Os dados do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro impressionam: as polícias do estado realizaram 1.376 operações entre 14 de junho de 2020 e o fim do último mês. Nesses dois anos, foram quase duas ações por dia. Só na capital aconteceram 769 operações – o que representa 56% do total.
Hoje, outra operação entrou na conta da cidade do Rio. Na madrugada desta quinta-feira, policiais civis e militares entraram no Complexo do Alemão, na zona norte, para combater roubos de carga, veículos e a bancos. Por enquanto, os registros indicam cinco mortes, entre elas a de uma moradora e a de um policial. É uma adição às mais de 500 operações policiais realizadas ao longo de 2022 em território fluminense.
Os números dos últimos dois anos poderiam ser ainda mais expressivos. Isso porque, em junho de 2020, o Supremo Tribunal Federal acatou a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental 635. Ela estabelecia que, durante a pandemia, as polícias só realizassem operações em favelas em casos excepcionais. Funcionou até setembro daquele ano, quando as mortes por agentes do estado atingiram o número mais baixo desde 2013, com uma média mensal de 37,5 vítimas.
Dali em diante, as operações voltaram a seguir a política do “mirar na cabecinha” de Wilson Witzel, que segue em prática na gestão de Cláudio Castro, atual governador pelo Partido Liberal. As chacinas do Jacarezinho e na Vila Cruzeiro mostram isso: juntas, elas somam 51 mortos. São as duas maiores carnificinas protagonizadas pela polícia na história recente do Rio de Janeiro.
A chacina de hoje no Complexo Alemão pode se desdobrar em ainda mais mortes, devido às costumeiras “operações vingança”. É assim que especialistas em segurança pública nomeiam um efeito comprovado em novembro do ano passado por pesquisadores: após o homicídio de um policial, as chances de uma pessoa ser assassinada na mesma região no dia seguinte é quatro vezes maior.
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