No fim do expediente de 21 de outubro, funcionários da loja matriz da Britânia tiveram uma reunião inesperada com o presidente da empresa de eletrodomésticos, César Buffara. O recado, gravado em um áudio que o Intercept recebeu com exclusividade, era claro. “Dia 30 está aí. Nosso país é verde e amarelo, nosso país não é vermelho. Lembrar a vocês que não deu certo em lugar nenhum do mundo o vermelho. Só uma lembrança para vocês”, alardeou Buffara aos funcionários em Curitiba.
Após o breve discurso, que durou cerca de um minuto, o patrão entregou aos funcionários uma camisa verde e amarela, com o desenho da bandeira nacional e a frase “O Brasil que queremos ser só depende de nós”. Segundo Buffara, o presente é “para vocês usarem, quem quiser usar, no dia da votação. Respeito cada um de vocês, mas vim dizer que nosso país é verde e amarelo, tá bom?”. A informação desta reunião foi publicada também pelo Plural Jor, nesta quinta-feira, 27.
Alguns funcionários denunciaram a empresa por assédio eleitoral, de forma anônima, ao sindicato que representa os trabalhadores do setor, o Setrolar, e à Procuradoria Regional do Trabalho de Curitiba, que instaurou um inquérito civil em 25 de outubro para “elucidar os fatos noticiados”.
Falei com três funcionários da empresa que confirmaram a existência da reunião. Eles pediram para eu não identificá-los, por medo de demissão. Dois deles afirmaram que a voz no áudio é, sim, de Buffara. A presença dele surpreendeu os trabalhadores, que não costumam vê-lo circulando entre os setores da loja matriz. “Eu só o vi umas duas vezes”, me disse um dos funcionários.
Segundo os trabalhadores com quem conversei, cerca de 60 pessoas de ao menos quatro setores foram chamadas para o encontro. A filha do presidente e diretora de marketing, Ana Buffara, também estava presente, assim como gerentes e supervisores. “Antes de o presidente chegar, os chefes já sabiam o que estava por vir. Alguns alertaram para cuidar da forma como iríamos reagir”, disse um funcionário, que contou ter se sentido coagido. “Se eu aparecer de blusa vermelha agora, vou ser mandado embora?”, se questionou. Outro funcionário me disse que também se sentiu constrangido e que seus colegas temem denunciar ou mesmo demonstrar descontentamento, por medo de serem demitidos.
A camisa que César Buffara distribuiu a seus funcionários na matriz da Britânia em Curitiba.
Consolidada como uma das principais empresas no segmento de eletroportáteis, a Britânia está presente em Curitiba e Maringá, municípios do Paraná, em Joinville, em Santa Catarina, em São Paulo (capital), Linhares, no Espírito Santos, e Manaus, capital do Amazonas.
Essa foi a segunda vez este ano que a empresa orientou o voto aos seus funcionários no Paraná. No primeiro turno, uma comunicação interna com o assunto “Eleições 2022” foi enviada por e-mail, com o nome e o número do candidato a deputado federal Stephanes, do PSD. “Como empresa, a Britânia estimula seus colaboradores a participarem desse momento decisivo na vida de todos os paranaenses”, dizia parte do texto que apresentava o candidato. Ele não foi eleito.
Procurada por meio da assessoria de imprensa para se pronunciar a respeito das denúncias de assédio eleitoral, a empresa afirmou apenas que “não comenta assuntos políticos”.
Até o dia 27 de outubro, a Procuradoria Regional do Trabalho do Paraná recebeu 205 denúncias envolvendo 151 empresas. O estado está entre os 10 com maior taxa de registros de assédio eleitoral no Ministério Público do Trabalho. Foram 6,9 denúncias para cada 100 mil trabalhadores formais – acima da taxa nacional, de 4,3. O estado que lidera é Tocantins – 23 denúncias para cada 100 mil trabalhadores formais. O segundo é a Paraíba, com 11,9 e o terceiro Alagoas, com 11,6 – sua capital, Maceió, foi a única do Nordeste que deu maioria de votos a Bolsonaro no primeiro turno. Dos 10 estados com maior taxa de denúncias, cinco ficam na região Nordeste.
O MPT já registrou um aumento de mais de 770% no número de denúncias de assédio eleitoral este ano, com relação a 2018. Foram 1.850 casos envolvendo 1.440 empresas.
2026 já começou, e as elites querem o caos.
A responsabilização dos golpistas aqui no Brasil foi elogiada no mundo todo como exemplo de defesa à Democracia.
Enquanto isso, a grande mídia bancada pelos mesmos financiadores do golpe tenta espalhar o caos e vender a pauta da anistia, juntamente com Tarcísio, Nikolas Ferreira, Hugo Motta e os engravatados da Faria Lima.
Aqui no Intercept, seguimos expondo os acordos ocultos do Congresso, as articulações dos aliados da família Bolsonaro com os EUA e o envolvimento das big techs nos ataques de Trump ao Brasil.
Os bastidores mostram: as próximas eleições prometem se tornar um novo ensaio golpista — investigar é a única opção!
Só conseguimos bater de frente com essa turma graças aos nossos membros, pessoas que doam em média R$ 35 todos os meses e fazem nosso jornalismo acontecer. Você será uma delas?
Torne-se um doador do Intercept Brasil hoje mesmo e faça parte de uma comunidade que não só informa, mas transforma.