O clima das finais do Skate Street Feminino nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, realizadas no Parque Urbano La Concorde, em 28 de julho, estava tão emocionante que um incidente passou despercebido do público mundial, apesar de ter sido flagrado pelas câmeras da transmissão oficial do evento.
Na prova em que a brasileira Rayssa Leal conquistou a medalha de bronze, um homem vestido com o uniforme equipe de transmissão oficial das Olimpíadas foi capturado por duas vezes fazendo um gesto de mão que, embora tradicionalmente represente “OK”, tem sido interpretado como um símbolo de supremacia branca pelo mundo.
A transmissão das Olimpíadas é realizada pela organização das Olympic Broadcast Service, e o homem em questão estava vestindo o mesmo uniforme dos profissionais que faziam a captação de áudio e imagem do evento.
Entrei em contato com a assessoria de imprensa das Olimpíadas para apresentar as imagens e consultar se este era um comportamento padrão ou uma manifestação individual. O comitê organizador respondeu ao Intercept dizendo que o homem era funcionário de uma empresa terceirizada e que, após o contato da reportagem, sua credencial foi cancelada.
“A pessoa em questão foi identificada e confirmada como não sendo membro da equipe OBS [Olympic Broadcast Service]. Ela está associada a um dos seus contratados. O contratado foi informado e, consequentemente, a credencial do indivíduo foi cancelada com efeito imediato”, informou o escritório de imprensa das Olimpíadas, por meio de nota enviada ao Intercept.
O primeiro incidente ocorreu após uma manobra da australiana Chloe Covell. O homem aparece ao fundo de uma imagem que mostra o técnico da atleta aplaudindo. Ele parece tentar se posicionar no quadro, olhando para o que aparenta ser uma tela fora do alcance da câmera. Quando finalmente consegue, a cena é cortada rapidamente pela câmera.
O segundo caso aconteceu quatro minutos depois, enquanto a japonesa Liz Akama aguardava a nota de uma manobra.
Em um quadro mais aproximado, um membro da comissão técnica da atleta abanava um leque com a bandeira japonesa, quando o mesmo homem aparece no quadro e repete o gesto, permanecendo visível por pouco mais de um segundo antes de retornar de onde veio.
Gesto ‘OK’ cria as letras ‘W’ e ‘P’
As imagens oficiais das Olimpíadas são duramente protegidas por direitos autorais. Como o Intercept não tem autorização para publicar recortes dos vídeos, tampouco publicá-lo em formato editado para redes sociais, as imagens não estão na reportagem. Mas você pode acessá-las facilmente na transmissão completa da final no YouTube. No vídeo da CazéTV, é possível assisti-las a partir dos minutos 51:35 e 55:31.
O gesto de “OK”, tradicionalmente inofensivo, tem adquirido uma conotação mais sombria nos últimos anos. Desde 2017, alguns grupos de extrema-direita e nacionalistas brancos têm utilizado o gesto como uma forma de “trolar” a mídia e os críticos, sugerindo que a mão que forma o “OK” cria as letras “W” e “P”, representando “White Power”.
No Brasil, o tema não é novidade. No fim do ano passado, inclusive, o desembargador Ney Bello, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, reformou a sentença que havia absolvido sumariamente do crime de racismo Filipe Martins, assessor Especial para Assuntos Internacionais do governo Jair Bolsonaro, do PL. Numa sessão no Senado, em 2021, Filipe fez o mesmo gesto típico de supremacistas brancos.
O juiz 11ª Vara Criminal do Distrito Federal encerrou o processo por entender que o fato narrado na denúncia do Ministério Público não constituía crime. Em sua decisão, Ney Bello afirma exatamente o contrário: “O que temos são indícios. Fortes indícios, diria eu. Por serem fortes indícios, não é cabível a manutenção da absolvição sumária do apelado”, afirmou. Agora, o processo segue na primeira instância.
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