Mourão concentra sozinho 25% do dinheiro para campanhas indígenas ao Congresso

Nunca tivemos tantos candidatos autodeclarados como indígenas: são 61 nomes. Mas quase metade não recebeu nenhum recurso.


O vice-presidente Hamilton Mourão, candidato do Republicanos ao Senado pelo Rio Grande do Sul, concentra sozinho boa parte dos recursos públicos e privados distribuídos para todas as candidaturas indígenas nas eleições deste ano. Se considerarmos apenas as 61 candidaturas autodeclaradas indígenas ao Congresso, ele ficou até agora com 25% dos R$ 11,6 milhões. Os dados, declarados pelos partidos ao Tribunal Superior Eleitoral até a manhã desta sexta-feira, foram levantados pelo Intercept em parceria com a plataforma 72 horas, iniciativa de especialistas na análise de dados eleitorais com organizações e movimentos da sociedade civil.

O vice-presidente chegou a se declarar branco, mas corrigiu a informação dias depois. Em 2018, quando concorreu e foi eleito para vice na chapa de Bolsonaro, Mourão também se declarou indígena. Até agora, o vice-presidente recebeu R$ 3 milhões para tocar sua campanha. Quase tudo, ou R$ 2,945 milhões, vem de recursos públicos do fundo eleitoral e do fundo partidário.

Se considerarmos apenas a eleição ao Senado, Mourão ficou com 79% da verba distribuída aos candidatos indígenas. O vice-presidente tem a companhia de apenas outros dois candidatos autodeclarados indígenas na corrida por uma vaga na casa: o ex-governador do Piauí, Wellington Dias, que recebeu R$ 758 mil do PT para tocar a campanha, e Bartô Macuxi, do Psol de Roraima, que ainda não recebeu recursos.

Quando consideramos todos os candidatos indígenas nas eleições – são 177 nomes concorrendo a Congresso Nacional, vice-presidente e vice-governador, governos do estado e assembleias estaduais – Mourão fica sozinho com 18,8% dos R$ 15,9 milhões.

Até o início da semana, Mourão contava com cerca de metade dos recursos distribuídos para candidaturas indígenas. O cenário mudou quando caíram novas doações – mas o dinheiro levantado por ele ainda é mais que o dobro do arrecadado pela segunda candidata indígena que mais obteve recursos, Joenia Wapichana. Única deputada federal indígena e que concorre à reeleição pela Rede de Roraima, Wapichana recebeu R$ 1,2 milhão da direção do partido para manter o cargo nas eleições deste ano.

Fora Mourão e Wapichana, apenas outras três das 61 candidaturas autodeclaradas indígenas ao Congresso receberam mais de R$ 1 milhão para suas campanhas, todas para a Câmara: Célia Xakriabá, do Psol mineiro, arrecadou R$ 1,1 milhão, mesma verba de Sônia Guajajara, do Psol paulista. Paulo Guedes, do PT mineiro, recebeu R$ 1 milhão. Mas, do total de candidatos indígenas ao Congresso, quase metade – 28 deles – não recebeu nenhum recurso do partido ou outro tipo de financiamento. Ou seja: estão tocando a campanha sem um real. Pelo menos oficialmente.

Entramos em contato com o vice-presidente no seu celular, mas não fomos atendidos.

O seu futuro está sendo decidido longe dos palanques.

Enquanto Nikolas, Gayers, Michelles e Damares ensaiam seus discursos, quem realmente move o jogo político atua nas sombras: bilionários, ruralistas e líderes religiosos que usam a fé como moeda de troca para retomar ao poder em 2026.

Essas articulações não ganham manchete na grande mídia. Mas o Intercept está lá, expondo as alianças entre religião, dinheiro e autoritarismo — com coragem, independência e provas.

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