Tatiana Dias

O jornalismo do Intercept Brasil é livre: sem anúncios, sem filtros de leitura, sem dinheiro de políticos ou empresas. 

Contamos com a sua ajuda para seguir revelando os segredos dos poderosos.

Apoie o jornalismo corajoso e independente.

DOE HOJE

O jornalismo do Intercept Brasil é livre: sem anúncios, sem filtros de leitura, sem dinheiro de políticos ou empresas. 

Contamos com a sua ajuda para seguir revelando os segredos dos poderosos.

Apoie o jornalismo corajoso e independente.

DOE HOJE

Ricardo Nunes terá que explicar gasto milionário com jornais de bairro ao Ministério Público

Gastos milionários de Ricardo Nunes com jornais que parecem fazer campanha para o prefeito viram alvo de pedidos de investigação.

Midialão de Ricardo Nunes levou parlmentares a acionarem Tribunal de Contas do Município, o Ministério Público Eleitoral e o Ministério Público de São Paulo para apurar gastos.

Este texto foi publicado originalmente na newsletter do Intercept. Assine. É de graça, na sua caixa de e-mails.

O início da trajetória pública do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, do MDB, está ligada a jornais de bairro. Nunes começou ali: em 1980, então com 18 anos, fundou A hora da ação, veículo que cobria os bairros da zona sul da capital – Interlagos, Grajaú e Capela do Socorro. Mais tarde, não por acaso, a região se tornaria o berço eleitoral do político, primeiro na vereança, por dois mandatos, e depois na prefeitura, assumindo o cargo após a morte de Bruno Covas. 

Nesta semana, nós mostramos por aqui que tal segmento continua bastante caro a Nunes. Ao descortinar os gastos do multimilionário contrato da prefeitura de São Paulo com duas agências de publicidade, o repórter Paulo Motoryn descobriu que ao menos R$ 16,5 milhões de dinheiro público foram gastos com jornais de bairro nos últimos três anos. 

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar

Mas qual o problema de gastar publicidade da prefeitura em jornais pequenos, você pode se perguntar. Nenhum, se fosse só isso. Afinal, o jornalismo precisa de recursos – e eles, muitas vezes, são públicos. A verba da prefeitura poderia ser uma forma de financiar um serviço público necessário, como os jornais de bairro, dando um foco hiperlocal e descentralizado à cobertura. 

A questão é que a gestão de Nunes não detalha que tipo de publicidade foi veiculada, qual é a tiragem do veículo e que critério foi utilizado na escolha desses jornais. Pior: analisando publicações recentes dos veículos que receberam grana da prefeitura, percebemos que a maioria estampava o prefeito na capa ou tinha manchetes bastante elogiosas – funcionando, na prática, como um panfleto pago pela prefeitura. Isso em ano pré-eleitoral. E sem deixar nada explícito.

Foi por isso que, dois dias depois da publicação da nossa reportagem, três políticos entraram com ações pedindo a investigação do uso de verbas da prefeitura nos jornais. O vereador Celso Gianazzi, o deputado estadual Carlos Gianazzi e a deputada federal Luciene Cavalcante, todos do Psol, acionaram o Tribunal de Contas do Município, o Ministério Público Eleitoral e o Ministério Público de São Paulo para que investiguem os gastos públicos com jornais de bairro, com a devida responsabilização dos envolvidos, se forem constatadas violações aos princípios da administração pública. 

As petições, baseadas na nossa investigação, também mencionam as ligações e a orientação política dos veículos – que têm, entre sócios e colunistas, aliados de Ricardo Nunes. Elas questionam possíveis violações aos princípios da impessoalidade, da legalidade e da moralidade nos gastos públicos. Ao Ministério Público Eleitoral, os políticos também pediram a investigação de um possível uso da máquina pública em prol da reeleição do prefeito. 

Ao Intercept, a prefeitura disse que as contratações “respeitam critérios técnicos” e que “as campanhas são elaboradas por agências selecionadas por meio de licitação regulamentada”. As duas agências que repassam a grana aos jornais negam que tenha havido qualquer tipo de orientação editorial na escolha dos veículos.

É preciso lembrar que, neste caso, estamos falando de R$ 16,5 milhões. É muito. Mas a prefeitura de São Paulo tem contratos de R$ 400 milhões com as agências de publicidade. É uma montanha de dinheiro que só agora começa a ser escrutinada. Nós já mostramos a contratação de publieditoriais disfarçados na Folha, caso que se repetiu no Estadão – os dois maiores jornais do estado e que constam entre os três maiores do país. 

Continuamos mergulhados nos gastos e, correndo o risco de dar spoiler, posso dizer: a prefeitura está pagando para muito mais gente, de modo pulverizado. A gente vai contar mais detalhes em breve. Por enquanto, aguardamos as manifestações dos órgãos responsáveis por fiscalizar o dinheiro dos paulistanos depois das ações movidas após nossa reportagem. Se houver real interesse em investigar, não vai faltar trabalho para eles. E nem para nós.

Sem anúncios. Sem patrões. Com você.

Reportagens como a que você acabou de ler só existem porque temos liberdade para ir até onde a verdade nos levar.

É isso que diferencia o Intercept Brasil de outras redações: aqui, os anúncios não têm vez, não aceitamos dinheiro de políticos nem de empresas privadas, e não restringimos nossas notícias a quem pode pagar.

Acreditamos que o jornalismo de verdade é livre para fiscalizar os poderosos e defender o interesse público. E quem nos dá essa liberdade são pessoas comuns, como você.

Nossos apoiadores contribuem, em média, com R$ 35 por mês, pois sabem que o Intercept revela segredos que a grande mídia prefere ignorar. Essa é a fórmula para um jornalismo que muda leis, reverte decisões judiciais absurdas e impacta o mundo real.

A arma dos poderosos é a mentira. A nossa arma é a investigação.

Podemos contar com o seu apoio para manter de pé o jornalismo em que você acredita?

Apoie o Intercept Hoje

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar