Diante da possibilidade de ter a cassação de seu mandato pedida pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar nesta terça, o deputado estadual Arthur do Val, do União Brasil, fez o que é esperado de um membro fundador do Movimento Brasil Livre: incitou, em um grupo de Telegram, que seus apoiadores fizessem pressão sobre os parlamentares que compõem o grupo.
Em áudio enviado pela manhã, ele explicou que estava chegando adiantado à Assembleia Legislativa de São Paulo, a Alesp, com um objetivo específico. “Vou tentar ver se eu encontro alguns deputados do Conselho de Ética antes [da votação]. Vou ver se encontro alguém aqui pra tentar conversar e convencer”, fala.Na sequência, do Val enviou uma lista com os nove deputados que compõem o Conselho, seus e-mails, perfis no Instagram e números de telefone dos gabinetes, pedindo aos apoiadores que entrassem em contato. “É muito importante quem estiver aí, dar uma ligada nos gabinetes, pedir com educação para que reconsiderem, para que pelo menos deem mais um tempo pra gente poder conversar e entender a pena mais justa. Para que isso não seja feito hoje, a toque de caixa, às pressas.”
Ao enviar a lista dos deputados, ele faz um adendo: “SEM XINGAR!”. Não é o modus operandi padrão da extrema direita brasileira nem o do próprio MBL.
Ao longo do dia, parlamentares começaram a denunciar que estavam recebendo ameaças. A assessoria da deputada Marina Helou, da Rede Sustentabilidade, confirmou ao Intercept ter recebido muita pressão em todos os seus canais de comunicação, além de “ameaças de que vão [nos] perseguir para não permitir a reeleição” da parlamentar. O caso não é isolado. “Pelo que conversamos entre as assessorias, todos os membros do conselho também têm recebido ameaças similares”, relatou a assessoria.
De todo modo, a pressão de nada adiantou. A cassação de Arthur do Val, agora um pedido do Conselho de Ética, será levada ao plenário da Alesp. Basta uma maioria simples de votos (isto é, a metade mais um voto) para que Mamãe Falei perca seu mandato e fique impedido de disputar outras eleições por oito anos.
Correção: 12 de abril, 18h30
Uma versão anterior deste texto informava incorretamente que Arthur do Val poderia ficar inelegível até 2032. O correto são oito anos. O texto foi corrigido.
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