Algoritmo do YouTube privilegiou canais da Jovem Pan durante as eleições, diz novo estudo

Novo levantamento mostra que conteúdos da Justiça Eleitoral e do TSE são sucedidos por vídeos da emissora nas recomendações do YouTube.


Se você procurou por conteúdos relacionados às eleições no buscador do YouTube recentemente, é possível que você tenha sido manipulado pelo algoritmo a consumir os canais da Jovem Pan. É o que mostra um estudo inédito feito pelos pesquisadores João Guilherme Bastos do Santos, analista de dados com pós-doutorado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, e Guilherme Felitti, fundador da Novelo Data, empresa de análise de dados.

A pesquisa encontrou indícios de que a plataforma mudou o algoritmo para privilegiar conteúdos de órgãos oficiais, como o canal da Justiça Eleitoral, mantido pelo Tribunal Superior Eleitoral, no topo dos resultados. Isso parece positivo. Mas acontece que, depois de assistir a um desses vídeos de fonte confiável, o usuário acaba caindo em conteúdos que espalham desinformação e atacam o sistema eleitoral. “As recomendações de vídeos sobre o tema eleições tendem a beneficiar majoritariamente vídeos de canais da Jovem Pan”, diz o estudo.

Para levantar os dados, os pesquisadores extraíram resultados de busca do YouTube para 14 termos específicos: urnas eletrônicas, 7 de setembro, urna auditável, voto auditável, TSE, voto impresso, STF, Alexandre de Moraes, Barroso, Fachin, artigo 142, poder moderador, militares e pandemia.

Santos desenvolveu um código que cruza todas as recomendações para os vídeos. Ele explica que o YouTube produz “clusters”, que são conjuntos de vídeos que ficam se recomendando mutuamente, fazendo com que cada usuário possa ter uma “comunidade” com perspectiva específica lá dentro, ignorando a maioria dos vídeos fora dela. “Nesse sentido, encontramos uma única comunidade em que [o canal da] Justiça Eleitoral é forte. As pessoas nesse grupo de vídeos recebem várias recomendações para outras comunidades dominadas pela Jovem Pan”, ele explicou ao Intercept.

A emissora usa o YouTube como um terreno fértil para seus programas e tem diversos canais na plataforma, como o Jovem Pan News, com seis milhões e meio de assinantes, o Morning Show e Os Pingos nos Is. É isso que cria uma espécie de bola de neve. “Trata-se do efeito ‘máquina de lavar’: o usuário fica lá rodando, ganhando novas recomendações de canais”, aponta a pesquisa.

Em um estudo publicado em setembro, o NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mostrou que a plataforma, além de privilegiar conteúdos da Jovem Pan, também beneficiava vídeos pró-Bolsonaro. Apesar de terem metodologias diferentes, essas duas pesquisas recentes chegam a conclusões parecidas: independente se o usuário consome conteúdo da home, dos resultados de buscas ou das recomendações após assistir um vídeo, a plataforma tende a beneficiar conteúdos da Jovem Pan.

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