Na sala de visitas da Febraban, só políticos bolsonaristas

De Arthur Lira a Ciro Nogueira e João Roma, aliados do presidente tomam cafezinho com os banqueiros.


A Febraban, entidade que reúne e faz o lobby dos banqueiros brasileiros, alardeou em comunicado à imprensa ontem uma “visita de cortesia visita de cortesia do deputado João Roma, ex-ministro da Cidadania e relator da Medida Provisória 1106/22, que trata do programa Auxílio Brasil”.

Roma é colega de Jair Bolsonaro no PL e deixou o ministério para ser o principal cabo eleitoral do presidente na Bahia, estado em que Lula tem larga vantagem na preferência do eleitorado. Deputado federal e pré-candidato a governador, Roma mandou instalar pelo interior do estado outdoors em que diz estar “junto a Bolsonaro pelo Auxílio Brasil de R$ 400”.

A visita, como de hábito, foi fechada à imprensa. Mas o tête-à-tête com Roma não foi o primeiro com políticos de alto escalão que Isaac Sidney Menezes Ferreira, o presidente da Febraban, teve desde o início de 2021, quando passou a manter “encontros periódicos com representantes dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário”.

Desde então, passaram pela sala de visitas do sindicato dos banqueiros os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, do PP de Alagoas, do Senado, Rodrigo Pacheco, do PSD mineiro, e um punhado de ministros bolsonaristas: Ciro Nogueira, da Casa Civil, do PP do Piauí e do Centrão; Marcelo Queiroga, da Saúde, auto-denominado o “Bolsonaro de jaleco”; Tarcísio Gomes de Freitas, à época na Infraestrutura e agora pré-candidato ao governo de São Paulo pelo Republicanos; e Anderson Torres, o delegado da Polícia Federal que é filiado ao partido de Bolsonaro e ministro da Justiça ao mesmo tempo.

Além deles, também bebeu um cafezinho na Febraban Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil indicado por Bolsonaro e sujeito que se sente à vontade para servir de cabo eleitoral do capitão reformado junto ao empresariado. A lista chama a atenção por isso mesmo: não há um único nome da oposição, nem mesmo da auto-denominada terceira via.

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Outdoor de pré-campanha de João Roma e Bolsonaro em Santo Amaro, cidade do Recôncavo Baiano.

Foto: Rafael Moro Martins

Eu perguntei à Febraban o que houve: se foi falta de pedido de audiência ou se os pedidos dessa turma foram simplesmente esnobados. A instituição confirmou que só recebeu os políticos listados acima. Tentou aliviar, no entanto, afirmando que seu presidente já participou de “eventos” com presidenciáveis como a senadora Simone Tebet, do MDB do Mato Grosso, os ex-governadores tucanos João Doria e Eduardo Leite e o ex-bolsonarista Sergio Moro, do União Brasil.

Mas os encontros como o com João Roma parecem ser de outra natureza: “são institucionais entre o setor e representantes dos três poderes”, disse a assessoria, que garante que “a instituição não hesita em fazer críticas ao governo”. Horas depois, a assessoria voltou a fazer contato para reafirmar que a Febraban “tem interlocução com todas as forças políticas” e que “se posiciona sempre que interesses do setor bancário são prejudicados”. Por setor bancário, leia-se banqueiros.

Isaac Sidney, hoje presidente do sindicato dos bancos, curiosamente fez carreira como servidor concursado do Banco Central, responsável por – veja só – fiscalizar a turma. Em mais um caso de porta giratória no governo federal, ele deixou de ser diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do BC, em 2018, e em maio de 2019 já era vice-presidente da Febraban. Sidney passou a presidir a entidade em março de 2020.

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