Daniel José, Podemos, e Pablo Marçal, PRTB. Foto: Reprodução Instagram.

Candidato a vereador pelo Podemos usa dinheiro da própria campanha para fazer propaganda ilegal para Pablo Marçal

Daniel José, que já havia feito vídeo negativo contra Boulos, usou dinheiro da própria campanha para impulsionar vídeo pró-Marçal.

Daniel José, Podemos, e Pablo Marçal, PRTB. Foto: Reprodução Instagram.

Eleições 2024

Parte 4


O candidato a vereador em São Paulo pelo Podemos, Daniel José, usou dinheiro da própria campanha para impulsionar nas redes da Meta um vídeo em favor da campanha de Pablo Marçal, candidato à prefeitura de São Paulo pelo PRTB. A prática configura crime eleitoral, segundo advogados consultados pelo Intercept Brasil.

No vídeo, José fala que “quem é de direita e mora em São Paulo tem que votar em Pablo Marçal”. Segundo ele, a intenção do vídeo é “dar uma força para o candidato censurado da direita”.

José impulsionou três anúncios diferentes com esse mesmo vídeo que foram exibidos no Instagram e Facebook. Todos foram impulsionados no dia 26 de agosto e, segundo dados da Biblioteca de Anúncios da Meta, o candidato pagou cerca de R$ 100 por cada. 

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“A lei fala que só pode ser custeado impulsionamento para divulgação de conteúdo positivo da própria candidatura, não permite impulsionamento por apoiadores”, explica a advogada eleitoralista Paula Bernardelli. 

O anúncio saiu do ar depois que entramos em contato com a Meta e com Daniel José. Ao Intercept, o candidato afirmou que acha curioso “um jornal insinuar um crime eleitoral sem que haja qualquer processo ou julgamento em andamento”. “Eu sou do tempo em que os jornais se dedicavam a noticiar fatos, não a promover narrativas”, disse. 

O candidato também questionou “o que motiva essa tentativa da esquerda de nos silenciar?”. “Essa postura da mídia, com seu viés ideológico progressista, levanta uma questão importante: por que um candidato a vereador incomoda tanto assim?”.

Candidato foi responsável por vídeo que associa Guilherme Boulos à cocaína 

José está dobrando a aposta nas redes sociais. Isso porque, na semana passada, ele já havia sido envolvido em uma decisão judicial por conta de um outro vídeo em que insinuou que Guilherme Boulos, candidato do PSol à prefeitura de SP, seria usuário de cocaína. 

O vídeo foi compartilhado por Pablo Marçal, o que levou a Justiça Eleitoral a determinar no dia 23 a exclusão do conteúdo sob pena de multa. 

No anúncio identificado pelo Intercept, José volta a insinuar uma ligação entre Boulos e cocaína ao chamá-lo de “comedor de açúcar” e exibir uma fotografia de um saco de açúcar. 

Na quinta-feira, em reação à decisão de José de apoiar Marçal e não Ricardo Nunes, o candidato endossado pelo Podemos, o partido informou que José teria tempo de TV cortado e que não teria mais acesso a recursos do fundo eleitoral nas eleições de outubro. 

José atualmente é suplente da deputada federal Renata Abreu, presidente nacional do Podemos, na Câmara dos Deputados. 

No dia 21 de agosto, ele recebeu R$ 600 mil da direção nacional do Podemos, segundo dados da plataforma DivulgaCand, do Tribunal Superior Eleitoral. José também recebeu em 19 de agosto uma doação de R$ 50 mil de Luis Stuhlberger, sócio da gestora de investimentos Verde Asset Management. Foi a única pessoa física a doar para a sua campanha. 

O único gasto de campanha declarado por José até agora foi com impulsionamento de conteúdos: ele gastou R$ 39 mil, montante destinado inteiramente à Meta, segundo dados do DivulgaCand. 

Questionada pelo Intercept, a Meta disse que não comentaria o assunto. A assessoria de imprensa de Pablo Marçal também não respondeu aos questionamentos enviados pelo Intercept até o fechamento desta reportagem. 

O seu futuro está sendo decidido longe dos palanques.

Enquanto Nikolas, Gayers, Michelles e Damares ensaiam seus discursos, quem realmente move o jogo político atua nas sombras: bilionários, ruralistas e líderes religiosos que usam a fé como moeda de troca para retomar ao poder em 2026.

Essas articulações não ganham manchete na grande mídia. Mas o Intercept está lá, expondo as alianças entre religião, dinheiro e autoritarismo — com coragem, independência e provas.

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