O aplicativo Signal ainda permite trocas de mensagens realmente anônimas.

A máquina da morte da extrema direita está literalmente botando fogo em nosso país, enquanto muitos fingem que não.

Ela tem trilhões de reais para gastar em propaganda, e a grande mídia está muito feliz em aceitá-los.

Mas no Intercept praticamente cada centavo vem de você, nosso leitor. E, em 2025, precisamos nos unir e lutar mais do que nunca.

Podemos contar com você para atingir nossa meta de arrecadação de fim do ano? O futuro depende de nós.

QUERO APOIAR

A máquina da morte da extrema direita está literalmente botando fogo em nosso país, enquanto muitos fingem que não.

Ela tem trilhões de reais para gastar em propaganda, e a grande mídia está muito feliz em aceitá-los.

Mas no Intercept praticamente cada centavo vem de você, nosso leitor. E, em 2025, precisamos nos unir e lutar mais do que nunca.

Podemos contar com você para atingir nossa meta de arrecadação de fim do ano? O futuro depende de nós.

QUERO APOIAR

Quer mandar mensagens realmente anônimas? Use o Signal.

Dá trabalho, mas é possível preservar o anonimato e configurar o Signal sem usar um número pessoal.

O aplicativo Signal ainda permite trocas de mensagens realmente anônimas.

O aplicativo de mensagens Signal é descrito pelos profissionais de segurança como o padrão ouro da criptografia. Ao contrário de muitos dos concorrentes, seu padrão é a criptografia de ponta a ponta — e, além disso, o aplicativo minimiza a quantidade de informação que armazena sobre os usuários. Isso o torna uma poderosa ferramenta de comunicação para aqueles que procuram um meio privado e seguro de conversar, sejam jornalistas e suas fontes, ativistas e defensores de direitos humanos, ou simplesmente pessoas comuns que querem fugir da coleta desenfreada de dados pelas plataformas das grandes empresas de tecnologia.

O Signal continua a introduzir recursos que aumentam a privacidade, como nomes de usuário que podem ser usados no lugar dos números de telefone para conversar com outras pessoas: isso evita que você seja encontrado em uma busca pelo seu número de telefone. Mas o aplicativo ainda exige que os usuários forneçam um número de telefone em operação para conseguirem se inscrever.

Para os indivíduos preocupados com a privacidade, isso pode ser um problema.

Diante de ordens judiciais, o Signal pode revelar números de telefone. Depender de números de telefone também já levou a incidentes de segurança e invasão de contas. Sem contar que manter em funcionamento a exigência de número de telefone custa ao Signal mais de 6 milhões de dólares (33 milhões de reais) ao ano.

O Signal insiste, em seu site, que os números de telefone são um requisito para encontrar contatos e refrear o spam. (O Signal não respondeu a um pedido de comentários.) Outras plataformas de mensagens criptografadas, como Session e Wire, não exigem números de telefone. 

Existem algumas formas de contornar essa política do Signal, que exigem o uso de um número secundário, a partir de cartões SIM temporários, eSIMs virtuais, ou números virtuais. Mas essas medidas exigem ultrapassar obstáculos e adotar meios de pagamento anônimos para conseguir obter os números secundários. E às vezes elas simplesmente não funcionam (foi a minha experiência quando tentei usar um número do Google Voice para me inscrever no Signal).

Eu queria uma forma de obter uma conta do Signal sem deixar nenhum tipo de rastro de pagamento. Uma alternativa gratuita e anônima. E assim começou a longa e enfadonha jornada de registrar o Signal em um telefone público. 

Encontrar um telefone público

O primeiro passo era efetivamente encontrar um telefone público, uma tarefa que se mostrou terrivelmente ingrata em 2024.

Nos EUA, o Payphone Project (Projeto Telefone Público) lista cerca de 750 mil telefones, mas depois de tentar cruzar uma amostra de centenas de supostos telefones públicos na minha cidade, usando imagens de satélite do Google Street View e do Google Earth, cheguei rapidamente à conclusão de que a lista estava incrivelmente desatualizada. Muitos desses telefones não existem mais. 

Uma pesquisa no Google Maps por telefones públicos na minha região resultou em meia dúzia de locais. Usando o Street View, encontrei quatro locais onde parecia haver alguma coisa parecida com um orelhão. No entanto, uma visita a eles revelou que em um já não havia um telefone público, embora a mancha na fachada da loja revelasse o lugar exato onde ele costumava ficar; outro telefone parecia ter sofrido uma tentativa de incêndio; e o terceiro e o quarto não davam tom de discagem. 

Com uma pergunta em um subreddit (uma das comunidades do Reddit) local, consegui algumas sugestões que mais uma vez me levaram a locais sem telefones públicos em funcionamento, além de comentários que me criticavam por precisar de um telefone público em 2024, ou questionavam a legalidade de seja lá o que eu pretendia fazer que exigiria o uso de um telefone público.

Diante do fracasso da empreitada de encontrar um telefone público em funcionamento usando uma abordagem sistêmica, decidi recorrer ao senso de oportunidade em estado bruto, mantendo os olhos bem atentos para os telefones públicos enquanto enfrentava a chatice de uma vida moderna, que a falta de acesso aos telefones públicos tornava ainda mais insuportável. 

Um telefone público… que funcione

Eu não precisava simplesmente encontrar um telefone público em funcionamento, o que já não é pouca coisa em 2024. Precisava ainda encontrar um telefone que conseguisse receber chamadas, para que eu pudesse receber a mensagem de ativação do Signal.

Em uma recente visita à cidade de Tampa, para onde viajo anualmente para discutir questões de segurança e colocar fogo nas coisas, dei de cara com um telefone público enquanto saía do parque temático Busch Gardens. Ao tirar o telefone do gancho, fiquei encantado de ouvir o equivalente telefônico de um pulso: um tom de discagem. 

Agora que eu tinha conseguido um telefone com tom de discagem, o próximo passo era testar se ele poderia receber chamadas. Isso porque o processo de registro do Signal exige um número de telefone que possa receber uma mensagem de texto ou uma chamada de verificação.

Para testar se um telefone público consegue receber chamadas, você precisa saber mais uma coisa: o número de telefone do próprio telefone público. Alguns telefones públicos exibem seus números no próprio aparelho, mas nem sempre. 

Caso o número não esteja listado no telefone — como não estava, neste caso — existem alternativas que não envolvem um rastro que conduz de volta até o seu celular. Nos EUA, é preciso usar o telefone público para ligar para um número conhecido como ANAC (circuito automático de anúncio de número), que fornece um serviço de ANI (número automático de identificação). Em outras palavras, é um número para o qual você pode ligar, e que lê em voz alta o número do telefone de onde você está ligando. Existiam listas de números ANAC por muitos anos, mas como as próprias listas de telefones públicos, elas agora estão quase todas extintas. 

Um deles vem sobrevivendo há mais de 30 anos nos EUA, no entanto: 1-800-444-4444. É só ligar, e o serviço lê o número de quem está ligando.

(Nota da Editora: No Brasil, a Anatel oferece um mapa interativo chamado Fique Ligado, onde é possível encontrar telefones públicos/orelhões por localização e descobrir informações básicas sobre eles, inclusive o status de funcionamento e o número de telefone.)

De volta ao Busch Gardens, consegui usar o telefone público e descobrir o número usando o ANAC. O próximo e último passo era testar se o número efetivamente aceitaria receber chamadas. Infelizmente, quando liguei para o número que havia obtido, a ligação caiu na linha principal do Busch Gardens, e me pediu para inserir o ramal do meu grupo. Em outras palavras, aquele não era o verdadeiro número do telefone público, era só o número geral do parque.

Dias depois, durante uma escala na minha viagem de volta para casa, encontrei um conjunto de telefones públicos em um pequeno aeroporto regional. Repeti toda a encrenca ali de cima, e eis que, quando usei um dos telefones públicos para ligar para o número de um telefone vizinho, consegui atender e falar comigo mesmo. Finalmente, vitória.

Peguei um telefone descartável onde queria configurar o Signal, que não tinha cartão SIM, nem eSIM de nenhum tipo, e inseri o número do telefone público para configurar o aplicativo. O Signal insiste inicialmente em tentar enviar um código de verificação por mensagem SMS, e é preciso percorrer esse caminho infrutífero. Mas depois de alguns minutos, é possível selecionar a opção de receber o código de verificação por chamada de voz.

Momentos depois, o telefone público tocou, e eu finalmente consegui criar uma conta do Signal. 

O próximo e último passo era criar um PIN e ativar um bloqueio de registro, para que ninguém conseguisse roubar a conta usando o mesmo telefone público e registrando seu próprio Signal com o mesmo número. O bloqueio de registro expira após uma semana de inatividade, então você também precisa continuar a usar a conta do Signal. Demorou um pouco, por causa dos complexos requisitos de registro do Signal, em conjunto com a crescente falta de acesso a telefones públicos, mas no final consegui comprovar que é possível usar o Signal com um número telefônico não rastreável.

Um guia passo a passo

  1. Consiga um aparelho de telefone. Não é preciso haver número de telefone ativo associado a ele, e pode ser um celular antigo que você tenha à mão, ou que você adquira para esse fim.
  2. Encontre um telefone público. 
  3. Descubra o número de telefone associado a ele.
  4. Verifique se o telefone público consegue receber chamadas.
  5. Insira o número do telefone público no Signal, e use a opção “Ligar para mim” para receber uma chamada de verificação (essa opção só aparece depois que o timer de SMS se esgota).
  6. Introduza o código de confirmação, crie um PIN, e ative o bloqueio de registro no aplicativo Signal. 

JÁ ESTÁ ACONTECENDO

Quando o assunto é a ascensão da extrema direita no Brasil, muitos acham que essa é uma preocupação só para anos eleitorais. Mas o projeto de poder bolsonarista nunca dorme.

A grande mídia, o agro, as forças armadas, as megaigrejas e as big techs bilionárias ganharam força nas eleições municipais — e têm uma vantagem enorme para 2026.

Não podemos ficar alheios enquanto somos arrastados para o retrocesso, afogados em fumaça tóxica e privados de direitos básicos. Já passou da hora de agir. Juntos.

A meta ousada do Intercept para 2025 é nada menos que derrotar o golpe em andamento antes que ele conclua sua missão. Para isso, precisamos arrecadar R$ 500 mil até a véspera do Ano Novo.

Você está pronto para combater a máquina bilionária da extrema direita ao nosso lado? Faça uma doação hoje mesmo.

Apoie o Intercept Hoje

Entre em contato

Conteúdo relacionado

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar