Legenda.

Influencer que convocou ao 8 de janeiro, Karol Eller ganha cargo de R$ 17,9 mil com deputado na Alesp

Uma das lideranças mais famosas do movimento, Karol Eller não foi alvo de operações e nem é investigada na Justiça pelos ataques à democracia.

Legenda.

Brasília, 8 de janeiro de 2023. Por volta das 13h, quando uma multidão de bolsonaristas seguia pela Esplanada dos Ministérios e, pouco depois, invadiria o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, quase nenhum rosto era conhecido do noticiário político. Não era o caso da influencer Karol Eller, uma youtuber assumidamente homossexual famosa por apoiar o ex-presidente Jair Bolsonaro e também próxima aos seus filhos.

No dia da tentativa de golpe de estado, já no governo do atual presidente Lula, ela ainda ocupava um cargo com salário de R$ 10 mil na Empresa Brasil de Comunicação, a EBC, conquistado durante a gestão anterior. Acabou exonerada no dia seguinte, mas o desemprego durou pouco – exatos 66 dias. Em 16 de março deste ano, foi contratada para trabalhar no gabinete do deputado estadual Paulo Mansur, do Partido Liberal. O salário bruto recebido é de R$ 17.904,76. 

Bolsonarista de carteirinha, Mansur é herdeiro de um grupo de comunicação e apresentador de televisão em Santos. Ele concilia a atividade parlamentar com a ancoragem de um programa do SBT exibido na Baixada Santista.

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar

Pelo menos na conta bancária, Karol Eller não pode reclamar do fim do governo Bolsonaro. Por ironia do destino, a influencer é uma das brasileiras que melhorou de vida na gestão Lula. No cargo de confiança na Diretoria de Jornalismo da EBC, ela ganhava R$ 11 mil. Eller trabalhava na Gerência de Jornalismo Web da Agência Brasil, no Rio de Janeiro. Agora, em São Paulo, como funcionária do gabinete de Mansur, aumentou seus rendimentos mensais em mais de 50%.

‘Orei tanto por você’

Após as cenas de depredação ganharem o país, a influencer alegou, em um vídeo gravado na própria manifestação, que condenava a depredação. “Perdeu o controle da situação. Não está legal. Estou andando aqui agora para falar com vocês. Estão quebrando lá”, disse.

Poucas horas antes, na manhã do dia 8, em tom de convocação aos atos, Karol Eller havia feito uma publicação em sua conta no Instagram celebrando que Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal, teria declarado que “as manifestações na Esplanada do Ministérios estavam liberadas se fossem pacíficas”. Nas semanas anteriores, a influencer convocava seus seguidores para os acampamentos golpistas nas portas de instalações militares pelo país.

Sem medo de mostrar a cara, Karol Eller se empenhou na mobilização de bolsonaristas para os acampamentos desde que Bolsonaro não conseguiu garantir a reeleição. Em dezembro, chegou a gravar um vídeo tomando chuva para divulgar um ato que seria realizado no dia 10 daquele mês: “Debaixo de chuva, debaixo de sol. Espero que a chama da esperança seja reacendida no seu coração. Levanta, meus queridos, meus irmãos. Bora para as ruas. Agora é a hora!”, afirmou.

As consequências de 8 de janeiro – incluindo a sua demissão – no entanto, nunca fizeram com que Eller adotasse um tom mais sóbrio ou desse um tempo de redes sociais. Pelo contrário. Manteve sua conta ativa no Instagram, onde possui mais de 500 mil seguidores e ostenta o selo de verificação oficial da plataforma. Mas agora, em vez de vídeos com orientações aos frequentadores de acampamento, a pauta do perfil são bastidores nos corredores dos gabinetes da Alesp.

Com o triplo dos seguidores de seu novo chefe no Instagram, Karol Eller e Mansur têm apostado em publicações casadas para impulsionar a base de seguidores do parlamentar. Em alguns vídeos, a influencer bolsonarista aparece ao lado do deputado-apresentador dentro do gabinete, no plenário da Alesp ou então durante viagens.

Uma das cenas publicadas pela influencer chama a atenção: ela aparece recepcionando o deputado federal Marco Feliciano na porta da Assembleia Legislativa de São Paulo. Ao reconhecê-la, Feliciano afirmou: “Karol Eller! Eu orei tanto por você”. A influencer nem chega a agradecer, olha para a câmara e alerta o deputado: “Estou filmando aqui!”. As orações de Feliciano parecem ter surtido efeito. Quase seis meses depois do 8 de janeiro, Karol Eller não foi alvo de operações da PF e, pelo menos nos nomes que vieram à público, não é investigada na Justiça por ataques à democracia.

Problemas com a justiça

A influencer enfrenta problemas em função de outro caso, já que Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro aceitou uma denúncia do Ministério Público contra ela e a ex-namorada por denunciação caluniosa e porte ilegal de arma de fogo. A produtora de conteúdo ainda responde por lesão corporal, causada durante a mesma confusão, na praia da Barra da Tijuca, no final de 2019. Na época, Eller e a namorada foram até a Polícia Civil e prestaram depoimento dizendo que a briga foi motivada por um caso de homofobia de um homem contra o casal.

No entanto, após exames de corpo de delito, a investigação da Polícia Civil apontaram que as lesões que Eller exibiu em vídeos no Youtube foram consequência de um tombo que ela levou sozinha. De acordo com o MP-RJ, Karol Eller enviou um áudio a um jornalista em que confessava que em nenhum momento o homem se dirigiu a ela com ofensas homofóbicas. Dias após o incidente, a Polícia Civil já havia descartado a hipótese de homofobia e afirmou que a youtuber foi quem teria iniciado as agressões.

Procurados, Karol Eller e o deputado Paulo Mansur não responderam aos contatos do Intercept.

S.O.S Intercept

Peraí! Antes de seguir com seu dia, pergunte a si mesmo: Qual a chance da história que você acabou de ler ter sido produzida por outra redação se o Intercept não a tivesse feito?

Pense em como seria o mundo sem o jornalismo do Intercept. Quantos esquemas, abusos judiciais e tecnologias distópicas permaneceriam ocultos se nossos repórteres não estivessem lá para revelá-los?

O tipo de reportagem que fazemos é essencial para a democracia, mas não é fácil, nem barato. E é cada vez mais difícil de sustentar, pois estamos sob ataque da extrema direita e de seus aliados das big techs, da política e do judiciário.

O Intercept Brasil é uma redação independente. Não temos sócios, anúncios ou patrocinadores corporativos. Sua colaboração é vital para continuar incomodando poderosos.

Apoiar é simples e não precisa custar muito: Você pode se tornar um membro com apenas 20 ou 30 reais por mês. Isso é tudo o que é preciso para apoiar o jornalismo em que você acredita. Toda colaboração conta.

Estamos no meio de uma importante campanha – a S.O.S. Intercept – para arrecadar R$ 250 mil até o final do mês. Nós precisamos colocar nosso orçamento de volta nos trilhos após meses de queda na receita. Você pode nos ajudar hoje?

QUERO APOIAR

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar