrespeita os eleitores”. 

Segundo o advogado, “Ricardo Nunes jamais recebeu nenhum centavo do senhor Oswaldo Cavalcante Maciel; jamais se beneficiou de qualquer parte do patrimônio dele”. No entanto, o questionamento objetivo sobre o tempo em que Nunes trabalhou para Maciel continuou aberto. 

Não houve resposta objetiva à pergunta: Ricardo Nunes de fato trabalhou para Maciel? Essa história ainda estava em apuração. E mandar perguntas é passo básico nesse processo. Diante da dúvida que persistiu, discutimos internamente e avaliamos que a não-resposta do candidato – e a ameaça de processo diante de um questionamento simples – nos obrigou a trazer essa informação ao conhecimento dos leitores. Afinal, Ricardo Nunes é o líder na corrida eleitoral para a prefeitura da maior cidade da América Latina.

Da minha parte, admito que temos um mandante: você, leitor, que tem o direito inegociável de saber de cada detalhe da história dos seus governantes. Nada mais. Este é o papel do jornalismo. Não podemos nos curvar às ameaças de ninguém.

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