Pastores evangélicos participaram e mobilizaram fiéis para atos golpistas contra Lula

Ageu Magalhães, Ludgero Bonilha de Morais, Haroldo Alves, Carlos Cruz e Rodrigo Salgado não viram problemas em pedir 'intervenção federal'.


Vestindo camisa da Seleção Brasileira e blusa militar camuflada, o pastor Haroldo Alves surgiu à frente de um grupo que gritava “Forças Armadas, agora é com vocês”. O pastor não apenas engrossou o coro dos insatisfeitos com a vitória de Lula em frente ao Comando Militar do Leste, no Rio de Janeiro, na quarta-feira, dia 2 – ele também convocou os fiéis para irem às ruas.

“Você que é patriota, cidadão ordeiro, não pode ficar em casa, não pode ficar no muro. Vai pra rua. Vai buscar aquilo que roubaram de você, que roubaram do Brasil”, conclamou Alves em sua página no Facebook. Ele é ligado ao pastor Samuel Câmara, um dos principais líderes da Assembleia de Deus ramo Belém e fundador da Convenção da Assembleia de Deus do Brasil, a maior do país. Carlos Cruz, pastor da Igreja Memorial do Catumbi, militante do PTB e ligado ao ex-deputado Roberto Jefferson – preso após atacar a tiros agentes da Polícia Federal – também deu as caras por lá, segundo religiosos.

Pastores evangélicos participaram e mobilizaram fiéis para atos golpistas contra Lula

Não foi só no Rio de Janeiro. Em vários pontos do Brasil, líderes de igrejas evangélicas mobilizaram seus fiéis e engrossaram os atos golpistas em frente a quartéis e repartições militares para questionar a vitória de Lula e pedir a intervenção das Forças Armadas. Os líderes não fizeram questão de esconder sua participação: Haroldo Alves, os presbiterianos Ludgero Bonilha de Morais e Ageu Magalhães e o apóstolo Rodrigo Salgado, da Igreja do Evangelho Pleno em Cristo, divulgaram os atos em suas redes sociais.

O reverendo Ageu Magalhães, um dos principais líderes da Igreja Presbiteriana do Brasil, a IPB, e Rodrigo Salgado participaram do ato em São Paulo, em frente ao Comando Militar do Sudeste, no Parque do Ibirapuera. Outro líder que ocupou altos cargos na IPB, o pastor Ludgero Bonilha de Morais, apareceu em frente ao quartel do Exército em Uberaba, Minas Gerais, em vídeo na internet, pedindo “intervenção federal já” e dizendo que a “eleição foi roubada”.

Posando em frente ao Monumento às Bandeiras, no Ibirapuera, Ageu Magalhães se justificou nas redes sociais: “nunca fui da isentosfera e sempre assumi posição”, afirmou, defendendo que houve fraude na eleição. Em 2018, o reverendo já havia dito que Lula teria sido “o protagonista do maior esquema de corrupção da história do Brasil” e defendeu o voto em Bolsonaro alegando que ele estaria “alinhado às questões morais que têm sido atacadas”. Declarou ser contra o aborto, a descriminalização das drogas, a “ideologia de gênero” e uma suposta “agenda impositiva do movimento LGBT”.

Magalhães dirige o Seminário Teológico Presbiteriano e foi um dos responsáveis pelo afastamento da IPB do teólogo e presbítero Flávio Macedo Pinheiro, em fevereiro de 2021. A punição foi aplicada porque Pinheiro criticou Bolsonaro e defendeu, entre outras posições, que mulheres não devem ser consideradas inferiores aos homens, direitos para a comunidade LGBT, a descriminalização do aborto e da maconha e as ideias do educador Paulo Freire. Pinheiro foi chamado de comunista. Em agosto, a cúpula da igreja também impôs uma série de restrições a um grupo de mulheres da IPB. Elas foram proibidas de pregar em cultos solenes e distribuir a Santa Ceia.

O Intercept enviou mensagens e fez contatos telefônicos para localizar os cinco religiosos, mas nenhum atendeu ou retornou.

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